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Julio Gomes

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Ranking da década de 70: Inter domina o início da era "nacional"

O atacante do Internacional, Jair, comemora junto aos torcedores colorados a conquista do Campeonato Brasileiro de 1979 - Arquivo/AE
O atacante do Internacional, Jair, comemora junto aos torcedores colorados a conquista do Campeonato Brasileiro de 1979 Imagem: Arquivo/AE

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O Cruzeiro de Tostão já havia dado a letra nos anos 60. Mas foi nos 70, depois de três Copas do Mundo vencidas, que o Brasil descobriu de vez que havia vida fora do eixo Rio-São Paulo. O próprio Cruzeiro e o Internacional mostraram ao país que podiam competir de igual para igual com qualquer um —e ganhar.

Foi o início da "era nacional" do futebol brasileiro, que hoje, 50 anos depois, está consolidada. A Taça Brasil, de 59 a 68, não tinha o porte de um Campeonato Brasileiro. O Robertão, a expansão do Rio-São Paulo, foi o embrião. E, a partir de 71, começou a brincadeira oficialmente.

É difícil, muito difícil definir quem é o clube número 1 da década. Eu consideraria um empate, mas não é permitido ficar no muro. E a percepção geral é que o grande time da década foi o Inter, de Falcão, Figueroa, Valdomiro, Lula e cia. Um time que ficou na ponta da língua de muita gente e que é o único, até hoje, a ter ficado entre os quatro primeiros colocados em oito dos Campeonatos Brasileiros de uma mesma década.

O Inter foi campeão em 1975, bi em 1976 e tri em 1979, de forma invicta. É verdade que em 79 quatro dos grandes paulistas abriram mão de jogar o Brasileiro para priorizar o Estadual, o que não tira o brilho da conquista do Colorado.

Só faltou mesmo conquistar a Libertadores —bateu na trave em 1980, perdendo a final para o Nacional, do Uruguai. Mas atenção! Não se dava à Libertadores o peso que se dá hoje, nem perto disso. Em 1977, o torcedor do Corinthians deu graças a Deus quando foi eliminado da Libertadores, pois o que importava mesmo era ganhar o Paulista e sair de uma fila de 23 anos sem títulos.

É claro que o fato de Estaduais serem a coisa mais importante para o torcedor nos anos 70, seguidos do Brasileiro, não faz com que a Libertadores conquistada pelo Cruzeiro, em 1976, não tenha importância. Seria uma estupidez pensar assim. Foi uma conquista enorme!

Só o Santos de Pelé havia conseguido ser campeão da América, e a percepção era que aquele torneio era "propriedade" de argentinos e uruguaios. Mas o Cruzeiro, de Palhinha, Nelinho, Raúl, Jairzinho, Joãozinho e outros conseguiu superar enormes barreiras para conquistar o título em 76 em cima do River Plate (com direito a 4 a 1 no primeiro dos três jogos) e só perder o bi, em 77, nos pênaltis no jogo desempate contra o Boca Juniors.

Nas duas campanhas, de 76 e 77, o Cruzeiro deixou o Inter pelo caminho. Um destes jogos de fase de grupos, em março de 76, é reconhecido como um dos maiores —se não o maior— da história do Mineirão: 5 a 4. As vitórias na Libertadores foram uma espécie de vingança, já que o Inter havia vencido os mineiros na final do Brasileiro de 1975. Um ano antes, o Cruzeiro havia perdido a decisão para o Vasco de forma controversa —com mando de campo invertido e arbitragem polêmica.

Importante frisar também que, em 73, o Cruzeiro havia inaugurado a Toca da Raposa, o primeiro centro de treinamentos para futebol profissional, um passo enorme na transformação do esporte por aqui. O Inter também se beneficiava da inauguração do Beira-Rio, em 1969.

