Oscar de 'Ainda Estou Aqui': cultura e esporte devem ser prioridade
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A consagração de 'Ainda Estou Aqui' como melhor filme internacional no Oscar marca mais do que um reconhecimento para o cinema brasileiro. A obra, que resgata memórias de um período autoritário e propõe uma reflexão sobre a importância da democracia e da preservação da história, coloca o Brasil no centro do debate mundial sobre cultura e memória.

O impacto desse feito, no entanto, pode e deve ir além da estatueta dourada. O país tem a chance de transformar essa conquista em um impulso para fortalecer investimentos na indústria cinematográfica.
Cultura, assim como esporte, é setor com enorme potencial de transformação social. O prêmio sem dúvida trará novos adeptos e mais investimentos, mas há que se mudar a visão de que só se deve investir em quem ganhou.
"Necessito que me queira para ganhar"
Autor de frases célebres, o treinador de futebol argentino Marcelo Bielsa, costuma dizer "Não me queira porque ganhei, necessito que me queira para poder ganhar".
O Brasil já demonstrou, em diferentes momentos, sua capacidade de brilhar no cenário esportivo, mesmo em condições adversas. No basquete feminino, a medalha de ouro no Mundial em 1994 e a prata olímpica de 1996 consagrou uma geração liderada por Hortência e Magic Paula, provando que, mesmo sem a devida atenção, o esforço aliado ao talento tem capacidade de vingar.
No tênis, com bastante investimento privado, Guga Kuerten saiu do anonimato para conquistar Roland Garros em 1997, colocando o Brasil no mapa da modalidade. João Fonseca, ainda com 18 anos, venceu uma partida de Grand Slam e, na sequência, foi campeão do ATP de Buenos Aires, tornando-se o jogador mais novo da história a vencer um torneio desse nível, reacendendo o interesse nacional pelo esporte.
Saber aproveitar o legado deixado
Histórias de sucesso mostram que o talento e a perseverança do brasileiro conseguem superar obstáculos mesmo sem políticas públicas favoráveis. O basquete feminino e o tênis alcançaram patamares históricos devido a gerações talentosas de atletas, mas o Brasil infelizmente não soube aproveitar o legado deixado por essas conquistas.
Houve um aumento momentâneo de praticantes.
Não houve mudança na estrutura.
O cinema brasileiro, apesar de sua força criativa, também enfrenta desafios estruturais. O Oscar de hoje pode ser o empurrão necessário para que o Brasil passe a enxergar cultura como investimento estratégico, capaz de transformar a sociedade e projetar o país no mundo.
Fernanda Torres como espelho
A indicação da genial Fernanda Torres ao Oscar de melhor atriz intensifica esse impacto. Depois da conquista do Globo de Ouro e a campanha pela estatueta sempre com ótimos posicionamentos altruístas, promovendo o país, o livro de Marcelo Rubens Paiva, o diretor Walter Sales e o companheiro de cena Selton Mello, contagiou o Brasil, além de renovar o sentimento de possibilidade na arte.
Assim como o esporte, o audiovisual brasileiro necessita de políticas públicas consistentes para continuar contando histórias que valorizem nossa identidade nacional e formar atrizes e atores que possam mostrar seu potencial.
Esporte + Cultura = Segurança
Em 2018, durante o governo de Michel Temer, antes da Final da Liga Ouro de Basquete, entre Corinthians e São José dos Campos, como capitão do Corinthians, abracei um manifesto contra a medida provisória MP 841 que visava retirar investimentos do esporte e da cultura para colocar em segurança. Entramos em quadra com uma faixa em protesto. O movimento contou com grande adesão da classe artística e do esporte. A medida foi revogada.
Investimentos em esporte e cultura são a melhor maneira de se melhorar a segurança e deveriam ser tratados como prioridade em um governo. O tema central do filme é a memória. Que possamos lembrar para não esquecer. Viva Eunice Paiva! A vida presta!
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