Topo

Julio Gomes

Flamengo: Rogério Ceni é uma aposta muito menos arriscada do que Domenec

Rogério Ceni em ação pelo Fortaleza, clube que deixou na segunda-feira - GettyImages
Rogério Ceni em ação pelo Fortaleza, clube que deixou na segunda-feira Imagem: GettyImages

10/11/2020 05h11

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Há quem considere a escolha do Flamengo por Rogério Ceni um risco tão grande quanto foi a contratação de Domenec Torrent. Um treinador ainda jovem, sem tanta experiência, que nunca passou por um desafio desses. Uma aposta.

Eu não estou nesse time.

Primeiro, qualquer contratação de técnico é uma aposta. É confiar em um determinado jeito de jogar ou de trabalhar para alcançar objetivos esportivos. Nunca há garantias. Pode dar certo, pode dar errado. Apostas bem feitas são aquelas em que o risco de dar errado é facilmente compensado pelo risco de dar certo.

O Flamengo errou feio ao apostar em Abel Braga. Acertou em cheio ao apostar em Jorge Jesus. Talvez um pouco desesperado pela saída repentina do português ou talvez excessivamente confiante após o 2019 perfeito, o clube foi buscar um trabalho autoral na Europa para mudar ainda mais de patamar. Não precisava.

A aposta em Domenec Torrent, auxiliar de Pep Guardiola durante anos, mas com nenhuma experiência como técnico de time importante, era simplesmente arriscada demais. O Flamengo precisava apenas dar continuidade ao que fazia Jesus, não precisava "viajar na maionese" desse jeito. Apesar de ter levado alguns "nãos" nos processos de entrevistas na Europa, em julho, havia outra possibilidades de menor risco.

Uma delas, eu sempre disse, Renato Gaúcho, outrora preferido, hoje quase um pária. Outra era Rogério Ceni, um nome seguro.

E por que Ceni representa menos risco do que Dome? Oras. Rogério conhece, sim, a pressão que clubes grandes vivem no Brasil. O cara passou duas décadas sendo o goleiro de um dos gigantes do futebol brasileiro. Disputou Copa do Mundo. Viveu de perto apuros, alegrias e decisões de diversos treinadores.

A carreira dele como técnico, apesar de curta, já tem passagens pelo São Paulo e pelo Cruzeiro. E o Fortaleza, apesar de ter menos representatividade nacional, é, sim, um clube de massa. Rogério já disputou finais, já acertou, já errou, já ganhou, já perdeu. Esses poucos anos de carreira já são muito mais do que Domenec havia feito na carreira.

Dizer que o Flamengo é grande demais para Ceni me parece uma loucura. Se tem um cara preparado no Brasil para um desafio desses, esse cara chama-se Rogério Ceni.

E, claro, ele é brasileiro. Conhece o idioma, os gramados, as viagens, os adversários, o clima, os ambientes políticos dentro de clubes, sabe quem é quem na imprensa, construiu uma rede ao longo desses anos todos. Joga em casa, oras! Enquanto o catalão passaria por uma experiência completamente nova em todos os aspectos.

O Flamengo nunca foi protagonista nos anos de domínio do São Paulo e, consequentemente, de jogos mais pesados de Rogério como goleiro. Não acredito que haja uma rejeição da torcida relevante ao nome dele, como haveria em um Palmeiras da vida. Ceni sabe que, no Brasil, a oportunidade de pegar um elenco como o do Flamengo é praticamente única. Burro, ele nunca foi. Pelo contrário.

É um cara que vai saber retomar o trabalho de Jorge Jesus e que terá ascendência sobre os jogadores. Com Dome, Ceni ou com qualquer outro técnico, o Flamengo sempre precisa ser considerado o grande favorito ao título do Brasileiro. Possivelmente, essa caminhada será retomada com força a partir de agora e com mais chances de dar certo. No mata-mata, é outra história.