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Futebol pelo mundo

REPORTAGEM

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Por que Neymar valoriza mais bater recorde de Pelé do que ser Bola de Ouro?

Wagner Meier/Getty Images
Imagem: Wagner Meier/Getty Images

João Henrique Marques

Colunista do UOL

13/10/2021 04h00

Abertamente, Neymar já comentou não ser obcecado pela conquista da Bola de Ouro, o prêmio de melhor jogador do mundo. A sua visão é de que o troféu não vai interferir em seu tamanho na história do futebol. Mas se tem uma marca que o atacante orgulha-se de estar prestes a conquistar é a de ser o maior artilheiro da história da seleção brasileira.

Neymar tem 69 gols marcados pela seleção, atrás somente de Pelé. O Rei do futebol tem 95 em seus dados oficiais, mas segundo a Fifa são 77. Nesta quarta-feira, o camisa 10 do Brasil volta a campo pelas Eliminatórias da Copa do Mundo, diante do Uruguai, em Manaus.

Neymar não se posiciona e não se vê como maior ou melhor que Pelé. A sua ligação com o Rei é forte, não só pela formação no Santos ou propriamente pelo recorde. É basicamente uma maneira que o jogador tem de recordar o avô que morreu antes de vê-lo estrear no profissional. Quando imitou a comemoração de Pelé com socos no ar em seu primeiro gol na carreira em 2009, Neymar prestou uma homenagem ao avô, um grande fã do Rei do futebol.

Neymar tem dificuldades de tocar no assunto Pelé publicamente com receio de ser encarado como presunçoso. No mês passado, quando declarou que o coletivo da seleção brasileira é o mais importante, mas que está feliz por seus números, complementou o raciocínio dizendo que "será uma honra passar Pelé".

Por conta disso foi atacado pela atriz Patrícia Pilar nas redes sociais: "Neymar me decepciona mais a cada dia. Falar em passar o Pelé na artilharia foi absolutamente lamentável", publicou a atriz da Globo lembrando que o Rei estava hospitalizado. "Ah pronto, tenho que parar de fazer gol agora", respondeu ironicamente o jogador.

No entorno de Neymar, o assunto recorde de Pelé é visto como delicado. Não há divulgação de números entre os dois, sendo o Rei tratado como incomparável. Por conta disso, foi difícil encontrar uma data para o lançamento do documentário da Dazn: "Neymar JR, Dinastia de Reis". Ele é uma visão americana do futebol brasileiro e tem como tema principal o recorde que o Neymar está próximo de bater como goleador máximo da seleção brasileira.

A entrevista em que Neymar conta a possibilidade de que em 2022 seja sua última Copa do Mundo foi gravada para o documentário em abril. Mas o episódio com Patrícia Pilar também foi um dos motivos que fez a produtora considerar impróprio o lançamento no mês passado.

Quem rodeia Neymar comenta que em seu pensamento de futebol nada é mais importante do que a seleção brasileira. Desde que foi convocado pela primeira vez em agosto de 2010, ele jamais pediu dispensa de uma lista. E em alguns casos já bateu de frente com seus clubes, o Barcelona e o PSG, para lutar por liberação.

Neymar trata a conquista da Copa do Mundo como seu maior sonho da carreira. Entre os objetivos cumpridos, o que tem maior orgulho é a conquista da medalha de ouro para o Brasil nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016. Não à toa, leva uma tatuagem no pulso para lembrar da conquista.

Apesar da dedicação, chama a atenção de muitos amigos de Neymar a dificuldade que o jogador tem de colar a imagem de amor pela seleção em parte do povo brasileiro. Chateado com isso, os desabafos do jogador sobre o tema são constantes.

"É óbvio que para mim é uma honra muito grande fazer parte da história da seleção brasileira. Para ser bem sincero, meu sonho sempre era jogar pela Seleção, vestir essa camisa. Nunca imaginei chegar a esses números. Para mim é até emocionante, porque passei por muita coisa nesses dois anos que são bem difíceis, complicadas, e esses números não são nada. A felicidade que eu tenho de jogar pelo Brasil, de representar meu país, minha família", disse Neymar, chorando, ao fim da vitória do Brasil por 4 a 0 diante do Peru, em julho, na Copa América.

"Não sei mais o que eu faço para a galera respeitar. Isso é normal, vem há muito tempo. Repórteres, comentaristas, outros também. Às vezes eu nem gosto mais de falar em entrevista, mas em momento importante eu venho aparecer", falou o jogador em sua última entrevista pela seleção brasileira no mês passado.