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Julio Gomes

Quem ama o futebol, se emocionou hoje

Erling Haaland, do Borussia Dortmund, comemora gol contra o Schalke 04 - Alexandre Simoes/Borussia Dortmund via Getty Images
Erling Haaland, do Borussia Dortmund, comemora gol contra o Schalke 04 Imagem: Alexandre Simoes/Borussia Dortmund via Getty Images

16/05/2020 12h28

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Eu fiquei com o controle remoto em mãos, indo de um canal para outro. Na ESPN, Leipzig x Freiburg. Na Fox, Borussia Dortmund x Schalke 04. São irmãs agora, né? Depois de dois meses, o futebol estava de volta. Mas como? Com as arquibancadas vazias, até que nos acostumamos pelos jogos de março, já em época de pandemia. Mas jogadores entrando separados, um monte de gente com máscaras, espaço no banco de reservas entre um jogador e outro... tudo diferente.

O futebol está capenga, isso está claro. O jogo sem público é um jogo sem alma. Gols que não podem ser comemorados... um aperto enorme no coração. Mas ele está de volta! O jogo de Leipzig começou primeiro. E, quando o juiz apitou, chorei. Minhas filhas não entenderam nada. Acho que nem eu entendi nada.

Quem ama o jogo, creio, se emocionou. Tenho 41 anos de idade e nunca havia ficado dois meses sem um joguinho de bola para ver. Nem é o tempo o problema, mas o medo. Nosso mundo acabou? Voltaremos?

Não, não acabou. Voltaremos. E o apito em Leipzig é o apito na boca da Rose, Titanic lá no fundo, bote salva vidas tentando achar um sobrevivente. É um apito trêmulo, inseguro, fraquinho. Mas é o apito do "estamos vivos".

Serão passos de tartaruga, como é necessário que seja. As máscaras no banco de reservas e a proibição de contato ao comemorar gols me parecem protocolos inúteis, dado o contexto de um jogo. Mas a imagem é importante. É o símbolo. É mandar a mensagem do campo para todos nós: "cuidem-se".

No meu Twitter, eu sigo gente do mundo inteiro que fala e vive futebol. Inglaterra, Espanha, Itália... todos, absolutamente todos, estavam falando de Borussia Dortmund x Schalke 04. Como se fosse final de Champions League ou Copa do Mundo. É muito raro um evento canalizar as atenções de todos desse jeito.

A Bundesliga é um campeonato realmente muito bom, nem parece que os times estavam havia tanto tempo sem jogar.

No dérbi, o Borussia destruiu o Schalke 04. Meteu 4 a 0 e não fez mais porque diminuiu o ritmo - e isso sem Sancho, Reus e Witzel. Considerando que estava o planeta inteiro de olho, eu diria que o Dortmund deixou uma grande impressão. E o Schalke, coitado, escreveu uma página triste.

Haaland, Brandt e o portuga Raphael Guerreiro foram o suficiente para o Borussia manter o ritmo de 2020. Desde a chegada de Haaland, o fenômeno norueguês, em janeiro, o time ganhou oito de nove jogos. E ele chegou ao décimo gol.

O primeiro começa com Brandt, que acha Hakimi com um lindo passe pela direita. Por ali, o Borussia construiu tudo no primeiro tempo. Saíram o cruzamento e o gol de Haaland. O segundo e o terceiro, assistências de Brandt para Guerreiro e Hazard, um em falha na saída de bola, outro em contra ataque. O quarto gol é um lindo passe de Haaland para nova infiltração de Guerreiro. Os laterais mataram o Schalke.

Com 4 a 0, mudei de canal. O Leipzig, classificado para as quartas de fnal da Champions, definitivamente perdeu o ritmo na Bundesliga. Chegou a liderar, mas colecionou o quinto empate em oito jogos e já ficou para trás. No jogo contra o Freiburg, levou um gol de escanteio e depois martelou, martelou, martelou, perdeu um gol inacreditável, chegou ao empate, mas não à virada.

Bom destacar que, em Hoffenheim, o jovem brasileiro Matheus Cunha, destaque do Brasil no Pré-Olímpico, fez gol pelo terceiro jogo seguido e ajudou o Hertha Berlin a ganhar por 3 a 0. Um golaço, por sinal. Bom ficar de olho nele.

No fim da partida de Dortmund, os jogadores foram à "muralha amarela" e celebraram com torcedores imaginários. Uma homenagem de muita sensibilidade, que certamente deixou gente emocionada na Alemanha e em outros lugares. Eles não estão lá, mas eles estão lá.

Que bom foi ouvir meu amigo Rogério Vaughan narrando com seu vozeirão. Acho que o último jogo que fiz na ESPN foi com ele. Um grande cara. Que bom foi ouvir o "tchau, tchaaaaaau" mítico do enorme Gerd Wenzel. Que bom que estamos vivos.