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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

De gênio a dinheirista: Mbappé escolhe a França e desperta a fúria em Madri

Kylian Mbappé comemora um de seus gols pelo PSG contra o Strasbourg no Campeonato Francês - Patrick HERTZOG / AFP
Kylian Mbappé comemora um de seus gols pelo PSG contra o Strasbourg no Campeonato Francês Imagem: Patrick HERTZOG / AFP

21/05/2022 13h30

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O mundo inteiro achava que Mbappé jogaria no Real Madrid - possivelmente, ele também. Mas as coisas mudaram, e será feito hoje o anúncio do "fico". De repente, Mbappé virou inimigo público número 1 do madridismo. Em vez de "futuro Bola de Ouro", Mbappé é agora um mero dinheirista, um mercenário.

Nas palavras de Tomás Roncero, um caricato colunista do diário "As", madridista declarado, Mbappé escolheu ser "um perdedor".

Está claro que a dinheirama derramada derramada diretamente do banco do Catar para a conta da família faz muita diferença na tomada de decisão - afinal, Mbappé sempre deixou claro que o sonho de criança era vestir a camisa branca do Real. Mas não é só grana, até porque o Real Madrid não estava oferecendo exatamente paellas e sangrias como pagamento. A coisa tomou contornos maiores.

Virou uma "questão nacional" para a França segurar o maior jogador do país no clube da capital - e vamos lembrar que o fisco francês está também esfregando as mãos com a mordida que dará no salário de 100 milhões de euros anuais (segundo especulações). Não que a opinião pública local importe, mas a ditadura do Catar também precisava evitar o vexame que seria perder Mbappé em ano de Copa do Mundo no país.

Até o presidente da República foi envolvido na operação de "convencimento". Pelo jeito, só Mbappé mesmo queria sair e provavelmente a mãe dele e outros agentes envolvidos devem tê-lo convencido de que jogar no Real Madrid ainda seria uma possibilidade daqui dois ou três anos - de fato, Kylian tem só 23.

A decisão é esportivamente muito discutível. Mas tampouco pode ser chamada de absurda.

Afinal, o que vimos nesta temporada? Vimos o Real Madrid ser campeão espanhol, chegar à final da Liga dos Campeões e mostrar ao mundo o peso desta camisa. Não há herói maior que o clube. Há, sim, grandes jogadores escrevendo páginas do livro mais glorioso do futebol europeu.

O PSG nem livro tem ainda, está no rascunho. O clube tem só 50 e poucos anos de vida, o Real já tinha seis Copas da Europa quando o Paris foi fundado. E, convenhamos, a história só passou a chamar alguma atenção desde a transformação em clube-Estado, 10 anos atrás. Mbappé tem a chance de escrever o livro em primeira pessoa, não só ser "mais um". De fato, dizem que, pelo novo contrato, ele vai poder até escolher técnico, aprovar e vetar transferências. Leonardo é a primeira via, será dispensado. O PSG meio que passa a ter um jogador-proprietário a partir de agora.

"Ah, mas vai jogar na porcaria do Campeonato Francês". É fato. Ele precisa, talvez, usar a grana que vai ganhar para comprar jogadores para os outros times. Mas o objetivo é mais do que claro, é ganhar a Champions League, e ele terá Neymar e Messi ao lado por mais alguns anos. Aliás, a partir de agora o "Champions é obrigação", que era um carimbo na testa de Neymar, virou uma tatuagem na de Mbappé.

Florentino Pérez deve estar louco da vida. O Real Madrid ajustou as finanças, com pandemia no meio, para fazer a contratação do jogador que promete ser o mais dominante da Europa nos próximos anos. Deixou passar oportunidades como Haaland, que foi para o Manchester City.

Espanhóis e franceses nunca se deram muito bem, e a rivalidade esportiva, que inclui acusações até de doping, cresceu nos últimos anos. Mbappé virou uma questão diplomática. E escolheu um lado. Por mais dinâmico que seja o futebol, difícil imaginar que, no futuro, possa defender o outro.