Se estes mesmos resultados tivessem ocorrido nos tempos de hoje, eu colocaria o Cruzeiro no topo da lista —afinal, a Libertadores virou a coisa mais importante para qualquer torcedor. Mas, nos anos 70, o domínio exercido pelo Inter no seu quintal (com sete títulos gaúchos) junto com o domínio nacional fazem dele o time da década. A equipe de 75/76, de Rubens Minelli, era indiscutivelmente a melhor do país —uma entrevista de Mauro Beting com Minelli aqui mesmo no UOL é um grande registro histórico daquele time.

Palmeiras, São Paulo e Atlético Mineiro também tiveram timaços ao longo da década. O Palmeiras, de Ademir da Guia, viveu a "Segunda Academia", conquistando o bi brasileiro em 72 e 73. O São Paulo finalmente conseguiu concluir o Morumbi em 1970, montou timaços, com Pedro Rocha, Gérson e outros, e voltaria a ganhar títulos paulistas e seu primeiro brasileiro, em 77. Antes disso, em 74, bateu na trave ao perder a final da Libertadores —só voltaria à decisão nos anos 90.

A final de 77, em jogo único, havia sido nos pênaltis contra o Atlético-MG, que acabou perdendo o título de forma invicta. O torcedor do Galo lembra-se até hoje da polêmica suspensão que deixou Reinaldo fora da decisão —o único jogo do campeonato em que o Atlético não fez gols. O Galo havia sido campeão do primeiro Brasileirão (chamado assim), em 71, e foi campeão de quatro Mineiros, desafiando o Cruzeiro, que ganhou cinco.

O futebol carioca teve Flamengo e Fluminense dominando o Estadual, com cinco títulos cada. O Vasco chegou a duas finais de Brasileiro, ganhando a de 74 sobre o Cruzeiro e perdendo a de 79 para o Inter, mas a nível estadual ganhou só um campeonato, perdendo cinco finais. No fim da década de 70, surgia o Flamengo de Zico, que dominaria o futebol brasileiro nos 80.

A década marcou também o primeiro título de um time do interior, o Guarani de Campinas, de Careca, Renato e Zenon. A Ponte Preta chegou a duas finais paulistas, em uma delas perdendo para o Corinthians —o famoso gol de Basílio quebrou o jejum e representou o que muitos corintianos consideram a maior conquista da história do clube (o que também nos ajuda a entender o peso dos Estaduais na época).

O Santos viu Pelé ir embora em 1974. Antes disso, dividiu um título paulista com a Portuguesa e, sem Pelé, ganhou só mais um troféu, em 78. Um título nacional só voltaria a chegar em 2002, na década de renascimento do clube da Vila.

Em âmbito estadual, houve alguns domínios históricos. O Bahia ganhou oito vezes o Estadual; o Coritiba conseguiu o único hexacampeonato da história do Paraná; o Santa Cruz, em Pernambuco, o único penta de sua história; assim como o CRB, que foi tetra só uma vez em Alagoas, levando seis títulos na década de 70; o Ceará ganhou sete títulos e nunca mais ficou atrás do rival Fortaleza na lista de campeões cearenses; destaque também para o Joinville, que começou nos anos 70 uma série de 10 títulos catarinenses em 12 anos; no Maranhão, o Sampaio Corrêa levou cinco canecos e, na Paraíba, o Campinense conquistou seis.

RANKING DA DÉCADA DE 70:

#1 Internacional
3 - Campeonatos Brasileiros (1975, 1976 e 1979)
7 - Gaúchos (1971 a 1976 e 1978)
1 - Vice Libertadores (1980)
*Convocações para as Copas - 3

#2 Cruzeiro
1 - Copa Libertadores (1976)
5 - Mineiros (1972, 1973, 1974, 1975 e 1977)
1 - Vice Libertadores (1977)
2 - Vices Brasileiros (1974 e 1975)

