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Fábio Seixas

REPORTAGEM

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Perdida em 2022, Mercedes só espera pela volta aos autódromos

O inglês Andrew Shovlin, diretor de engenharia da Mercedes - Mercedes
O inglês Andrew Shovlin, diretor de engenharia da Mercedes Imagem: Mercedes

Colunista do UOL

14/06/2022 10h20

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"Quanto mais você aprende, mais descobre que não sabe nada." Poderia ser só mais um provérbio pintado na parede de um cursinho pré-vestibular. Mas é o estado das coisas na equipe que dominou a F1 nos últimos anos, a atual campeã Mundial de Construtores.

A frase foi dita por Andrew Shovlin, diretor de engenharia da Mercedes, domingo em Baku. O circuito ainda fervia, todos estavam de sangue e cabeça quentes. É a melhor oportunidade para conseguir declarações francas, sinceras, sem os filtros das assessorias de imprensa.

Foi nesse ambiente que o engenheiro inglês, que trabalha em Brackley desde os tempos de BAR, abriu o coração. O que está acontecendo com a Mercedes? Por que a reação esboçada em Barcelona não vingou? Nem ele sabe ao certo. No máximo, tem algumas pistas.

"Percebemos que é um problema muito, muito complicado. Não é o tipo de problema em que mudamos uma coisa e, pronto, acabou, você pode esquecer pra sempre. Não. Está sempre lá. Você tem que ficar debruçado sobre ele o tempo todo", explicou.

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Com dores nas costas, Lewis Hamilton sofre para sair do carro ao fim do GP do Azerbaijão
Imagem: Bryn Lennon/Formula 1 via Getty Images

Ele, o problema no caso, é o "porpoising". São as quicadas dos carros contra o asfalto que prejudicam o desempenho na pista, que causam quebras mecânicas, que desafiam os engenheiros, que provocam dores nos pilotos. Que mudaram o cenário da F1 neste ano. Que se tornaram um inferno ainda maior para algumas equipes, Mercedes entre elas.

Depois de um início de campeonato muito ruim, distante da luta por vitórias e marcando apenas 95 pontos nas cinco primeiras etapas _foram 148 na mesma altura de 2021_, a Mercedes ensaiou uma recuperação em Barcelona. Hamilton atingiu as maiores velocidades em reta tanto na classificação como na corrida, e Russell foi o melhor piloto na curva 3, um ponto do circuito usado como termômetro pelas equipes para medir eficiência aerodinâmica.

A Mercedes saiu de lá feliz da vida. "Estou feliz com nosso progresso, está muito melhor", disse o heptacampeão. "O carro está definitivamente diferente", cravou Russell. "F1 com 3 forças começa a virar realidade", escrevi no dia seguinte à corrida. Fomos precipitados.

Em Mônaco, as quicadas no asfalto voltaram. E, no Azerbaijão, a situação foi tão crítica que Hamilton começou a prova dizendo não saber se aguentaria chegar ao final.

O xis da questão é encontrar a regulagem da altura do carro com o efeito-solo, novidade do regulamento neste ano e que "puxa" o assoalho contra o asfalto.

Para atingir seu pico de desempenho, o W13 precisa estar próximo do chão. Em Barcelona, ambiente controlado, com piso liso, tudo funcionou bem. Em pistas de rua, o jogo vira.

"O que vivemos em Baku foi uma continuação de Mônaco. Em Barcelona, tudo foi calmo e confortável para os pilotos. Mas em circuitos ondulados, a pilotagem vira um tormento. Ainda não conseguimos distinguir as questões aerodinâmicas das mecânicas e os reflexos na suspensão e nos amortecedores. Ainda temos muito trabalho a fazer", afirmou Shovlin.

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Carro de Hamilton antes da largada em Baku, quinto circuito de rua até agora na temporada
Imagem: Mercedes

Para aflição da Mercedes, cinco das oito etapas até agora foram em circuitos provisórios: Jeddah, Melbourne, Miami, Mônaco e Baku. E a próxima também é: Montréal, no domingo.

Enquanto Shovlin e seu time não decifram o enigma, resta a Hamilton e Russell esperar a temporada de corridas em autódromos. Depois do Canadá vem Silverstone, que inicia uma sequência de sete provas em circuitos fechados.

É muito pouco para a equipe que conquistou os últimos 8 Mundiais de Construtores. E é a mais clamorosa demonstração do tamanho do obstáculo criado pelas novas regras.