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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Olimpíada: Clubes não são só vítimas e brigam contra vontade dos jogadores

Pedro comemora gol pela seleção olímpica - Ricardo Nogueira/CBF
Pedro comemora gol pela seleção olímpica Imagem: Ricardo Nogueira/CBF

17/06/2021 12h44

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A CBF anunciou a convocação para a seleção olímpica. A grande surpresa é a presença de Daniel Alves, que claramente escolheu estar nos Jogos. Há ausências importantes, todas elas por não haver a liberação dos clubes. A maior das tretas? A convocação de Pedro. O Flamengo promete não liberar.

A forma simplista de olhar para tudo isso é estabelecer que há uma queda de braço entre CBF e clubes. Uma disputa que está se dando em várias frentes, com o afastamento de Caboblo e a tentativa (mais uma) de criar a tal liga de clubes, tirando a CBF do comando do Brasileirão.

Mas o buraco é mais embaixo.

Primeiro, tem muita gente ignorando que os jogadores preferem estar com a seleção brasileira do que com os clubes. Não importa o clube, se é europeu ou brasileiro, se é teu time do coração, caro leitor, ou não. Jogador de futebol cresce sonhando com a seleção brasileira. Gosta do ambiente, do pagode, da pressão, de vestir a camisa amarela. Aliás, não é isso o que sempre pedimos?

Pode ser que o torcedor de futebol dê cada vez menos bola para seleção. Interprete cada vez mais que a seleção seja um problema para seu clube. Não era assim no passado, mas é assim hoje. Só que uma coisa não mudou: os jogadores preferem a seleção.

Então, quando falamos em queda de braço entre CBF e clubes, não podemos ignorar que a queda de braço se dá, por tabela, entre clubes e seus próprios assalariados - no caso, os atletas.

Se dependesse de Neymar, ele estaria na Olimpíada, e não no início da longa temporada do PSG. Perguntem ao Pedro se ele prefere ficar no banco em meia dúzia de jogos do Flamengo ou ir tentar ganhar a medalha de ouro no Japão. Para o Daniel Alves, nem é preciso perguntar, creio.

Tem outra coisa aí. Nem haveria esse debate, não fosse o calendário bizarro do futebol brasileiro. O nosso campeonato é o único que não para durante Copa do Mundo, Copa América, Olimpíada, data Fifa, etc. Isso é culpa da CBF? É também. É culpa dela, é culpa das federações e é culpa, obviamente, dos clubes. Se houvesse mais gente interessada no bem do futebol e menos ganhando dinheiro com futebol, talvez as coisas fossem diferentes.

Os clubes se fazem de vítimas agora, mas são também vilões deste cenário todo. Aliás, clubes nunca têm problemas com Olimpíada quando entendem que a vitrine é mais valiosa do que a perda técnica.

Os clubes europeus não ficam devendo salário, têm um calendário decente e se colocam em posição de proibir ou liberar jogadores para disputar Olimpíadas. Já houve negociações no passado. Vários clubes já entenderam no passado e entendem no presente que o melhor a fazer é agradar sua estrela e liberá-la (vide Neymar-Barcelona em 2016, entre outros). Outros não têm a mesma visão, como o Real Madrid, que não liberou Rodrygo para Tóquio.

Os clubes brasileiros têm um telhado de vidro tão grande que fica difícil querer se fazer de coitadinho nessa história toda. Além do mais, repito, tudo passa muito pela vontade dos caras. E o que os caras gostam mesmo é de vestir a amarelinha.