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Fábio Seixas

REPORTAGEM

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Há 40 anos, "melhor piloto da história" estreava na F1

O irlandês Tommy Byrne, nos tempos de categorias de base, antes de tentar a sorte na Fórmula 1 - Reprodução
O irlandês Tommy Byrne, nos tempos de categorias de base, antes de tentar a sorte na Fórmula 1 Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

15/08/2022 12h38Atualizada em 16/08/2022 09h03

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Uma grande história da F1 completa 40 anos nesta segunda. Mas talvez pouca gente lembre, certamente ninguém fará homenagens. Porque envolve um personagem maldito do esporte.

Em 15 de agosto de 1982, Tommy Byrne disputou sua primeira corrida na F1, o GP da Áustria, no velho Österreichring. Quem? "O melhor piloto que você nunca viu", como prega sua biografia. Outro cartão de visitas é uma frase sempre repetida por Eddie Jordan e que choca quem a ouve pela primeira vez: "Esqueça Senna e Schumacher. Tommy foi melhor que eles".

Detalhe: Jordan trabalhou com os três.

O que aconteceu, então? Por que nunca prosperou, por que precisamos apresentá-lo? Há mais de uma resposta, mas todas servem de alerta para jovens pilotos, todas são lembretes para os fãs. No automobilismo, talento não é tudo. E Byrne é o exemplo extremo dessa máxima.

Tudo na vida de Byrne foi conturbado e ligado a rodas, motores, gasolina, velocidade. Começando do começo: ele nasceu no banco de trás de um carro que voava pelas ruas de Drogheda, na Irlanda, tentando chegar à maternidade. Não deu tempo. O ano era 1958.

"Sempre gostei de dirigir. Não tenho ideia de onde veio, mas foi algo que trouxe um pouco de leveza para minha vida. Lembro quando eu tinha 4 ou 5 anos e ganhei um daqueles carrinhos com pedal (...) É minha primeira memória num volante. Quando tinha 14, descobri um pedreiro que disputava provas de stock car com um Mini e tornei-me seu ajudante. Foi meu emprego por três anos. Ele batia em todas as corridas, e eu tinha que consertar o carro", conta Byrne em "Crashed and Byrned", livro que lançou em 2008 com o jornalista Mark Hughes.

Byrne passou a sonhar em ser piloto. Mas eram os anos 70, era o automobilismo raiz do interior do Reino Unido. Tudo acontecia em outra velocidade. Não existiam "academias de desenvolvimento". Quando ele estreou com monopostos, já tinha 19 anos. Foi um meteoro.

Após brilhar em categorias de base na Irlanda, tornou-se campeão inglês e europeu da Fórmula Ford 2000 em 1981. Naquele ano, enfrentou Senna no Festival Fórmula Ford, que reunia os grandes nomes da categoria mundo afora. Venceu o evento e entrou no radar da F1.

Mas havia um problema. Na mesma medida em que seu talento encantava, seu comportamento fora das pistas preocupava potenciais empregadores. Byrne bebia demais, envolvia-se em brigas, não tinha papas na língua, era esquentadinho e achava-se o maioral.

A temporada de 1982 ilustra bem essas duas facetas. Recebeu uma sondagem para ser piloto de testes da McLaren, mas declinou, preferindo ser titular da pequena Theodore. Paralelamente, mesmo não podendo viajar para algumas etapas, conquistou a F3 inglesa, vencendo adversários como Martin Brundle e Roberto Moreno.

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Tommy Byrne, com o carro da Thedore, na temporada de 1982 da Fórmula 1
Imagem: Reprodução

Como prêmio, ganhou a chance de testar com a McLaren em Silverstone. Outros quatro jovens foram escalados: Thierry Boutsen, Stefan Johansson, Enrique Mansilla e Dave Scott. Foi o mais rápido, com sobras. "Foi a confirmação do que eu suspeitava. Pilotar um bom carro de F1 não é mais difícil do que pilotar um bom F3. Com um carro bom, independentemente da categoria, eu tinha talento o suficiente para conseguir vitórias", escreveu no livro.

A McLaren agradeceu, Byrne voltou para casa, mas ficou nisso.

O telefonema para um segundo teste ou para um contrato nunca veio. Dias depois, o "Motoring News", especializado em esporte a motor, noticiou que sua "atitude arrogante" não causou boa impressão no time. A negativa do começo do ano não passou impune.

Há 40 anos, Byrne passou pela pré-classificação e colocou o carro na 26ª e última posição do grid do GP da Áustria. Abandonou ao rodar na 29ª volta. Foi uma corrida de sobreviventes: só oito pilotos cruzaram a linha de chegada. A vitória foi de Elio de Angelis, da Lotus.

Ele só conseguiu largar em mais uma corrida na F1: Las Vegas, em setembro. Largou em 26ª, abandonou na 40ª volta, com outra rodada. Quando encontrou o chefe da equipe, mandou-o enfiar o carro... Bom, você entendeu.

Nunca mais correu na categoria. Perdeu-se. Envolveu-se com drogas, disputou campeonatos nos EUA, correu no México para um chefão do crime que promovia orgias após cada prova.

Hoje mora na Flórida e é instrutor de pilotagem.

Além de livro, sua história virou filme: "Crash and Burn", de 2016.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que informava o 14ª parágrafo do texto, Byrne passou pela pré-classificação há 40 anos não 20. A informação foi corrigida.