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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pílulas do Dia Seguinte: Conservadora, Ferrari não vai a lugar nenhum

Carlos Sainz faz seu segundo pit no GP do Canadá, colocando um jogo de pneus duros para o fim da prova - Ferrari
Carlos Sainz faz seu segundo pit no GP do Canadá, colocando um jogo de pneus duros para o fim da prova Imagem: Ferrari

Colunista do UOL

20/06/2022 08h49

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Faltavam 22 voltas para o fim do GP do Canadá quando Tsunoda bateu na curva 2. Na volta seguinte, Sainz entrou nos boxes para colocar pneus novos e se preparar para o ataque definitivo contra Verstappen. Saiu dos pits com pneus duros, iguais aos do holandês, sendo que tinha compostos macios, mais velozes, à disposição. Até agora não consigo entender;

"Eu estava pensando nisso agora", disse Sainz, após a corrida. "O safety car ficou na pista por mais tempo do que pensávamos. Quando veio a bandeira verde, faltavam apenas 16 voltas para o fim, o que era a janela ideal para ter pneus macios e atacar Max enquanto ele tentava aquecer os duros. Mas agora é fácil falar. Naquele momento, o duro era a melhor opção";

Não, não era a melhor opção. E isso estava claro. Na quinta-feira anterior a cada GP, a Pirelli emite um documento sobre o comportamento dos pneus naquele circuito, com detalhes sobre pressão, temperatura, cambagem... No dia da prova, coloca nas redes sociais sua previsão sobre estratégias de pits, com as janelas de melhor utilização de cada composto. Está lá, na versão postada ontem: em Montréal, os macios funcionariam bem por 17 até 22 voltas. Repetindo: quando Sainz entrou nos boxes, faltavam 21;

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A previsão da Pirelli para o GP do Canadá, indicando a janela dos pneus macios (vermelhos) por 17 a 22 voltas
Imagem: Pirelli

Alguém pode alegar que essa é uma previsão genérica, que cada carro se comporta de uma forma, que a F1-75 degrada mais pneus. Não parecia ser o caso de ontem, com temperatura do asfalto na casa dos 30°C. Tanto que Sainz fez seus pits sempre depois de Verstappen. "Chi non risica non rosica", dizem os italianos, o nosso "quem não arrisca, não petisca";

Historicamente, a Ferrari sempre foi uma equipe ousada, arisca, desafiadora. Está no seu DNA. Conservadora, como no Canadá, não vai a lugar nenhum;

A Red Bull também errou, como escrevia aqui: precipitou-se no primeiro pit de Verstappen e deixou-o vulnerável aos ataques de Sainz. Sua sorte foi justamente essa: os responsáveis pelos ataques eram Sainz e sua trupe de "estrategistas". Assim, entre aspas mesmo;

Há exatos 59 dias, Verstappen iniciava os treinos para o GP da Emilia Romagna amargando uma desvantagem de 46 pontos para o líder do campeonato, Leclerc. Em menos de dois meses, virou a situação. Hoje, tem os mesmos 46 pontos de vantagem para o segundo colocado, Pérez. A pergunta que a F1 faz é: o Mundial já acabou? Como ainda faltam 13 etapas, é cedo para cravar. Dois abandonos são suficientes para eliminar essa gordura, e seu companheiro ontem ficou pelo caminho com a caixa de câmbio quebrada;

A pergunta, claro, ronda os boxes da Red Bull. E Verstappen, cada vez mais maduro, se apressou em conter a empolgação por lá. "A vantagem é grande, mas a caminhada ainda é muito longa e acabo de provar que as coisas podem mudar rápido. Temos que permanecer calmos, manter o foco e melhorar. Desta vez não éramos os mais rápidos na corrida", disse;

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Comemoração da Red Bull pela vitória de Verstappen no Canadá, a sexta nesta temporada da F1
Imagem: Red Bull

Aliás, seu carro também sofreu com uma falha em Montréal: ficou sem rádio nas voltas finais. Melhor assim. Naquela situação de tensão, com um adversário no cangote abrindo o DRS por 16 voltas, tudo o que um piloto não quer é engenheiro dando dicas como "acelere forte";

E o Hamilton? Fazia tempo que não sorria tanto. Chegou ao Canadá dizendo que o W13 era o pior carro que já havia pilotado, saiu de lá com um pódio. Explicou que, depois de um início ruim na sexta, a equipe cruzou os dados dos carros e propôs um caminho: levantar a traseira e amolecer a suspensão. Funcionou. "Foi muito bom me sentir de volta à batalha. Por um segundo, no fim da prova, estive próximo de competir com eles. Saio daqui com esperança. Temos muito a tirar deste carro se acharmos o ajuste ideal", declarou o heptacampeão, sorriso de orelha a orelha. Quanta diferença...

Um motivo para este otimismo está no calendário. A partir de agora, serão sete corridas em autódromos, com pisos mais regulares e suaves, reduzindo o "porpoising", as quicadas contra o chão. O desempenho da Mercedes em Silverstone, daqui a duas semanas, será importante para ajudar a responder a pergunta lá de cima, sobre o título já nas mãos de Verstappen;

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Lewis Hamilton, Carlos Sainz e Max Verstappen no pódio do GP do Canadá
Imagem: Mercedes/LAT Images

A Sky Sports, que transmite a F1 na Inglaterra, postou uma brincadeira ontem à tarde. "Há três certezas na vida: a morte, os impostos e Russell terminando um GP entre os cinco primeiros". O garoto não conseguiu impor a oitava vitória sobre Hamilton, o que seria um recorde, mas duvido que estivesse pensando nisso. O importante mesmo foi manter sua incrível regularidade. São nove corridas seguidas no top 5. E, se há uma conta que está na sua cabeça, é a seguinte: hoje, apenas 18 pontos o separam da vice-liderança;

Alonso foi punido depois da prova por ziguezaguear na frente de Bottas na penúltima volta. Levou cinco segundos e caiu para nono. O espanhol sofreu um problema de motor a partir da 20ª volta que, segundo ele, o fez pilotar como um louco a partir de então. "Eu tinha que entrar como um kamikaze nas curvas antes do ponto de detecção do DRS porque abrir a asa era a única maneira que eu tinha de conseguir velocidade nas retas", contou. Isso talvez explique o que fez na frente do finlandês. Mas regras são regras, a punição foi correta;

Antes de Silverstone, chefes de equipe vão se reunir com a FIA para discutir a tal "Diretiva Técnica 39" que deixou mais dúvidas do que certezas no ar. Vai voar pena, como dizem no interior.