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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Em Miami, Fórmula 1 festeja e bajula seu novo eldorado

O líder do Mundial de F1, Charles Leclerc, arremessa bola antes de jogo do Miami Marlins, time da MLB - Ferrari
O líder do Mundial de F1, Charles Leclerc, arremessa bola antes de jogo do Miami Marlins, time da MLB Imagem: Ferrari

Colunista do UOL

04/05/2022 16h58

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Sepang, outubro de 1999. Primeira vez da F1 na Malásia, um país então estratégico para os planos de expansão da categoria. Na chegada ao autódromo, nenhuma alma viva. Nas arquibancadas, quase ninguém. Na capital, Kuala Lumpur, um cartaz aqui, outro ali, mais nada.

O cenário se repetiu no Bahrein, em abril de 2004. E até mesmo na China, em setembro do mesmo ano, com direito à pergunta do repórter local que virou folclore: questionou o ferrarista Schumacher se ele estava usando vermelho em homenagem à bandeira do país.

Foi inevitável lembrar desses episódios nesta semana pré-GP de Miami. Porque o contraste é violento. Nunca uma corrida de F1 foi tão promovida, nunca um circuito foi tão badalado, nunca um público foi tão bajulado. A sensação da categoria é de que, enfim, o eldorado foi ocupado. E ninguém está a fim de deixar essa conquista tão sonhada escapar pelos dedos.

"Cresci sabendo o quanto esse esporte é incrível, mas percebendo uma desconexão com os EUA. É incrível ver que quebramos essa barreira e de que há um amor crescente pela F1 por aqui", disse Hamilton, maior vencedor da história de GPs dos EUA, com seis vitórias.

Na terça, o inglês deu entrevista ao vivo para o "Good Morning America", na ABC, um dos programas mais popular do país. Nesta quarta, participou de um dos incontáveis eventos promocionais em torno da corrida do fim de semana: um "torneio de golfe" em Miami com Tom Brady.

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Carrinho de golfe com nome de Tom Brady antes de disputa de jogo promocional com Lewis Hamilton
Imagem: Mercedes

O ícone da NFL é só um dos astros convidados para o GP. A lista de celebridades inclui nomes do esporte, das artes e do entretenimento como Michael Jordan, LeBron James, David Beckham, Dan Marino, as irmãs Venus e Serena Williams, Pharrell Williams, Travis Scott, Snoop Dogg, Martin Garrix, Calvin Harris, Wyclef Jean, James Corden...

Ao longo dos três dias de evento, haverá show de atrações como The Chainsmokers, Post Malone, Zedd, BLXST, Gianluca Vacchi e Tiësto. No domingo à tarde, assim que a celebração do pódio terminar, o colombiano Maluma ocupará o espaço e fará uma apresentação.

Será a conclusão de uma semana festiva para o publico e de muito trabalho para as áreas de marketing e relações públicas das equipes. Antes mesmo de pisar nos EUA, o ritmo foi intenso.

No início da semana, 7 das 10 equipes soltaram nas redes sociais posts emulando pôsteres da corrida. A estética foi muito parecida: muito rosa, muito "verde Miami" e referências à praia, quase sempre numa pegada art déco.

A Red Bull foi exceção, mas, claro, preparou algumas ações especiais. Na terça, Verstappen e Tsunoda se enfrentaram numa corrida com estranhos veículos em um canal alagado. Nesta quarta, o holandês se uniu a Pérez e lançaram bolas na abertura do jogo do Miami Marlins.

O lugar esteve concorrido: na véspera, Leclerc, líder do Mundial, passou por lá e também arremessou bolas, além de trocar camisas, pegar autógrafos, posar para fotos.

Tanto empenho tem uma raiz no passado e os dois olhos no futuro.

A F1 sempre viu os EUA como o mercado dos sonhos, mas nunca havia conseguido de fato fincar sua bandeira ali. Por quase toda a década de 90, entre 1991 e 1999, o país ficou sem uma etapa do Mundial. Retornou em 2000 em grande estilo, correndo em Indianápolis, o templo do automobilismo americano, mas nem isso foi capaz de empolgar o público.

A virada de chave veio em duas etapas.

Primeiro, com a chegada da Liberty Media, que assumiu a categoria em 2016 e, pouco a pouco, passou a gerir o negócio com uma visão mais voltada ao marketing e ao entretenimento. Em vários aspectos, a gestão da F1 hoje lembra a de ligas americanas de esportes profissionais.

Depois, com o sucesso de "Drive To Survive", fruto da etapa anterior. Deu muito certo, a ponto de 400 mil torcedores terem circulado por Austin no último GP dos EUA, em outubro passado.

Nos EUA, como os americanos. A europeia Fórmula 1 se curvou nesta semana, a ponto de já haver quem defenda que Mônaco deixe o calendário e ceda sua vaga _e seu glamour_ para Miami. (O segundo ponto não tem comparação, mas este é papo para outro dia).

Com a Liberty no comando e as equipes engajadas em ocupar o mercado, a conquista dos EUA parece um caminho sem volta. E é só o começo.

O frisson em Las Vegas, no ano que vem, deve ser ainda maior.