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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Desastre é consumado, Barcelona está fora da Champions de novo. E agora?

Robert Lewandowski, do Barcelona, em jogo pelo Campeonato Espanhol - Alex Caparros/Getty Images
Robert Lewandowski, do Barcelona, em jogo pelo Campeonato Espanhol Imagem: Alex Caparros/Getty Images

26/10/2022 15h45

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A Inter de Milão fez a obrigação, venceu o Viktoria Pilsen por 4 a 0 e está classificada, junto com o Bayern de Munique, no "grupo da morte" da Liga dos Campeões. E quem acabou morto foi o Barcelona, eliminado novamente na fase de grupos. Algo que não acontecia havia duas décadas acontece agora por duas vezes seguidas, e o Barça vai se submeter a uma nova humilhação - jogar às quintas-feiras na Europa League.

O mais incrível é que, desta vez, o Barcelona foi eliminado ainda com duas partidas por jogar. O clássico contra o Bayern de Munique, nesta quarta, transformou-se em mera formalidade. Um jogão que simplesmente não vale nada.

O Barcelona foi acometido por gestões financeiramente temerosas nos últimos 10 anos. A contratação de Neymar, que está sendo avaliada pelos tribunais espanhóis, foi apenas o início de uma série de picaretagens e maus gastos por parte do clube catalão. Quando veio a pandemia, ficou escancarado como o clube gastava muito mais do que devia. O presidente que nunca deveria ter virado mandatário de um clube deste tamanho, Bartomeu, foi afastado.

Laporta, o presidente que havia levado o Barça ao topo lá no ciclo 2004-2006, voltou ao poder e adotou no meio deste ano uma estratégia para lá de arriscada. Adiantou verbas de TV das próximas décadas - por um valor ao melhor estilo "liquidação" -, vendeu ativos do clube e apostou nos resultados esportivos. Alavancou grana. Trouxe Lewandowski, Raphinha, Koundé e mais gente, não conseguiu se livrar de salários vultuosos, renovou alguns contratos discutíveis, tudo em nome de ganhar já, agora, de lotar o Camp Nou e chegar longe nos torneios.

O tiro já saiu pela culatra. Nos planos do Barcelona, era necessário pelo menos chegar às quartas de final da Champions - o time perderá as verbas das oitavas, das quartas e, claro, o valor que receberia de bilheteria. É um preju gigantesco, de mais ou menos 20 milhões de euros (por baixo). Prejuízo que, depois da estratégia arriscada de investimento no verão, simplesmente não poderia acontecer.

Sobra seguir na disputa de La Liga com o Real Madrid e convencer o público a lotar o Camp Nou semana sim, semana também.

O que será do Barcelona? No começo da temporada, eu disse aqui no UOL que o grupo da morte poderia significar literalmente a morte do Barça. Muitos acharam exagero. Não é. Eu não estou dizendo que o clube deixará de existir, mas talvez deixe de existir no formato que conhecemos. O Barça não tem como se manter saudável financeiramente com este novo desastre europeu. Vai fechar as portas? Claro que não. Só enxergo dois caminhos para o Barcelona.

Um deles é apertar o acelerador da Superliga, em parceria com o Real Madrid. É implodir a Champions e adiantar grana de uma nova competição, em que ele seria protagonista. Mas, após a tentativa frustrada de nascimento da tal Superliga e a péssima recepção da opinião pública em alguns centros, como fazer para convencer os ingleses a voltarem ao barco? Como trazer PSG e Bayern?

Se a Superliga não sair, o Barcelona fica à beira do abismo. A solução seria, então, vender o clube ou parte dele. "Virar SAF", como estamos nos acostumando a dizer aqui no Brasil. Só que o estatuto do Barça não permite isso, o clube pertence aos sócios, é um patrimônio da Catalunha e, em teoria, não poderia ser vendido. Se isso acontecer eventualmente, terá sido, sim, a morte do Fútbol Club Barcelona. E aí veremos o que surgirá no lugar.