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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Williams anuncia teste com campeão da Fórmula E e inicia fritura de Latifi

O holandês Nyck de Vries comemora vitória em Berlim, sua segunda na temporada 2022 da Fórmula E  - Sam Bagnall/Fórmula E
O holandês Nyck de Vries comemora vitória em Berlim, sua segunda na temporada 2022 da Fórmula E Imagem: Sam Bagnall/Fórmula E

Colunista do UOL

16/05/2022 08h43

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Na abertura do Mundial, no Bahrein, Latifi bateu. Segunda etapa, na Arábia Saudita: bateu duas vezes, na classificação e na corrida. GP da Austrália: na classificação, o canadense se enroscou com Stroll e destruiu o carro no muro. A série sobe para quatro etapas se considerarmos a última etapa de 2021 e sua inesquecível batida que decidiu o Mundial.

A paciência acabou. A Williams busca um substituto. E nem a fortuna que o pai do piloto despeja na equipe nem o fato de ele ter chegado ao fim dos últimos dois GPs parecem mudar um plano já em curso e que ganhou contornos bem concretos nesta segunda-feira.

A Williams anunciou que Nyck de Vries vai andar com o FW44 na sexta-feira, no primeiro treino livre para o GP da Espanha, em Barcelona. Vai ocupar o carro de Albon. Ou seja: por uma hora, a equipe vai poder comparar o desempenho de Latifi com o do novato nas exatas mesmas condições. O resultado pode ser determinante para uma decisão já neste ano.

De Vries espera essa oportunidade faz tempo. E a merece. O holandês de 27 anos foi campeão europeu da Fórmula Renault em 2014, conquistou a Fórmula 2 em 2019, mas não encontrou uma porta aberta na F1. Sem problemas: foi para a Fórmula E e conquistou o título no ano passado, na sua segunda temporada. No domingo, em Berlim, venceu pela segunda vez no campeonato, recolocando-se na disputa pela liderança. É agressivo, emotivo, muito rápido.

A vaga na Williams quase veio no fim do ano passado, mas o time preferiu Albon, que já carregava duas temporadas de F1 nas costas _decisão acertada, diga-se, o tailandês vem fazendo milagres com o carro que tem. Apadrinhado pela Mercedes, De Vries precisou se conformar com a posição decorativa de piloto de testes da Mercedes e da McLaren.

O holandês só andou duas vezes de F1 até hoje: com a Mercedes, em 2020 e 2021, sempre em Abu Dhabi, naquelas sessões pós-fim de campeonato. No ano passado, foi o mais rápido.

A escalação de novatos em treinos livres é uma novidade no regulamento e visa exatamente amenizar a falta de testes. Ao longo do ano, cada equipe é obrigada a ceder por duas vezes um de seus carros na primeira sessão para um piloto com menos de dois GPs de experiência.

A depender do desempenho de De Vries, a Williams pode iniciar uma contagem regressiva. A temporada da Fórmula E termina em agosto. Ainda restarão dez (ou nove) etapas da F1 pela frente. É tempo suficiente para um piloto mais competente ajudá-la na batalha por mais pontos no Mundial _que se traduzem em dinheiro na hora de repartir o bolo da categoria.

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Nicholas Latifi, da Williams, bate na barreira de proteção no GP da Arábia Saudita, segunda etapa do Mundial
Imagem: Divulgação/F1

Aos 26, Latifi é o clássico caso de piloto pagante, uma espécie que se tornará cada vez mais rara com grandes corporações tomando conta das equipes.

Nunca conquistou um título nas categorias de base, mas cavou uma vaga na F1 graças ao pai bilionário, dono da Sofina, gigante canadense do ramo de alimentos processados. Estreou em 2020, disputou 44 GPs e seu melhor resultado até agora foi o sétimo lugar naquela corrida maluca da Hungria, no ano passado.

Mas a equipe inglesa está preparada para abrir mão dos milhões da Sofina? Sim. Quando Latifi negociou sua vaga, o time era administrado pela família Williams e estava na pindaíba. Em agosto do mesmo ano, foi vendido para o Dorilton Capital, um fundo de investimentos.

Receber dinheiro é sempre bom, claro, mas as batidas de Latifi podem a comprometer o desenvolvimento da equipe. Neste ano de tantas modificações técnicas nos carros, o limite de gastos é de US$ 140 milhões por time.

O contrato do canadense termina no fim do ano, mas a Williams pode exercer uma possível cláusula de desempenho para substituí-lo no meio do campeonato. Ou pode esperar para fazer a troca com mais calma e menos traumas ao fim da temporada.

Em qualquer dos dois casos, a Williams sairá ganhando.