*Convocações para as Copas - 3

#3 Palmeiras
2 - Campeonatos Brasileiros (1972 e 1973)
3 - Paulistas (1972, 1974 e 1976) - 1 vice
1 - Vice Brasileiro (1978)
*Convocações para as Copas - 8

#4 São Paulo
1 - Campeonato Brasileiro (1977)
3 - Paulistas (1971, 1975 e 1980) - 2 vices
1 - Vice Libertadores (1974)
2 - Vices Brasileiros (1971 e 1973)

*Convocações para as Copas - 5

#5 Atlético-MG
1 - Campeonato Brasileiro (1971)
4 - Mineiros (1976, 1978, 1979 e 1980)
2 - Vices Brasileiro (1977 e 1980)
*Convocações para as Copas - 2

#6 Flamengo
1 - Campeonato Brasileiro (1980)
5 - Cariocas (1972, 1974, 1978, 1979 e 1979) - 2 vices
*Convocações para as Copas - 4

#7 Vasco
1 - Campeonato Brasileiro (1974)
1 - Carioca (1977) - 5 vices
1 - Vice Brasileiro (1979)
*Convocações para as Copas - 3

#8 Fluminense
5 - Cariocas (1971, 1973, 1975, 1976 e 1980) - 2 vices
*Convocações para as Copas - 3

#9 Corinthians
2 - Paulistas (1977 e 1979) - 1 vice
1 - Vice Brasileiro (1976)
*Convocações para as Copas - 3

#10 Guarani
1 - Campeonato Brasileiro (1978)
*Convocações para as Copas - 0

#11 Santos
2 - Paulistas (1973 e 1978) - 1 vice
*Convocações para as Copas - 2

#12 Coritiba
8 - Paranaenses (1971 a 1976, 1978 e 1979)
Semis Brasileiros 79 e 80
*Convocações para as Copas - 0

#13 Santa Cruz
6 - Pernambucanos (1971, 1972, 1973, 1976, 1978 e 1979)
Semi Brasileiro 75
*Convocações para as Copas - 0

Menções estaduais:

Bahia
8 - Baianos (1971 e 1973 a 1979)

Ceará
7 - Cearenses (1971, 1972, 1975 a 1978 e 1980)

Campinense
6 - Paraibanos (1971 a 1974, 1979 e 1980)

CRB
6 - Alagoanos (1972, 1973 e 1976 a 1979)

Sampaio Corrêa
5 - Maranheses (1972, 1975, 1976, 1978 e 1980)

Joinville
4 - Catarinenses (1976, 1978, 1979 e 1980)

Grêmio
3 - Gaúchos (1977, 1979 e 1980)
*Convocações para as Copas - 0

Portuguesa
1 - Paulista (1973) - 1 vice

América-MG
1 - Mineiro (1971) - 1 vice

Ponte Preta
2 - Vices Paulistas
*Convocações para as Copas - 3

Botafogo
1 - Vice Brasileiro (1972)
*Convocações para as Copas - 5

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CLIQUE ABAIXO PARA VER O RANKING DE CADA DÉCADA DO FUTEBOL BRASILEIRO:

DÉCADA DE 40
'Expresso da Vitória' do Vasco e São Paulo de Leônidas marcaram época

DÉCADA DE 50
Grandes pulverizam títulos e futebol do Brasil começa a ganhar o mundo

DÉCADA DE 60
Santos foi o maior quando éramos os maiores

DÉCADA DE 70
Inter domina início da "era nacional" do futebol

DÉCADA DE 80
Flamengo rompe fronteiras e ganha o mundo

DÉCADA DE 90
São Paulo supera concorrência em década 'paulista'

DÉCADA DE 00 (ANOS 2000)
Inter brilha na Libertadores e supera o São Paulo, tri brasileiro

DÉCADA DE 10
Corinthians campeão do mundo; brasileiros dominam Libertadores

Errata: este conteúdo foi atualizado
Ao contrário do informado anteriormente, o Santa Cruz foi campeão pernambucano em 1972.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL