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OPINIÃO

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KRÜ x Brasil: um festival de tudo o que o Esport não precisa

VALORANT Last Chance Qualifier será realizado em São Paulo - Bruno Alvares/Riot Games
VALORANT Last Chance Qualifier será realizado em São Paulo Imagem: Bruno Alvares/Riot Games

Colunista do UOL

26/07/2022 04h00

Rivalidades nos esportes eletrônicos não costumam tomar as mesmas proporções que acompanhamos em modalidades tradicionais. Obviamente, quando se trata de uma equipe brasileira representando nossa região contra outra, os ânimos ficam aflorados. Um capítulo recente, porém, acendeu o alerta sobre a grande responsabilidade que pro players, organizações e publishers têm nas mãos quando o assunto deixa somente o ambiente da internet para passar ao "mundo real" - tornando-se palpável, e não somente uma troca de farpas em poucos caracteres.

Recentemente, Angelo "keznit" Mori, jogador profissional de VALORANT pela KRÜ Esports, envolveu-se em uma série de polêmicas de injúria racial. Lá em 2020, foi acusado de imitar um macaco durante uma partida com o streamer Rafael "pava". Neste ano, chamou Douglas "dgzin", da Gamelanders, de "CJ do VALORANT", e Erick "aspas", da LOUD", de "primate". Atitudes lamentáveis e que lhe renderam punições extremamente brandas no ambiente competitivo.

Obviamente, a situação toda despertou a ira dos torcedores brasileiros, que se voltaram contra o jogador nas redes sociais. Pois bem: o destino reservou que a KRÜ fosse uma das quatro organizações de LATAM qualificadas para jogar o Last Chance Qualifier contra quatro equipes brasileiras, em São Paulo, no Ginásio do Ibirapuera, diante de milhares de pessoas. Valendo duas vagas no Champions, o Mundial de VALORANT.

Antes de mais nada, é necessário levantar alguns pontos: em meio a tantos absurdos, keznit perdeu uma mera série durante o VCT LATAM. A KRÜ chegou a falar em "perseguição da mídia" para defender seu jogador. Isso não justifica qualquer tipo de ataque ao atleta. Ameaças e ofensas devem ser punidas em qualquer ambiente - seja ele virtual ou não. Mas a espetacularização em torno da situação tenta pintar, agora, que os únicos errados na história são os brasileiros.

Ao colocar sob dúvida publicamente sua participação no LCQ, dizendo que depende dos "protocolos de segurança", a organização joga ainda mais gasolina em um incêndio que deveria ser tratado por todos de maneira interna. Uma situação desse tamanho não se resolve com uma troca de tweets, e sim de forma inteligente e distante dos holofotes. Os ânimos já estavam naturalmente exaltados. Só piorou.

Novamente, que fique claro: ameaças são crime. Violência é crime. As punições devem ocorrer dentro de suas respectivas esferas, com keznit respondendo pelas injúrias, e os "torcedores", que tentam se blindar por estarem atrás de monitores, pelas ameaças. Quem perde em tudo isso é o esporte eletrônico, trazendo para si uma imagem péssima, equiparando-se ao que de pior há no que diz respeito às modalidades tradicionais.

É saudável e fundamental para qualquer esporte construir grandes narrativas. Fazer com que jogos sejam aguardados por semanas, para ver frente a frente jogadores que trocam provocações. Tudo, porém, dentro dos limites. As organizações envolvidas no Last Chance Qualifier e a Riot Games têm competência suficiente para promover uma grande festa sem que o cenário desbanque para a idiotice.

A relação com a Leviatán, por exemplo, que fez uma grande campanha no Masters em Copenhague, evidencia que Brasil x LATAM pode ser uma rivalidade frutífera para ambos. No fim do dia, estamos falando de uma mesma macrorregião, com jogadores que são parceiros de treino e que, juntos, deveriam bater de frente juntos contra preconceitos e estereótipos maldosos. Podemos ser bem melhores do que isso.