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Flavio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Verstappen e Lauda: o que esses campeões têm em comum?

Verstappen e os abraços da Red Bull: rumo ao bi - Divulgação/Red Bull
Verstappen e os abraços da Red Bull: rumo ao bi Imagem: Divulgação/Red Bull

Colunista do UOL

01/08/2022 04h00

Esta é parte da versão online da edição deste domingo (31/7) da newsletter de Flavio Gomes. Na newsletter completa, apenas para assinantes, o colunista destaca o excelente trabalho da Red Bull (e de Verstappen) no GP da Hungria, a reação da Mercedes e a aposentadoria de Sebastian Vettel. Para receber o boletim e ter acesso ao conteúdo completo, clique aqui.

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A resposta à pergunta do título poderá ser frustrante para aqueles que adoram elegias a grandes nomes do esporte, um desfile interminável de adjetivos empilhados em abundância na inútil intenção de encontrar o que melhor define um atleta vencedor.

Não, não vou chamar Verstappen de monstro, gênio, gigante, espetacular, sensacional, fabuloso, extraordinário, formidável, estupendo, magnífico, incrível, fantástico, esplêndido, maravilhoso, fenomenal, impressionante, assombroso, essas coisas que todo mundo diz.

Ele é ótimo, sem dúvida, e a vitória na Hungria a partir de uma décima posição no grid atesta tudo que se diz sobre o moço. Abriu 80 pontos na tabela sobre o desafortunado Leclerc e nada tira dele o bicampeonato nesta temporada.

E é justamente sobre campeões que quero falar, voltando à indagação feita antes mesmo do início destas perorações: Lauda e Verstappen — o que têm em comum o austríaco e o holandês, se já se esqueceram.

Respondo. São os últimos campeões mundiais de Fórmula 1 que não correram contra Michael Schumacher.

Oh, é isso?

Sim, é isso.

Assumo que não é um dado particularmente espantoso, mas de alguma maneira liga os elos de uma corrente que começou a ser confeccionada em 1985 e foi atada pela última vez no final de 2020, fechando um círculo que reúne nomes históricos da categoria.

Andreas Nikolaus Lauda, que morreu em 2019 quando exercia uma função de direção na Mercedes, conquistou seu terceiro e último título em 1984 e passou o cetro no ano seguinte a Alain Prost, então seu companheiro de McLaren. O francês, então, foi campeão pela primeira vez. Seria bi em 1986, tri em 1989 e tetra em 1993, quando já dividia as pistas com um jovem alemão que estreara dois anos antes, na Bélgica.

Schumacher se manteve em atividade até 2006, parou, voltou em 2010 e se aposentou de vez em 2012. Todos os campeões, a partir de Prost em 1985, o enfrentaram em algum momento. Nelson Piquet, vencedor do Mundial de 1987, foi seu companheiro na Benetton em 1991. Ayrton Senna (1988, 1990 e 1991) morreu em Ímola em 1994 quando era perseguido pelo alemão. Nigel Mansell aparece na foto do pódio de Spa em 1992, ano de seu único título, ao lado de Michael — no dia em que venceu seu primeiro GP.

E seguem nessa lista Damon Hill (1996), Jacques Villeneuve (1997) e Mika Hakkinen (1998 e 1999), pilotos com quem Schumacher rivalizou na década de 90 do século passado. Depois Fernando Alonso (que o derrotou em 2005 e 2006), Kimi Raikkonen (vice de Schumacher em 2003, campeão em 2007), Lewis Hamilton (2008, 2014, 2015, e de 2017 a 2020) — sucessor do tedesco na Mercedes —, Jenson Button (2009), Sebastian Vettel (2010 a 2013) e Nico Rosberg (2016) — este, seu último companheiro de equipe.

Todos eles estiveram no grid com Schumacher. Verstappen, não. Quando Max alinhou para seu primeiro GP na Austrália em 2015, aos 17 anos, Michael já estava numa cama de hospital havia mais de um ano, vítima de um acidente de esqui em dezembro de 2013.

Mas o ex-piloto não era um estranho à família do jovem holandês, muito pelo contrário. Seu pai Jos Verstappen fora companheiro de Schumacher na Benetton em 1994, ano em que conquistou o primeiro de seus sete títulos mundiais.

Schumacher com Mick (de azul) e Max: 'Tio Michael' - Reprodução/Redes sociais - Reprodução/Redes sociais
Schumacher com Mick (de azul) e Max: 'Tio Michael'
Imagem: Reprodução/Redes sociais

Em julho deste ano, numa entrevista à "Autobild" alemã, Max falou sobre sua convivência com o heptacampeão:

Eu tinha três ou quatro anos, não mais do que isso. Tudo que lembro é que ele era o tio Michael, carinhoso, muito ligado à família, não tinha a menor ideia do que significava ser um campeão mundial. É só ver as velhas fotos e vídeos lá de casa. Mick e Gina [filhos de Michael] estavam sempre por lá, guardo doces memórias dos fins de semana que nossas famílias passavam juntas."

Algumas dessas fotos, nos últimos tempos, apareceram aqui e ali na imprensa internacional e em redes sociais de fãs da F-1 ao redor do mundo. Em imagem que já ficou famosa, a emissora de TV alemã RTL registrou, em 2001, uma visita de Schumacher aos boxes da Arrows, equipe defendida pelo ex-parceiro Jos.

O time vivia um momento financeiro delicado e o já tricampeão mundial deu uma passada na garagem para conversar com colega, que tinha levado a família para a corrida. O molequinho de cabelo loiríssimo com o Mickey bordado no macacãozinho, levando um papo reto com a estrela da Ferrari, é Max.

O pequeno Max 'encara' Schumacher em 2001: doces memórias - Reprodução/RTL - Reprodução/RTL
O pequeno Max 'encara' Schumacher em 2001: doces memórias
Imagem: Reprodução/RTL

Ter sido o primeiro campeão desde Lauda, em 1984, a nunca ter repartido um pedaço de asfalto com Schumacher faz de Verstappen, de certa forma, um marco na linha do tempo da Fórmula 1. Niki, em alguma medida, também carrega um quinhão dessa "timeline". Foi ele quem escolheu, já como dirigente da Mercedes, o homem que deveria ocupar o lugar de Michael. Indicou o nome de Lewis Hamilton e convenceu o inglês a deixar a McLaren para abraçar uma aventura incerta no time prateado, depois de anos sob o chapéu de Woking.

Anos depois, essas histórias se cruzariam na disputa do campeonato de 2021, quando Lewis enfrentou seu mais duro adversário na disputa de um título. E perdeu.

Era Max Verstappen. O sobrinho do tio Michael.

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