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OPINIÃO

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Injúria racial no Icons: em 2022, ainda se patina no básico

Wild Rift Icons - Divulgação/Riot Games
Wild Rift Icons Imagem: Divulgação/Riot Games

Colunista do UOL

17/07/2022 04h00

O Icons Global Championship, primeiro Mundial de Wild Rift, terminou no último fim de semana. Com direito a viewing party lotada em São Paulo para uma final entre duas equipes chinesas em plena manhã de sábado, além de vitórias interessantes de equipes brasileiras ao longo do torneio, foi um bom "primeiro marco" para o MOBA mobile da Riot Games. Porém, o que roubou a atenção acabou por ser um lamentável fato ocorrido há quase um mês, que veio a público somente agora.

De acordo com pronunciamentos feitos pela publisher e pela Liberty, a equipe brasileira sofreu uma ofensa xenofóbica e de injúria racial direcionada pela Sentinels, time que representava a América do Norte na competição. Sons em alusão a um macaco foram proferidos por um integrante adversário - o técnico, William "ThePierceJ" Ware - antes do início do confronto. Uma história, por si só, já surreal. Mas que preocupa com as "justificativas".

"Um de nossos jogadores estava tendo alguns problemas para estar no palco mesmo durante os jogos contra a KDF, então eu elaborei um plano para usar esses cantos de equipe e ruídos de animais para garantir que a equipe estivesse confortável e não se importasse com o palco. Os ruídos dos animais estavam funcionando muito bem, então eu disse a todos os jogadores, com a presença do nosso manager da Riot na sala, que todos faríamos ruídos de animais diferentes para ter certeza de que estávamos todos tranquilos e soltos. Mencionei os ruídos dos cães, dos gatos, e disse que eu podia fazer barulhos de macaco", explica ThePierceJ, em um longo comunicado.

Há que se mencionar: o técnico, que foi banido por 18 meses, parece, sim, genuinamente arrependido de não ter se informado suficientemente para evitar que tal situação ocorresse. E, de fato, não parecem palavras vazias. Porém, até quando esse tipo de ocorrência precisará se repetir para que evoluamos além das desculpas? Simplesmente não é justo e, muito menos, aceitável que, em julho de 2022, não se tenha contexto histórico e noção para saber o básico. Ninguém merece passar por tal absurdo.

Estamos falando de um campeonato mundial. Estamos falando de esporte a nível global. É obrigação de qualquer profissional inserido nesse contexto que tenha dignidade e respeito suficientes para com seus semelhantes. Atletas e membros de comissões técnicas são seres humanos que precisam de um gabarito de educação para cumprirem à altura as responsabilidades que representam. Não é obrigação do ofendido entender a justificativa, mas sim do ofensor aprender o que já deveria constar em seu intelecto.

ThePierceJ terá 18 meses para pensar em algo que deveria estar intrínseco à sua mente. Chega de "quem me conhece sabe". Ou, para repetir uma frase usada pelo próprio técnico, "não tínhamos ideia de como isso seria ofensivo". Era e continuará sendo obrigação dele, da Sentinels e de qualquer profissional ou equipe que estiver em um Mundial, diante de adversários de outros continentes e contextos históricos, ter ideia.