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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Sainz consegue 1ª vitória em GP para assistir de pé

O espanhol Carlos Sainz comemora sua primeira vitória na F1, no GP da Inglaterra, em Silverstone - Reprodução
O espanhol Carlos Sainz comemora sua primeira vitória na F1, no GP da Inglaterra, em Silverstone Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

03/07/2022 13h25

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O GP da Inglaterra foi de assistir de pé!

Teve acidente grave. Teve preocupação. Teve trocas frenéticas de posição. Teve um erro crasso da Ferrari. E, um dia após a primeira pole position, teve a primeira vitória de Sainz.

Ele se torna, assim, o segundo piloto da história da F1 que mais esperou até vencer pela primeira vez. O recorde é de Pérez, que só foi vencer um GP na sua 190ª tentativa.

O mexicano foi o segundo, com Hamilton em terceiro. Leclerc chegou em quarto. Verstappen viveu um domingo infernal e chegou apenas em sétimo lugar.

Foi a conclusão de um domingo que começou com muita preocupação na pista, mas que terminou com as melhores disputas do ano até agora.

Na largada, Sainz nem sequer viu Verstappen: foi superado nos primeiros metros. Hamilton pisou fundo, passou Pérez e Leclerc e pulou de quinto para terceiro. Mas a ação durou pouco.

Mais atrás, ainda na curva 3, no trecho da Arena, um acidente múltiplo causou tensão em Silverstone e provocou bandeira vermelha. Prova interrompida! Por 24 minutos, as informações foram escassas. Sabíamos apenas que Russell, Tsunoda, Ocon e Albon tiveram danos nos carros e que Zhou estava de cabeça pra baixo, capotado.

Quando as imagens foram liberadas, um choque. Foi o acidente mais feio na F1 desde o incêndio de Grosjean, no Bahrein, em 2020. Gasly tocou Russell na largada, que acertou Zhou. O chinês entrou de lado na brita, o que fez o carro capotar, decolar, passar por cima da barreira de pneus e ficar encaixado no alambrado, muito próximo ao público.

Ocon, Albon e Tsunoda colheram os resultados dessa bagunça. O chinês foi tirado do carro de ambulância e levado para o centro médico. O tailandês também teve de passar por exames. Imagens feitas por torcedores e postadas nas redes, como esta abaixo, são assustadoras.

(Mais cedo, na corrida da Fórmula 2, também houve um acidente feio. Dennis Hauger decolou numa zebra e acertou o carro de Roy Nissany. Nos dois casos, o halo salvou a vida dos pilotos.)

A nova largada veio quase uma hora depois. Todos os pilotos voltaram às posições originais. E, desta vez, Sainz não bobeou. Pistou forte e espremeu Verstappen para a direita. Os dois fizeram as primeiras curvas lado a lado, mas o espanhol prevaleceu. Metros atrás, Pérez acertou Leclerc e perdeu a asa dianteira. O monegasco assumiu o terceiro posto e tentou passar o holandês, mas foi fechado e chegou a sair da pista. Lances normais de corrida.

Na décima volta, Sainz era pressionando loucamente por Verstappen. Leclerc era o terceiro, com Hamilton em seu encalço. Fechando o top 10, Norris, Alonso, Gasly, Tsunoda, Ocon e Latifi. Pérez, que precisou passar pelos boxes para colocar um bico novo, era apenas o 16º.

Foi quando Sainz errou, um clássico do espanhol quando está sob pressão. Escapou na Chapel e cedeu a liderança para Verstappen. Mas durou pouco. Três voltas depois, pânico nos boxes da Red Bull: o holandês começou a perder desempenho e foi para os boxes trocar pneus. Não adiantou muito. "O carro está 100% quebrado", disse pelo rádio ao retornar à pista.

Sainz voltou à liderança, com Leclerc em segundo. Verstappen era apenas o sexto.

Em meio ao drama do holandês, a Red Bull teve outra má notícia. Tsunoda entrou lado a lado com Gasly na curva 3, a mesma da capotagem de Zhou, perdeu a traseira e bateu no francês. Eles foram para a área de escape. O japonês foi punido em 5 segundos pela direção de prova.

Leclerc, claro, partiu então com tudo para cima do companheiro. E as mensagens pelo rádio ferrarista ficaram frenéticas.

"O que eu faço com a minha corrida?", perguntou o monegasco pelo rádio, diante da resistência do companheiro. "Façam alguma coisa, por favor. Não estou tentando influenciar o resultado, apenas ir mais rápido", insistiu. "Acelere mais!", disse o engenheiro para Sainz. "Você precisa acelerar", reforçou. No que Sainz respondeu: "Não me fale isso de novo".

Na 21ª volta, o espanhol foi para os boxes, colocou pneus duros, retornou à pista em terceiro lugar. Leclerc assumiu a ponta, com Hamilton na perseguição.

Na 24ª, Verstappen voltou aos boxes para colocar pneus duros. "Não tenho aderência", reclamou ao voltar à pista e ser superado por Vettel. Foi um domingo infernal para o campeão.

Leclerc entrou na 26ª volta, exatamente a metade da prova, e Hamilton assumiu a liderança pela primeira vez na temporada. O monegasco caiu para terceiro, novamente atrás de Sainz.

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O espanhol Carlos Sainz, da Ferrari, durante o GP da Inglaterra, em Silverstone
Imagem: Ferrari

O rádio ferrarista voltou a funcionar. "Nós vamos brigar?", perguntou Leclerc. "Estamos liberados para lutar?", questionou de novo. Ato contínuo, Sainz ouviu a seguinte mensagem do seu engenheiro: "Ou você vira em 1min32s2 ou vamos mandar trocar". Desconfortável...

Na 31ª, Leclerc mergulhou, mas foi bloqueado. "Já avisamos que se ele não virar 1min32s2, vamos trocar". Nem deu tempo. O espanhol levantou o pé e deixou o companheiro passar.

Jogo de equipe nunca é legal, mas às vezes é compreensível. Sainz teve a chance dele. Se tivesse aberto para Leclerc, não teria ouvido nada pelo rádio. Não conseguiu, o companheiro está na briga pelo campeonato, teve de deixar passar. É do jogo, é da Fórmula 1.

Na 34ª volta, Hamilton entrou para colocar pneus duros. Leclerc passou em primeiro pela saída dos boxes, o inglês retornou em terceiro, atrás de Sainz. O pódio estava formado?

Não. A 13 voltas do fim, Ocon parou na antiga reta dos pits e o safety car entrou na pista. Muita gente aproveitou para ir aos boxes e colocar os pneus macios, Sainz e Hamilton entre eles. "Isso vai ser difícil", disse Leclerc pelo rádio.

Por que a Ferrari não chamou Leclerc? Eis um mistério a ser esclarecido ao fim da prova.

Quando o safety car saiu, a dez voltas do final, o monegasco tornou-se um alvo fácil.

Sainz colocou lado a lado e passou. E Pérez partiu pra cima de Hamilton, levando a terceira posição.

Mas ainda tinha mais, muito mais. Os pneus macios tornaram o fim de prova eletrizante. A seis voltas do fim, Pérez passou Leclerc, Hamilton passou os dois, os dois retomaram as posições. O monegasco, com pneus duros e usados, deu um show de resistência e agressividade, mas não conseguiu impedir a ultrapassagem final de Hamilton, a três voltas do fim.

"Eu não sei o que dizer. Vencer pela primeira vez com a Ferrari, em Silverstone... É um fim de semana que jamais vou esquecer. Estou muito feliz", disse Sainz, após a prova.

O sorriso era de quem havia acabado de tirar um caminhão das costas.