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Gabriel Vaquer

REPORTAGEM

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Clubes pendentes da Série A fecham com Globo, mas queixa sobre PPV persiste

Rafael Gava, do Cuiabá, comemora gol: clube fechou com Globo por Brasileirão até 2024, mas reclamou de dinheiro do pay-per-view - Divulgação
Rafael Gava, do Cuiabá, comemora gol: clube fechou com Globo por Brasileirão até 2024, mas reclamou de dinheiro do pay-per-view Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

16/04/2021 14h13

Nos últimos dez dias, a Globo conseguiu fechar contrato com o Cuiabá e o Juventude, os dois times que subiram para a Série A do Brasileirão de 2021 e que estavam sem acordos de televisão - o clube gaúcho só tinha contrato para TV paga com a TNT Sports. A agremiação do Mato Grosso, nem isso.

Mesmo com vínculos até 2024, ambos os clubes ainda reclamam sobre o que consideram pouco dinheiro vindo do Premiere, o pay-per-view da Globo.

O motivo da insatisfação é o modelo adotado pela Globo para pagamento aos times desde 2019. No Premiere, recebe mais quem tem mais torcedores cadastrados como assinantes no sistema. Flamengo, Corinthians e Palmeiras possuem um mínimo garantido para receber por ano de contrato porque são os campeões nesse ranking.

O problema é que o modelo, na visão de clubes médios e pequenos, não é benéfico para eles. Como são times com torcida reduzida, a maioria raramente passa do 1% no cadastro. O fato já era uma queixa do Red Bull Bragantino quando negociou seu contrato com a Globo no ano passado e ficou mais evidente neste ano.

Fora da primeira divisão desde 2007 e com um acordo com a TNT Sports que lhe garante R$ 9 milhões por ano de exibição na Série A também até 2024, o Juventude não tinha muita margem para negociar. Aceitou o contrato não só pelo bom dinheiro que a Globo paga, mas também porque não tinha outra opção para contrapor.

Porém, o caso do Cuiabá foi diferente. Organizado financeiramente, o time do Mato Grosso não aceitou a primeira proposta da Globo para TV aberta, TV paga e pay-per-view. O motivo da recusa foi justamente o valor que receberia no Premiere, o que fez a emissora ter que explicar mais detalhadamente o modelo.

Nessa questão, o problema é que o contrato de pagamento é igual para todo mundo. Chamado de divisão "40-30-30", 40% do valor total será dividido igualmente no início da competição, em maio. Esse valor normalmente supera os R$ 20 milhões para cada clube. As outras duas fatias de 30% dependem do número de partidas transmitidas e da posição final na tabela do Brasileirão. Rebaixado, o time não tem direito ao último item.

Já o pay-per-view depende da arrecadação e do tamanho da torcida. A Globo estipula uma arrecadação anual sempre acima de R$ 600 milhões. Quem tinha apenas 1% de torcedores cadastrados, ganhou apenas R$ 6 milhões nesta mídia. É a projeção para os casos de Cuiabá e Juventude.

Ou seja, não há muito espaço para inovações ou "jeitinhos". Mas isso não quer dizer que os times com menos torcida que os gigantes não tenham direito de reclamar. O Athletico não fechou com a Globo um contrato para o Premiere justamente por discordar do modelo de pagamento, que só lhe renderia R$ 6 milhões por ano. Hoje, disputa na Justiça o direito de vender um sistema próprio, algo que a emissora carioca não concorda.

Mesmo no comunicado em que anunciou o contrato com a Globo, o empresário Cristiano Dresch, que administra o Cuiabá junto do irmão Alessandro, criticou o modelo e pediu uma revisão para o futuro: "Eu acho o modelo de distribuição do pay-per-view injusto. Ele prejudica clubes como o Cuiabá, que precisam do dinheiro para sobreviver numa competição como a Série A. O modelo precisaria ser estudado, porque a gente não pode manter esse abismo".

Mas quem sai vitoriosa da negociação é a Globo. Mesmo com o modelo criticado, a emissora resolve o caso até 2024, pelo menos. O resto fica para um futuro não tão distante - afinal, 2025 é logo ali.