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Julio Gomes

Brasileirão parecia coisa de dois. Agora parece de qualquer um, menos deles

Rogério Ceni orienta Gabriel Barbosa durante derrota diante do Ceará - Jorge Rodrigues/AGIF
Rogério Ceni orienta Gabriel Barbosa durante derrota diante do Ceará Imagem: Jorge Rodrigues/AGIF

11/01/2021 04h00

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O Brasileirão deveria ser um campeonato do Flamengo, dado o que aconteceu em 2019 e o elenco estrelado do time carioca. Mas não foi e nem parece que vai ser. O primeiro turno foi, como sempre, equilibrado. O segundo, em teoria, deveria ser mais "óbvio", mais "lógico". Tudo se encaminhava para uma disputa entre São Paulo e Flamengo pelo título, quem sabe até decidindo na última rodada, no confronto direto entre eles.

Os adversários diretos foram ficando pelo caminho. O Inter, desorientado sem Coudet. O Atlético, instável como nunca. O Palmeiras e o Grêmio, cheios de outros compromissos em fases agudas. O Brasileirão parecia coisa de dois. Agora parece coisa de qualquer um, menos os dois.

O Flamengo não se acertou com Rogério Ceni. Juntem a pressão pela renovação de Diego Alves (cabia ao treinador pressionar a diretoria daquela forma?), a frase de Arrascaeta após a derrota para o Fluminense e a expressão de Gabriel Barbosa no banco, na derrota para o Ceará, e veremos claramente que há problemas. Quais são eles exatamente? Como extra campo e campo estão se autodestruindo? Talvez o tempo nos diga.

Mas o fato é que hoje o Flamengo parece estar deixando de ser um candidato ao título, por mais inacreditável que isso possa parecer. Não tem pontos nem futebol nem paz.

O São Paulo é o líder. Mas, desde as eleições, como esperado e por mais que tenham tentado não fazer besteiras, parece que as coisas mudaram. Eliminação para o Grêmio, derrotas para Bragantino e Santos (reserva) e pronto, a crise voltou. Diniz já não presta, etc. O São Paulo é um barril de pólvora sempre pronto a explodir, isso é o que grandes filas geram em grandes clubes.

Ao contrário do Flamengo, o São Paulo tem pontos. E já mostrou ao longo de 2020 sua capacidade de fazer ajustes quando a vaca parecia estar indo para o brejo. Mas a gordura está sendo queimada.

O Inter também teve a temporada comprometida pelo turbilhão eleitoral. Mas, de repente, ganhou uma injeção de confiança com a vitória sobre o Boca Juniors, na Bombonera. De lá para cá, tudo encaixou, o novembro trágico deu lugar a um dezembro mais iluminado e vieram cinco vitórias seguidas.

De descartado a favorito? Se me dissessem um mês atrás que isso aconteceria, eu rolaria no chão dando gargalhadas. Mas assim é o Brasileirão. Depois do jogo contra o Fortaleza, no fim de semana, o Inter terá sua hora da verdade: confronto direto contra o São Paulo seguido de Gre-Nal.

O Atlético era outro que, após a derrota para o São Paulo, parecia carta fora do baralho. Mas agora é o time de Sampaoli que está se colocando naquela posição de "líder por pontos perdidos". Ou quase isso. Perdeu só um a mais que o São Paulo. No Brasileirão é assim, o negócio é não jogar e esperar os outros de atrapalharem. Se ganhar os jogos a menos, o Atlético está firme de novo na briga - começa hoje à noite, contra o Red Bull, em Bragança.

Nos últimos três meses de futebol, o Galo só encaixou duas vitórias seguidas uma vez - contra Flamengo e Corinthians, no começo de novembro. Não haverá título sem boa sequência. Sampaoli não enfrentará mais seus adversários diretos pelo Brasileirão - exceto o Palmeiras, na última rodada. Mas não sei se isso é má notícia. O Atlético tem sete jogos contra times da metade de baixo da tabela - desesperados, é verdade, mas também inferiores.

Por falar em Palmeiras...

O time mais confiante do Brasil no momento ainda tem confrontos diretos contra São Paulo, Flamengo e Atlético. Mas terá também uma final de Copa do Brasil, uma possível final de Libertadores e, quem sabe, um Mundial para jogar no meio de tudo isso. Dependendo de como o calendário acomodar essa maratona, o Palmeiras tem a chance de fazer barba, cabelo e bigode.

O fato é que São Paulo e Flamengo, com seus tropeços e desencontros, abriram um campeonato que parecia ser coisa deles. Um campeonato cheio de jogos atrasados e com calendário errático até o fim, que dará margem para todos acreditarem. É o Brasileirão de sempre! Não muito bom. Mas ninguém pode reclamar de falta de emoção e imprevisibilidade.