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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Molecagem de Marinho e sufoco: Holan bebe o suco de Brasil

Técnico Ariel Holan comanda o Santos contra o San Lorenzo, pela Libertadores - Ivan Storti
Técnico Ariel Holan comanda o Santos contra o San Lorenzo, pela Libertadores Imagem: Ivan Storti

14/04/2021 12h01

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É nas derrotas que se aprende. O Santos não perdeu para o San Lorenzo, mas quase. Classificou-se para a fase de grupos da Libertadores, crucial para as finanças do clube, passando um sufoco que não deveria ter passado. Ariel Holan tem em mãos um farto material para estudar. Foram erros e mais erros, de técnicos aos de atitude.

O argentino que jogou e treinou hóquei sobre a grama, sempre com a intenção de trabalhar com futebol, fez um caminho longo e tortuoso até chegar onde queria. Diz Holan que muitos dos atributos necessários para um treinador são comuns a vários esportes - o principal deles, saber lidar com pessoas. Gerenciar sucessos, fracassos, problemas, relações.

O 2 a 2 entre Santos em San Lorenzo, ontem, em Brasília, possibilitou a Holan embriagar-se com um belo suco de Brasil.

O Santos vencia por 2 a 0, tinha um a mais em campo, 5 a 1 no agregado da eliminatória e simplesmente resolveu sentar no resultado e esperar o tempo passar. Ao jovem time santista, faltou leitura de jogo. E faltou um "técnico dentro do campo", um ou mais jogadores experientes, para que a leitura fosse feita e o time atuasse em função do que o momento pedia.

O San Lorenzo cresceu, empatou e só não virou o jogo porque João Paulo fez três defesas espetaculares nos minutos finais. Ninguém conseguiu fazer o Santos enxergar que era necessário por a bola no chão, acalmar, trocar passes, esperar o tempo passado de forma muito mais segura e controlada. Faltou também disciplina na hora de concretizar em gols os vários contra ataques possibilitados por um adversário que tinha um jogador a menos e nada a perder.

Deste jogo, Holan pode tirar muito mais lições do que da vitória em Buenos Aires. Os escanteios todos machucaram o Santos e geraram bons momentos para o adversário, que foi também mais intenso e organizado no segundo tempo. As saídas de bola santistas ainda estão dando muita margem de erro, os meio campistas precisam recuar mais para que este jogo flua desde trás e a bola não vá parar nos pés inimigos. É necessário treinar mais.

Por fim, Holan pode estudar e tentar entender que diabos se passa pela cabeça de um jogador de futebol chamado Marinho. Que não é nenhuma estrela mundial (não que isso justificasse o que ele fez), que nem tem uma história tão longeva assim no Santos e que está nitidamente fora de ritmo de jogo.

Mas que não aceita ser substituído, xinga o técnico e se recusa a cumprimentá-lo. Marinho proporcionou uma cena horrorosa, absurda, que mancha a história dele.

Jogadores estão de cabeça quente e nunca querem ser substituídos - o próprio Holan, na coletiva, colocou panos quentes sobre a história. Mas há limites, e Marinho aniquilou todos eles.

Além de ter de aprender o idioma, conhecer uma cultura nova à distância (se protegendo por causa da Covid) e fazer escolhas para um time dizimado por lesões no meio de campo, Holan vai ter que aprender a lidar com chiliques de pseudo-estrelas.

Bienvenido, profe.