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Como Tuchel na final pressiona Leonardo em cargo de diretor do PSG

Leonardo, diretor do PSG - David Ramos/Getty Images
Leonardo, diretor do PSG Imagem: David Ramos/Getty Images

João Henrique Marques

Colunista do UOL

06/05/2021 04h00

Na passagem de Thomas Tuchel pelo Paris Saint-Germain, o diretor esportivo do clube, Leonardo, virou seu desafeto. Tanta discordância terminou em demissão do alemão no meio da temporada, e cinco meses depois, o fato de o treinador voltar à final da Liga dos Campeões agora com o Chelsea deixa o dirigente brasileiro com o papel de vilão na relação entre eles. Na França, a situação é avaliada como pior que a eliminação do PSG para o Manchester City na semifinal.

"O PSG pode perder o título do Campeonato Francês e da Copa da França. Isso seria terrível? De jeito nenhum. O que seria horrível no clube é Thomas Tuchel, demitido do PSG no Natal, ser campeão da Liga dos Campeões com o Chelsea", definiu o jornal esportivo francês L 'Équipe.

Para a mídia francesa, foi surpreendente a demissão de Tuchel em dezembro. O time havia sido finalista da Liga dos Campeões anterior, e tinha acabado de garantir a classificação para a fase de mata-mata da atual edição ao terminar na primeira colocação em um grupo complicado com Leipzig e Manchester United. No entanto, as discordâncias com Leonardo pesaram.

Para piorar a imagem de Leonardo, com o Chelsea na final pesa ainda o fato que um dos maiores atritos com Tuchel no PSG foi a saída de Thiago Silva para o clube inglês. O treinador alemão pediu a renovação para o brasileiro seguir como titular e capitão de seu time.

Tuchel reclamava publicamente que considerava o elenco do PSG enfraquecido em relação ao time finalista da Liga dos Campeões. Além de Thiago Silva, o lateral direito Meunier e o atacante Cavani eram as ausências mais sentidas. As queixas do treinador alemão eram constantes e irritavam Leonardo.

"Não gostei da declaração do Tuchel. Não entendo e não gostei. O clube não gostou. Veremos internamente [sobre uma punição]. Se alguém não está feliz, podemos conversar, sem problemas. Mas se você decidir ficar, deve decidir respeitar as escolhas da liderança esportiva", esbravejou Leonardo em outubro.

Na ocasião, Leonardo estava também irritado por ver Tuchel insistir em improvisar o volante Danilo como zagueiro. O jogador português era um reforço recente do dirigente brasileiro, e o entendimento foi que sua escalação na defesa, com Marquinhos no meio-campo, era uma forma do treinador atacar a direção esportiva pela saída de Thiago Silva.

Tuchel não gostava de conversar taticamente sobre o time com Leonardo. Suas improvisações e constantes alterações de esquema de jogo já eram vistas pelo dirigente brasileiro como um impeditivo ao time de ser novamente finalista da Liga dos Campeões.

Leonardo foi a figura central na contratação do treinador Mauricio Pochettino como reposição de Tuchel. O argentino conversa com o dirigente brasileiro sobre o time e jamais, por exemplo, improvisou qualquer jogador como zagueiro.

Tuchel - Getty Images - Getty Images
Thomas Tuchel, técnico do Chelsea, durante a partida contra o Real Madrid
Imagem: Getty Images

Já Tuchel levou seu modelo de variação tática ao Chelsea, mas fixou o time em um esquema com 3 zagueiros e contra-ataque veloz. A força defensiva virou sua marca com uma equipe que sofreu gol em apenas 6 dos 25 jogos sob seu comando.

"Honestamente, sair da Ligue 1 para a Premier League é brutal. Muito brutal", disse Tuchel, na semana passada, em uma frase que representou seu descontentamento com o passado recente. "Na França, jogamos o mesmo número de partidas, duas taças e também tem 20 times no campeonato. Mas a intensidade e o desafio do campeonato são realmente muito diferentes aqui. É um nível totalmente diferente. É muito implacável, mantém você atento e o levanta. De manhã cedo. Simplesmente não há tempo para respirar. Não há muito tempo para sentar, para ficar relaxado ou confortável. E isso é uma coisa boa, aguça sua mentalidade e sua mente", finalizou o treinador.