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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Mudanças da F1 para reduzir quicadas devem prejudicar Mercedes

Com dores nas costas, Lewis Hamilton sofre para deixar o carro da Mercedes ao fim do Azerbaijão - Bryn Lennon/Formula 1 via Getty Images
Com dores nas costas, Lewis Hamilton sofre para deixar o carro da Mercedes ao fim do Azerbaijão Imagem: Bryn Lennon/Formula 1 via Getty Images

Colunista do UOL

16/06/2022 15h10

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A situação em Baku foi feia demais. O tom das críticas subiu. Pilotos foram às redes para reclamar. A imagem de Hamilton com dores nas costas rodou o mundo. E a FIA cedeu.

A entidade máxima do automobilismo anunciou nesta quinta-feira, em Montréal, medidas para reduzir o "porpoising", as quicadas dos carros contra o asfalto. É uma admissão de que algo saiu muito errado no Regulamento Técnico de 2022, tão festejado antes do campeonato.

Na teoria, o espetáculo da F1 melhoraria. Para aumentar as ultrapassagens, o corpo técnico da FIA, liderado pelos engenheiros Ross Brawn e Pat Symonds, reduziu o a pressão aerodinâmica dos aerofólios e resgatou o efeito-solo, que havia sido banido em 1982. A ideia era que o assoalho dos carros assumisse a responsabilidade de "colar" os carros no chão.

Na prática, o espetáculo é deprimente. A mudança trouxe de volta um efeito colateral já verificado nos anos 80 mas que, aplicado aos carros de hoje, tornou-os quase inguiáveis, perigosos até. A situação fica ainda mais crítica em circuitos com ondulações no piso, como foi Baku, no último fim de semana, e como será Montréal, a partir desta sexta-feira.

A Diretiva Técnica 39, divulgada hoje, não oferece uma solução imediata para o problema. Mas já aponta um caminho. A FIA informou que vai "definir uma métrica, baseada na aceleração vertical dos carros", e então estabelecer um limite para as oscilações a cada GP.

Para isso, vai inspecionar com mais rigor a prancha de madeira dos assoalhos e coletar dados dos dois sensores de aceleração próximos ao centro de gravidade dos carros. Essa coleta de informações começará imediatamente, nos treinos livres de sexta-feira no Canadá.

A fórmula matemática dessa métrica está sendo analisada pelos engenheiros da entidade. Todos os sábados, antes do último treino livre, a FIA vai divulgar qual é o limite para o resto do fim de semana. Carros que superarem a marca terão que passar por mudanças nos ajustes.

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Sergio Pérez, vice-líder do Mundial, conversa com engenheiros no paddock de Montréal nesta quinta
Imagem: Dan Mullan/Getty Images/Red Bull

As equipes foram convidadas a participar dos debates. Segundo o comunicado da FIA, a mudança será implantada ainda nesta temporada, no "médio prazo".

"Num esporte com velocidades superiores a 300 km/h, o piloto deve estar totalmente concentrado", diz a nota. "Fadiga e dor podem ter um impacto significativo e atrapalhar a concentração. A FIA também está preocupada com o impacto físico de médio prazo na saúde dos pilotos, muitos dos quais se queixaram de dores nas costas após as últimas corridas."

Em tese, equipes que estão sofrendo mais com o porpoising sairão perdendo. Serão obrigadas a mexer na altura dos carros antes da classificação, perdendo rendimento na pista. As costas dos pilotos serão poupadas, mas os tempos de volta subirão. A Mercedes está nessa lista.

A Red Bull, que ironicamente era contra qualquer mudança nas regras ao longo do campeonato, deve ter vida ainda mais tranquila.

Ou talvez seja melhor esperar para ver como tudo se resolverá a partir do momento em que a regra for publicada.

Brawn e Symonds provaram dessa lição amarga em 2022: na prática, a teoria da F1 é outra.