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Julio Gomes

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Real x Barcelona: Gigantes saem da depressão e voltam a inspirar confiança

Casemiro marca Messi no clássico entre Real Madrid e Barcelona - Curto De La Torre/AFP
Casemiro marca Messi no clássico entre Real Madrid e Barcelona Imagem: Curto De La Torre/AFP

10/04/2021 04h00

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Depois de muito tempo, Real Madrid e Barcelona voltam a se enfrentar em um clássico (16h de Brasília) cercado de boas expectativas. Não foi o caso dos últimos, como lembrarei neste post.

Até mesmo as escalações geram ansiedade e curiosidade. O Barça vinha atuando bem com o novo 3-4-3 de Koeman, com três atrás e Messi, Griezmann e Dembélé livres à frente, apoiados pelos laterais. Mas a imprensa catalã especula que uma possível volta de Piqué ao time possa mandar Griezmann para o banco.

Do lado do Real, também há mistério - até porque o clássico está ensanduichado entre os duelos de Champions contra o Liverpool. Zidane também havia encontrado uma boa solução com três zagueiros, mas a equipe funcionou bem nos 3 a 1 contra os ingleses, com linha de quatro atrás, Asensio, Vinícius Jr e Benzema à frente do trio tradicional de meio de campo. Será que ele voltará a atuar com linha de três, usando Marcelo e sacando um dos atacantes?

O desenho tático é o mistério antes de um jogo que promete. Os dois gigantes alcançaram o claudicante Atlético na classificação e voltaram a sonhar com o título espanhol. Não é match point para ninguém, os técnicos não estão questionados, o Real parece ser um time de futuro e o Barça vai deixando a crise institucional para trás. Esta é a fotografia do momento.

Em 2021, o Barcelona soma 13 vitórias e 1 empate (gol sofrido no fim contra o Cádiz) na Liga espanhola. Está invicto no campeonato desde 5 de dezembro (16 vitórias e 3 empates), além de estar na final da Copa do Rei e ter feito uma partida de volta digna contra o PSG, apesar da eliminação na Champions.

A série do Real, com Liga e Champions, é de 10 vitórias e 2 empates. A última derrota foi para o Levante, em 30 de janeiro.

O fato é que os dois gigantes chegam muito bem para o duelo, que pela primeira (e possivelmente última) vez será disputado no acanhado Alfredo Di Stéfano, o estádio do CT do Real - que está sendo usado em tempos de pandemia enquanto o Santiago Bernabéu passa por uma enorme reforma.

Estádio pequeno, jogo grande.

Dominantes na Europa na década passada, com vários títulos, finais e semifinais de Champions League, Real e Barça parecem vulneráveis. Estão vulneráveis. Nas últimas duas Champions, nenhum deles esteve sequer nas semis - na atual, o Real ainda pode chegar. No Campeonato Espanhol, por mais que a diferença tenha caído bastante, o líder ainda é o Atlético.

Nos últimos três confrontos, os dois da temporada 19/20 (ainda com público) e o do turno da temporada atual, em outubro, o superclássico não despertou o mesmo frenesi mundial de outrora. Não eram timaços espetaculares, que o planeta inteiro estava disposto a parar para ver. Foi uma década inteira de jogaços, decisivos, grande parte deles com o duelo paralelo entre Messi e Cristiano Ronaldo, dois dos melhores da história.

Uma hora, o nível teria que baixar. E baixou.

Em 18 de dezembro de 19, o horroroso empate por 0 a 0 no Camp Nou foi o primeiro superclássico sem gols desde novembro de 2002 (49 jogos seguidos).

Em março do ano passado, quando a pandemia já havia sido declarada, mas os eventos esportivos seguiam com público, o Real Madrid venceu por 2 a 0. Foi o clássico de Vinícius Jr, que marcou o primeiro gol (decisivo) e fez bela partida. Mas, Vini Jr à parte, foi um jogo fraco, sem brilho, sem pegada, monótono, até.

O Real vinha de derrota para o Manchester City (1-2) na Champions e, pela Liga, derrota para o Levante e empate em casa com o Celta de Vigo. Eram três derrotas em cinco jogos, pois teve a eliminação na Copa do Rei antes. Era uma espécie de match point para o Real salvar e mesmo para Zidane, depois de ter deixado Kroos fora do crucial jogo contra o City.

Com o triunfo, o Real recuperava a liderança do Espanhol. O Barça, de Quique Setién, não emocionava ninguém. E derreteu de vez quando o futebol voltou em junho, após a parada pela pandemia.

Com o empate por 0 a 0 no Camp Nou, em dezembro, e a derrota por 2 a 0 no Bernabéu, o Barcelona passou o campeonato passado inteiro sem fazer um gol sequer em seu maior rival. Desde quando isso não acontecia? Desde a temporada 74/75. Não ficava sem marcar um gol no Bernabéu desde a temporada 2006/2007.

O terceiro clássico da série mais recente foi o último, disputado em outubro, no turno do atual campeonato, com vitória por 3 a 1 do Real em um Camp Nou vazio. Este era um jogo com menos expectativas ainda que os dois anteriores, mas acabou sendo uma boa partida.

Aqui neste blog, no texto que escrevi após o duelo, chamei de "um jogo surpreendentemente bom" entre "um Barcelona que vive uma das maiores crises institucionais de sua história contra um Real Madrid com um dos piores times de sua história".

O Real vinha de derrotas para o Cádiz e para o Shakhtar, Zidane, de novo, estava contra a parede. O Barça vinha de empate com o Sevilla e derrota para o Getafe. Messi ampliou o seu jejum no clássico para seis jogos. A última vez que marcou foi em maio de 2018, no empate por 2 a 2 - quando Cristiano Ronaldo ainda atuava pelo Real Madrid.

Foram três jogos seguidos que não chamaram muito a atenção. Agora, é diferente. À parte o atrativo natural de ser um superclássico, são dois times em curva ascendente. Vamos ver quem está mais forte.