A 200 dias da Olimpíada, só uma pergunta importa: Tem sentido?

No dia 4 de janeiro, ontem, chegamos (de novo) à marca de 200 dias para o início dos Jogos Olímpicos de Tóquio. A pandemia que mudou nossas vidas adiou a Olimpíada de 2020 para 2021, com datas mantidas - de 23 de julho a 21 de agosto.

Só uma pergunta me vem à cabeça: Tem sentido?

Não tenho resposta para ela nem opinião formada. Por um lado, olho para a história do século passado e vejo que só três vezes Olimpíadas foram canceladas, todas em função das grandes guerras mundiais (1916, 1940 e 1944).

A pandemia é nossa guerra da atualidade. Tem muita gente no time do vírus, jogando contra a humanidade. Ela é diferente, ela é silenciosa, as armas são outras. Mas mata. Mata muita gente. Vai matar muito mais e por muito tempo até ganharmos essa guerra. E ela é mais mundial ainda do que aquelas do século passado.

Por outro lado, penso nos atletas. Em quem treina a vida toda somente para este momento e que, em caso de cancelamento definitivo, simplesmente não terá a chance de competir. Um período de oito anos entre uma edição e outra é tempo demais para alguns esportistas.

O público, definitivamente, pode esperar. Os patrocinadores, também (ou deveriam).

Tóquio já gastou muito dinheiro com a organização, é verdade. Mas há alguns pontos importantes aqui. 1- O Japão é um dos países mais ricos do mundo, pode aguentar o tranco e não vai quebrar por causa do valor investido; 2- Se a Olimpíada for realizada de fato, vai ter que gastar muito, muito, muito mais e não terá a contrapartida de ingressos, turismo, etc.; 3- A população não quer os Jogos e tem razão de ter medo.

Por mais que vacinas já estejam sendo aplicadas nos países que se organizaram para isso (mais de 50, infelizmente não estamos nessa lista), não dá para considerar que a pandemia vai ser controlada em curto prazo. É muita vacina para produzir, é muita gente para ser vacinada e ainda não se sabe exatamente a eficiência e o resultado disso tudo. Um ano atrás, nenhum de nós estava preocupado com nada disso. As coisas acontecem de forma muito rápida e dinâmica - é uma guerra diferente, como eu já escrevi acima.

Uma solução seria adiar por mais um ano e realizar os jogos em 2022. Mas esta, segundo os envolvidos, é uma não-possibilidade. Ou acontece em 2021 ou não acontece mais. Vamos lembrar que tem Copa do Mundo marcada para o ano que vem, e que vários Mundiais de várias modalidades foram remarcados para acomodar Tóquio-2021.

Outra solução que pareceria ter algum bom senso seria empurrar tudo para frente. Tóquio fica para 2024, assim não seria tão prejudicada. Paris-2024 é empurrada para 2028, Los Angeles-2028, empurrada para 2032. É claro que há questões contratuais que "impedem" que tudo isso seja feito. Seria a hora de todos os atores olharem para o que está acontecendo no mundo e chegarem a um acordo com o coração, não com o bolso.

Não tenho dúvida que as populações de Tóquio, Paris e Los Angeles fechariam com este combinado. Caberia aos interessados financeiros mostrarem compreensão.

Sobraria para os atletas. Alguns deles perderiam a chance de disputar os Jogos no auge atlético e de performance. Isso depois de tanto investimento e de tempo de vida gastos somente para este objetivo.

É complexo. Não tem resposta fácil. Mas a pergunta está no ar e ficará no ar mesmo se os Jogos forem iniciados, daqui a 199 dias. Tem sentido?