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Gabriel Vaquer

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

F1 na Band: do pacote completo a "fantasma da Globo"; veja prós e contras

Reginaldo Leme, Felipe Giaffone e Sérgio Maurício, equipe de transmissão da Fórmula 1 na Band - Divulgação/BandSports
Reginaldo Leme, Felipe Giaffone e Sérgio Maurício, equipe de transmissão da Fórmula 1 na Band Imagem: Divulgação/BandSports

29/03/2021 04h00

O GP do Bahrein, que abriu a temporada 2021 da Fórmula 1 neste domingo (28), marcou também o retorno da Band a principal categoria do automobilismo mundial depois de 41 anos. Na audiência, um resultado bom para os padrões da emissora: cinco vezes mais que a última semana e incomodando fortemente Record e SBT na briga pelo segundo lugar no Ibope da Grande São Paulo.

A corrida também ajudou, com uma disputa emocionante entre, Lewis Hamilton (Mercedes) e Max Verstappen (Red Bull Racing) pelo primeiro lugar nas últimas voltas. Foi neste momento, inclusive, que a corrida atingiu seu pico de Ibope, atingindo 6,2 pontos na capital paulista (cerca de 1,273 milhão de espectadores somente na principal região metropolitana do mercado de TV).

Para um evento de estreia, gerando altas expectativas e a pressão decorrente, houve pontos positivos e negativos, por mais que a primeira impressão tenha sido bem boa para os fãs mais ardorosos da categoria, que reclamavam do tratamento que a Globo dava nos últimos anos. A coluna avaliou três pontos prós e contras que a Band teve em seu primeiro fim de semana na Fórmula 1:

Prós

1) Grande espaço para a Fórmula 1 e sem perder o ritmo

A Band deu um grande espaço para a Fórmula 1 nesta estreia. Começou a falar da categoria já dentro do "Show do Esporte", a partir das 9h, com Glenda Kozlowski e Elia Júnior. Chamou diversos ex-pilotos, entre eles Nelson Piquet. Entregou para a corrida às 11h30, 30 minutos antes da largada e seguiu analisando. Após a corrida, mais 30 minutos para entrevistas e debate. O assunto F1 só parou às 14h30. Foram cinco horas e meia só com a categoria como foco. Sem contar que a Band exibiu o pódio de premiação, um ritual sagrado que foi ignorado pela Globo nos últimos anos. Certamente, a F1 não via um espaço assim há tempos. A Band pegou o padrão da Globo e foi mais longe, dando sua cara.

2) Espaço para Mariana Becker brilhar

Depois de 25 anos na Globo, com 13 deles dedicados a cobertura da Fórmula 1, Mariana Becker apareceu muito neste GP do Bahrein. Além de relatar o que acontecia durante a corrida, Mariana pôde aparecer com reportagens mais bem elaboradas e até mesmo conversas em tempo real. Logo após a corrida, a jornalista conversou com Lewis Hamilton dentro do "Show do Esporte" ao vivo. Essas conversas aconteciam na Globo, mas serviam apenas para VTs em telejornais. Exibi-las ao vivo é um diferencial e uma grande sacada da Band.

3) Sérgio Maurício empolgado e brilhando em narração de estreia

Sérgio Maurício era uma bandeira do SporTV e a voz do automobilismo no canal pago do Grupo Globo desde os anos 1990. Desde quando esta coluna informou, em 7 de fevereiro, que a Band pensava em seu nome para as narrações da Fórmula 1, o público deixava claro nas redes sociais que seria um grande acerto. E de fato, foi. Neste primeiro fim de semana, e principalmente nesta corrida de TV aberta, Sérgio Maurício se mostrou empolgado e vibrante. A narração do "pega" entre Hamilton e Verstappen já virou um clássico instantâneo para os fãs.

Transmissão da F1 na Band - Reprodução - Reprodução
Band volta a transmitir a F1 com narração de Sérgio Maurício (dir.) e comentários de Reginaldo Leme e Felipe Giaffone
Imagem: Reprodução

Contras:

1) Provocação gratuita à Globo

Como bem falou o colega Maurício Stycer em sua coluna no UOL, houve um exagero com as provocações à Globo, antiga exibidora da Fórmula 1. Pareceu algumas vezes gratuito, só para fazer uma zoeira. Mas como falei mais acima, a Band aprimorou o que a Globo fazia. Tanto que todos da sua equipe titular fizeram a F1 por lá: Sérgio Maurício (narrador titular no SporTV por muitos anos), Reginaldo Leme (principal comentarista por quase 40 anos), Felipe Giaffone (piloto que já tinha uma passagem pela Band, mas que comentou na Globo por duas temporadas), Mariana Becker (repórter na Globo por 13 anos), Jayme Brito (ex-produtor executivo da F1 na Globo e agora chefe da produção nos autódromos). A lista é longa. Algo que poderia ser evitado.

2) Do comunicado oficial elegante à abertura de microfone para o infame #GloboLixo do Piquet

Quando anunciou a compra oficial da Fórmula 1, a Band foi bem elegante no comunicado oficial. A emissora parabenizou a principal concorrente pelo grande trabalho feito de 1981 até 2020 com a categoria. Por isso, causa até estranheza o ponto acima e o infame #GloboLixo invocado por Nelson Piquet, numa "piquezada" histórica, apenas para cutucar a Globo. Mais estranheza ainda que alguém não tenha repreendido Piquet ao vivo. É o tipo de coisa que pega mal. Foi uma mancha na ótima cobertura.

3) Falta de transmissão em antena parabólica

Segundo estimativas da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV), pouco mais de 22 milhões de domicílios possuem acesso a TV aberta pelas antenas parabólicas em todo o Brasil. E por algum motivo ainda não esclarecido, a Band não exibiu o treino do grid de largada e a corrida para quem só consegue ver televisão por essa forma —a Globo fazia a transmissão normalmente. É algo que a Band repete com eventos internacionais: campeonatos europeus de futebol também não são exibidos. É um público que deixa de ser alcançado em todo o Brasil.