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Julio Gomes

Por que comparar os feitos de CR7 e Messi aos de Pelé incomoda tanto?

06/01/2021 04h00

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Hoje tem Milan x Juventus na Itália, Boca Juniors x Santos em Buenos Aires. Que dois baita clássicos do futebol mundial!

O Santos é um dos três clubes brasileiros da história que conseguiram bater o Boca em uma eliminatória (está 17 a 3 para os Xeneizes, retrospecto que dispensa comentário). Foi lá na decisão de 1963, quando Pelé e companhia ganharam a segunda Libertadores santista. Pelé fez o gol da virada na casa do rival, o gol que sacramentou a Copa.

Foi um dos 762 gols em 832 jogos "oficiais" de Pelé. Com a camisa do Santos, sem dúvida um dos mais importantes. De onde vem o número? Estou usando a informação do post do colega analista aqui no UOL, Rodolfo Rodrigues.

A confusão já começou alguns dias atrás, quando Messi superou, com a camisa do Barcelona, o número de gols que Pelé fez com a camisa do Santos. Sempre levando em conta jogos "oficiais" - que são aqueles por competições, sem valer amistosos.

Hoje, no Milan x Juventus do Campeonato Italiano, Cristiano Ronaldo pode superar o total de Pelé. O português tem 758 gols "oficiais", faltam apenas 4, portanto. É improvável que o faça neste clássico do San Siro, mas o fará logo mais, daqui a alguns dias ou semanas.

Qual a conta que vale? Nessas de jogos "oficiais", são contados, por exemplo, amistosos com as seleções nacionais. Oras, por que amistoso de seleção vale, amistosos de clubes, não? Essa já é uma inconsistência.

É possível olhar por vários ângulos para estes rankings. E acho, sinceramente, que qualquer critério é honesto. Curiosamente, quando Romário e Túlio Maravilha forçaram a barra para chegar aos 1000 gols (segundo eles), houve um certo pandemônio por aqui. "Gol assim não vale! Gol assado não vale!". E eu concordo! Porque entraram nessas listas gols até dos churrascos de domingo solteiros x casados.

Mas agora que a coisa é de Messi x Pelé ou Cristiano Ronaldo x Pelé... rapaz.. estão falando até de colonialismo!

Agora tem que valer tudo! Gol de Pelé de tudo quanto é jeito. Tanto faz se é de final de Copa do Mundo ou com a camisa de um combinado Vasco/Santos ou com alguma seleção do Exército.

É honesto computar jogos oficiais e amistosos (desde que tenham súmula, tenham seguido as regras do jogo e tudo mais) - e, nesse caso, Pelé é para sempre insuperável. E é honesto levar em conta somente jogos que valem alguma coisa, oras. Ou seja, jogos de competição. Esse critério é, sim, muito mais fácil de ser utilizado, os gols são mais fáceis de serem contabilizados. Então é natural que, na Europa, onde o futebol é jogado do mesmo jeito, com as mesmas competições, há muitas e muitas décadas, este seja o critério primordial.

Vocês acham que Cristiano Ronaldo e/ou Messi superarem Pelé em determinado ranking de gols, com o critério "jogos oficiais", seja uma notícia a ser desprezada? O que me espanta é colegas jornalistas, que sabem como funciona uma redação, se espantarem com isso e trazerem racismo, preconceito e colonialismo para a mesa.

Cabe a nós, brasileiros e amantes do futebol mundo afora, deixarmos viva a história de Pelé. E essa história está mais do que contada. Historiadores de primeira, como Celso Unzelte, já cansaram de publicar livros e artigos explicando e contando os gols de Pelé. Sim, o futebol era outro, aqui no Brasil os clubes faziam amistosos, excursionavam, as seleções estaduais jogavam entre si e essas partidas importavam, eram relevantes, etc, etc, etc.

Não vejo por que o incômodo geral por algo tão simples. No critério "jogos oficiais", Pelé será superado, oras. Que tal olharmos para as médias em jogos oficiais? Podemos também estabelecer critérios. Por exemplo: média de gols em jogos oficiais sendo que os jogadores precisam ter marcado um mínimo de 100 gols. Podemos fazer como na atual "Chuteira de Ouro", dar pesos diferentes para gols marcados em ligas diferentes - assim o tal Josef Bican, que ninguém viu jogar, para de atrapalhar também.

A média de Pelé é muito melhor do que as médias de Cristiano e Messi. Será que a gente nunca dá bola para média porque... hummm... porque teve gente melhor? Deixemos para lá essa coisa de média.

Não vejo racismo, não vejo preconceito, não vejo colonialismo. Vejo uma simples notícia, que naturalmente precisa ser dada, gerar um incômodo desproporcional aqui no Brasil. Pelé é o maior jogador de futebol de todos os tempos. Não por causa dos gols oficiais ou não oficiais, mas pelas Copas, pelos títulos, por tudo o que representou, por ter sido o cara que fez toda uma nação ser globalmente conhecida por causa de um esporte - que, olhem só, é o mais popular do planeta.

Pelé não precisa dos chiliques. Aliás, Pelé nem precisava ter colocado lá em alguma rede social o tal "1283 gols marcados, maior artilheiro de todos os tempos". Para quê?

Quem é não precisa falar que é. Basta ser.