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José Trajano

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Fazendo as malas para voltar ao Brasil, já estou com saudades de Portugal

Na Praça do Comércio, em Lisboa - Arquivo Pessoal
Na Praça do Comércio, em Lisboa Imagem: Arquivo Pessoal

Colunista do UOL

03/06/2022 04h00

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Esta é parte da versão online da edição desta quinta-feira (2/6) da newsletter de José Trajano. Na newsletter completa, apenas para assinantes, o colunista reflete sobre sua temporada de 40 dias em Portugal. Para receber o boletim, clique aqui.

Fazendo as malas para voltar para casa, sinto escorrer uma lágrima quando falo com minha mulher ou com amigos que fiz aqui em Lisboa (poucos, mas muito queridos).

Sentirei falta dos Joaquinzinhos — pequenos carapaus fritos, espécie de mini-sardinhas; do Bitoque — bife com ovo em cima, batata frita em rodelas e molho delícia; do coelho estufado — com cebola, cenoura, chouriço e tomate; das favas, dos peixes, do polvo, do cabrito, das alheiras, do bacalhau, das pataniscas, dos outros embutidos, do arroz de pato e tomate, do cozido, do queijo da serra da estrela, e vai por aí.

E os doces então? Pastéis de nata, baba de camelo, ovos moles, farófias, queijadinhas... Não há como fugir deles!

Não ficamos apenas na comilança (mesmo caminhando todos os dias, ganhei alguns quilos a mais). Fomos a museus, mercados e livrarias. Andamos sem pressa na beira do esplendoroso Tejo, abençoados pelo belíssimo céu azul da primavera, subimos até Alfama, Mouraria, Graça, Bairro Alto e Príncipe Real.

Saboreei o vinho verde, principalmente os da Ilha do Pico nos Açores, apagando a imagem quando achava que o velho Casal Garcia é que era bom. E me deixei levar pelos vinhos tintos do Douro e Alentejo, tudo a preços pra lá de acessíveis.

Visitamos a Fundação José Saramago (centenário dele este ano), o espaço Talante, dedicado à língua portuguesa, sob curadoria do Antonio Grassi e da Ciça Castello na lindíssima livraria Ler e Escrever, e a exposição temporária do Movimento Estudantil durante a ditadura salazarista. A ida ao Museu Aljube Resistência e Liberdade emocionou ao ver imagens de tortura e violência com os povos de Moçambique, Guiné e Angola, na triste época de Portugal colonizador.

Dançamos e cantamos pra valer com uma plateia festeira de mais de duas mil pessoas no histórico show de Martinho da Vila no Coliseu de Lisboa.

Constatei que Jorge Jesus (agora no Fenerbahçe) não está na boa com o torcedor português, a maioria o detesta, pelos modos, prepotência e metidez. Prestígio tem Mourinho e, por aqui, Sérgio Conceição, técnico campeão pelo Porto, e Rúben Amorim, do Sporting.

Na medida do possível pintamos e bordamos. Enquanto Rosana estudava na Universidade Lusófona e trabalhava à distância para o Museu da Pessoa, eu fazia ao vivo os programas diários para a TVT e rádio Brasil Atual, além do Cartão Vermelho aqui no UOL com o Juca.

Fiz pequeno balanço da temporada de 40 dias em Portugal para mostrar como foi gostoso (está sendo ainda, só iremos embora segunda-feira) e dizer que consegui, enfim, tirar um pouco o peso do Brasil nas costas.

Um pouco, porque é triste saber da chacina da Vila Cruzeiro, do assassinato de Genivaldo de Jesus na viatura/câmara de gás em Sergipe, das enchentes devastadoras em Pernambuco, da tentativa de cobrar mensalidades das universidades públicas, dos cachês milionários pagos aos sertanejos. Além das basófias do Capitão Corona e de sua gente.

Pra terminar, notícia boa: assim como não achei ninguém que fale bem de Jorge Jesus, não encontrei nenhum português — seja taxista, garçom, cozinheira, dono de tasca e de mercadinho ou caixa de supermercado — que goste do Capitão. Muito fixe! (legal, pra nós)

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