O papel do técnico e como não perder o vestiário
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A NBA não é a mesma e Nico Harrison, GM do Dallas, tem muita culpa nisso. Desde a troca do Luka para os Lakers a sensação é de que todas as regras éticas foram jogadas pela janela. O que eu até entendo porque nada estava escrito em papel timbrado, mas a confusão que a NBA se tornou não é para amadores.
Tudo pode desde que não interfira nas regras oficiais. "Pode trocar o melhor jogador do time no meio da temporada?". Pode. Faz sentido? Não muito. "Pode mandar embora o técnico há uma semana dos playoffs?" Pode. Faz sentido? Eu diria ser uma insanidade. E assim a NBA jogou pela janela todo temor, pegou o regulamento, leu atentamente tudo o que estava escrito e fez escolhas.
Os casos recentes de demissões são do Taylor Jenkins, técnico do Memphis Grizzlies, e do Michael Malone, técnico do Denver Nuggets. Ambos com equipes disputando as primeiras colocações da Conferência Oeste e o último com um título nas costas. Os motivos que levaram as franquias a tomarem essa atitude nunca serão ditos, mas muito se falou em "ele perdeu o vestiário".
Ser técnico é uma das funções mais difíceis do mundo. Sim, mais do que ser o atleta. O jogador no fim das contas tem poder de decisão na quadra ou no campo. É ele que vai chutar a bola decisiva ou vai passar para alguém. É uma função visível e das mais importantes. Agora, a pessoa que vai administrar tudo isso, desde egos, lesões, defesas, treinamentos, conversas e punições, é o técnico.
Geralmente quando um técnico está fazendo o seu trabalho (e eu vou me ater a jogos coletivos) você não vê a presença dele. É como se ele não existisse porque o time joga com tamanha autonomia e organização que ele parece ser irrelevante. Ledo engano.
Uma vez li uma frase muito pertinente ao papel do técnico que é: "Tratar todos de forma justa, mas não de forma igual". Eu levaria para todos os aspectos da vida, seja pessoal ou profissional, mas ela diz muito sobre a função principal do cargo, que é a observação. Um técnico que não presta atenção nos jogadores já saiu perdendo.
Quando falamos de um time, estamos falando de 12 a 15 pessoas que convivem durante várias semanas num mesmo ambiente e sofrendo diversas pressões. Cada pessoa reage de uma forma diferente. Você não pode falar da mesma forma com todos os atletas. "Ah, mas eu sou assim e eles que se adaptem, não pode agora?" Pode. Faz sentido? Não muito.
E a gente não precisa ir muito longe, o próprio Bernardinho escreveu um livro sobre como ele tinha que falar com cada atleta de forma diferente. Outro técnico que a maioria dos basqueteiros conhece é o Phil Jackson. Aconselho assistirem à aula de domínio do cargo num dos episódios do documentário sobre o Chicago Bulls.
Esse homem lidou com o maior jogador de basquete do mundo, encontrou a forma de não ser engolido profissionalmente por ele, conquistou o respeito de todos e bancou deixar Dennis Rodman viajar antes das finais. E sim, eu estou falando do Michael Jordan.
Se adaptar às demandas de cada atleta pode não parecer a função principal de um técnico da NBA (ou de qualquer modalidade), mas é a mais importante. Alguns chamam de habilidades interpessoais, ou seja, identificar comportamentos emocionais e sociais que ajudam as pessoas a se relacionarem umas com as outras. Eu chamo de um cara que tem o vestiário na palma da mão.
Muitos não dão o devido valor ao tal do vestiário e no quão sagrado é aquele solo. É no vestiário que campeonatos são vencidos e perdidos. A quadra é o resultado direto daquele cômodo ridiculamente pequeno e sem janelas.
Qualquer cargo tem seu risco, você não vai ganhar todos os jogos, crises vão acontecer, o barulho externo vai ser alto, problemas pessoais existem e saber lidar com isso é uma forma de quase super poder porque uma vez que você perde o vestiário meu amigo, não tem playoff a 5 dias batendo na porta que te salve.
Que venham os play-ins da NBA.
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