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José Trajano

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Um velho centroavante saúda os hermanos Calleri e Cano!

Time infantojuvenil do America, em 1959 ou 1960: estou ali na fileira de baixo, no centro do ataque - Acervo pessoal/José Trajano
Time infantojuvenil do America, em 1959 ou 1960: estou ali na fileira de baixo, no centro do ataque Imagem: Acervo pessoal/José Trajano

Colunista do UOL

01/04/2022 04h00

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No meu quarto há pequena estante onde guardo os livros que mais consulto e serve também como depósito de quinquilharias (chaveiros, isqueiros, fotos, medalhas, pequena coleção de caixa de fósforos, pen drivers, canetas sem tinta e objetos envelhecidos).

De dois dias para cá, assim como do nada porque não lembro de tê-la colocado ali, dei de cara com a foto emoldurada com vidro e tudo do tempo em que jogava no time infantojuvenil do meu time do coração, o America. Os jogos eram domingo pela manhã no antigo estádio de Campos Sales, na Tijuca.

É a foto, de 1959 ou 1960, que ilustra a coluna. Eu sou o carinha no centro do ataque formado pelo veloz Joaquim, o habilidoso Jaime, o sestroso Nonô e o insinuante Silvinho.

Sim, eu fui centroavante!

Meio perna de pau, é verdade, mas fui centroavante. Raçudo. O número 9. Nunca fiz muitos gols, desperdiçava quase todas as bolas açucaradas que o Luiz Henrique, craque e capitão do time e que na foto segura a flâmula que entregaria ao capitão adversário, me proporcionava. Aliás, de todos, o único que seguiu carreira: campeão pelo Fluminense em 1964 e pela seleção brasileira em 1963 nos Jogos Pan Americanos disputados em São Paulo.

E o que isso tem a ver com a noite de quarta-feira?

Passaram-se dias e em rodas de bar, papos de mesas redondas, textos de colunistas, o assunto era um só: "não há mais camisa 9, não há mais centroavantes no futebol brasileiro, Palmeiras e Corinthians que o digam", esbravejavam!

Cláudio Arreguy, em sua coluna no site Ultrajano, escreveu:

"O que terá sido feito da camisa que, talvez, mais do que outra no futebol, simboliza a essência desse secular jogo oficializado pelos ingleses? Onde foram parar seus mais autênticos representantes, aqueles cuja missão principal é empurrar para as redes as bolas trabalhadas pelos companheiros de outras numerações."

E lamentou:

"Os melhores 9 do planeta estão distantes. Um Benzema, um Lewandowski... No caso da seleção brasileira, já não há um Vavá (jogou com a 22), já não temos Reinaldo, Serginho, Careca, Romário (jogou com a 11), Ronaldo, Luís Fabiano, Fred..."

Arreguy não pôs em sua lista, mas incluo Casagrande. E se viajarmos no tempo, podemos incluir Leônidas da Silva, artilheiro da Copa de 1938, e Ademir Marques de Menezes, artilheiro da Copa de 1950.

Pelo que fizeram na quarta-feira, saúdo e festejo os hermanos Jonathan Calleri e Germán Cano que, em noite iluminada, mostraram ao torcedor brasileiro, com todas as letras, o que faz um verdadeiro centroavante, honrando o nome de Batistuta, Artime (fez muitos gols pelo Palmeiras e Fluminense), Higuaín, Crespo, Agüero...

Centroavante é a cara do time ali na frente, é quem ruge, quem trinca os dentes e vai em frente, é quem briga, quem não desanima, quem não tem medo de cara feia, quem, enfim, põe a bola pra dentro. Não é à toa que Vavá foi chamado de Leão da Copa e de Peito de Aço em 1958.

Obrigado, Jonathan e Germán!

Fiquem com forte abraço do jovem e esforçado centroavante da foto em preto e branco da minha estante.

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