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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Um ano depois, Atlético e Palmeiras chegam ao mata-mata em situação inversa

03/08/2022 04h00

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O favoritismo do Palmeiras para o duelo contra o Atlético-MG é inegável, mas não garante absolutamente nada. Há algumas coisas fáceis de dizer no futebol: este ou aquele é favorito, este ou aquele pode ganhar. São fáceis, porque é assim. No futebol, previsões são perigosas, ainda mais quando se trata de um clássico nacional ou um duelo com jogadores decisivos dos dois lados. Porque o futebol também tem isso: o coletivo importa, e muito, mas acertos e erros individuais podem decidir isoladamente qualquer jogo, qualquer eliminatória.

Se olharmos tudo o que aconteceu em 2022, está claro que o Palmeiras pode ser considerado favorito. Mas o Atlético tem tudo o que é necessário para fazer a análise ser apenas isso e não virar premonição.

No ano passado, eu dizia que era 50-50 o duelo entre Atlético e Palmeiras, pelas semifinais da Libertadores - eu ia, pois, contra a maré. Pela tradição e pela capacidade defensiva do Palmeiras, que já era o vigente campeão da América. Mas era óbvio que o Galo era um time que jogava melhor.

E jogou melhor. E não passou porque o futebol é o futebol. Abel é um grande técnico de futebol, mas seus acertos foram flanqueados por eventos como o pênalti perdido por Hulk, a lesão de Diego Costa ou o 2 a 0 desperdiçado por Vargas no Mineirão.

Em 2022, o mesmo duelo pela Libertadores, com os mesmos treinadores e menos de um ano de diferença para a semifinal de 2021, as situações estão nitidamente invertidas.

De novo, eu poderia falar que é 50-50? Poderia. Porque o time mais desacreditado do confronto é simplesmente o atual campeão brasileiro e da Copa do Brasil, era quem melhor jogava no continente alguns meses atrás. Alguns meses não são só alguns meses no Brasil. São um mundo de tempo. Tempo suficiente para o técnico que levou o Galo a tudo aquilo sair e voltar, por exemplo.

Tempo suficiente para o Palmeiras se transformar em um time mais completo do que o que ganhou duas vezes a Libertadores. O Palmeiras de Abel ganhou dimensões, camadas, e já demonstrou que pode ganhar jogos realmente de formas diferentes, não só se defendendo bem e fazendo a transição em velocidade com perfeição. Não consigo, hoje, dizer que é 50-50. A classificação palmeirense seria mais lógica.

A inversão não se dá apenas na situação de cada um no Brasileiro (o Galo liderava e seria campeão ano passado, o Palmeiras lidera e possivelmente será campeão neste ano), na estabilidade e no favoritismo. Ela se dá também em relação ao que esperar de cada time.

Do Atlético, sabíamos exatamente o que esperar no ano passado. Já o Palmeiras era uma incógnita tática, tanto que jogou de um jeito no Allianz, outro (três zagueiros e dois volantes) no Mineirão. Felipe Melo se destacou na eliminatória. Agora, sabemos exatamente o que esperar do Palmeiras, que só tem uma mudança (López no ataque, pela ausência de Rony). E o Galo é quem gera interrogações, até pelas ausências relevantes de Allan e, provavelmente, Arana e Zaracho. Hulk é outra interrogação. Não a presença dele, mas a bola que jogará.

Essas incertezas do Galo são péssimas para Cuca, é claro. Mas são ruins também para Abel, um cara tão racional que navega melhor em mares conhecidos do que desconhecidos.

Na Live do Canal UOL anterior aos jogos da Libertadores, com os comentários de Mauro Cezar Pereira e Rafael Oliveira (link aqui e vídeo lá no topo da página), a aposta dos três comentaristas foi por um 0 a 0, o mesmo placar do Allianz na ida do ano passado. Por que? Porque ninguém quer sair eliminado e correr grandes riscos no Mineirão. Foi o resultado, diga-se, do chatérrimo jogo entre os dois times pelo primeiro turno do Brasileiro.

É uma leitura que pode, claro, se concretizar ou pode ir por água abaixo, dependendo de qualquer evento de relevância. Jogadores que podem fazer estes palpites explodirem não faltam.