Julio Gomes

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Demissão de Ramón Díaz, aplausos a Bruno Henrique e a loucura que não acaba

Como pode ser demitido um técnico após tirar o Corinthians do rebaixamento, depois conquistar o título paulista, acabando com uma fila de seis anos, e salvar seguidamente a pele do presidente enrascado do clube?

Como pode um grupo (bastante significativo) de torcedores gritar o nome de um jogador e exaltar quem forja e corrompe o jogo? Aqui, claro, estou falando de Bruno Henrique e levo em conta, sim, o direito de defesa do jogador e o fato de o processo ainda estar em andamento, mas levo em conta também que as provas coletadas são para lá de robustas.

Aliás, lembro-me bem de muita gente desconfiar não só do amarelo, mas do vermelho absurdo levado por Bruno Henrique naquela partida contra o Santos.

E aí, a torcida do Flamengo, então, está de boa com isso?

E no Corinthians? Quer dizer então que Memphis Depay abre o bico e rapidamente os desejos são atendidos. Na falta de um Neymar no futebol brasileiro, arrumamos logo dois. Não à toa, são amiguinhos. É a casta geracional de super estrelinhas, que só aceitam que as coisas sejam do jeito que eles querem.

A demissão de Ramón Díaz é uma cretinice. Não que ele seja o novo Rinus Michels, mas é inacreditável o nível de ingratidão e de imediatismo que marcam as gestões do futebol brasileiro.

E, voltando ao outro tema, a exaltação a um jogador que provavelmente fez o que fez, e possivelmente ainda nem entenda ou concorde sobre a gravidade do ato, é uma outra loucura. É o universo em que o suposto amor pelo clube fura como uma lança qualquer tipo de ética ou valor. Que se dane que Bruno Henrique tenha feito gols ou dado títulos para o Flamengo, não se pode aplaudir um sujeito com uma suspeita deste tamanho em cima dele. Não poderia nem entrar em campo.

Se não quiser vaiar, não precisa. É justo esperar pelo julgamento do caso. Mas aplaudir.... ? Por favor.

E nem irei cair na tentação de dizer "puxa vida, mas com tanto dinheiro, não poderia ter só ajudado o irmão, sem querer roubar dinheiro da casa de apostas?". Porque não é o dinheiro na conta que importa. Poderiam ser 1, 2 ou 5 reais. Aqui, o que está em jogo não é a condição de Bruno Henrique, que lhe permitiria fazer isso ou aquilo. Se ele fosse pobre, estaria errado do mesmo jeito. O que está em jogo é fazer o certo.

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Como também tem de se fazer o certo quando se controla o orçamento de um clube de futebol que deve dinheiro para todo lado, inclusive para mim e para você, pois deve para banco público. Aqui me refiro ao Corinthians, que vai arrumar mais um técnico demitido para pagar.

É a loucura em que vivemos. Um mundo de cabeça para baixo, em que qualquer idiota com um telefone na mão acha que pode falar qualquer coisa, um mundo em que o conhecimento não serve para mais nada e as hierarquias, então, menos ainda. No futebol, tudo se acentua sob o disfarce da paixão. Não há caminhos, valores, respeito. Há, apenas, a descrença. O mundo gira, mas seguimos parados.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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