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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Uma vez por ano, a F-1 nos lembra: o dinheiro é quem manda

O estádio do Miami Dolphins, time da NFL, no entorno do qual será montado o circuito do GP de Miami  - Divulgação
O estádio do Miami Dolphins, time da NFL, no entorno do qual será montado o circuito do GP de Miami Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

15/10/2021 15h13

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E lá vamos nós mais uma vez: a F-1 anunciou nesta sexta-feira o calendário para a próxima temporada, novamente com 23 corridas, um recorde, uma obsessão dos dirigentes.

A notícia foi idêntica no ano passado. Mas com tantos cancelamentos e mudanças nos últimos meses, por causa da pandemia, o máximo que a FIA conseguiu organizar foram 22 etapas. Mesmo assim é uma façanha digna de aplausos, precisamos reconhecer.

O calendário divulgado após reunião do Conselho Mundial da entidade prevê a abertura do 73º campeonato da F-1 em 18 de março, no Bahrein. Uma semana antes, as equipes farão a última bateria de testes lá mesmo em Sakhir.

The 2022 #F1 calendar is here!

A record-breaking 23 races
A brand new grand prix in Miami
Australia, Canada, Singapore and Japan all return pic.twitter.com/khq5lAF1IR

-- Formula 1 (@F1) October 15, 2021

A Austrália, que desde 2011 abria o campeonato de forma ininterrupta, perdeu a primazia após os cancelamentos em 2020 e 2021. O sempre festivo GP no Albert Park será apenas a terceira etapa, após a Arábia Saudita.

Entre os circuitos resgatados pela F-1 por causa da pandemia, apenas Ímola fica no calendário: será a quarta etapa, em abril.

Istambul, Portimão e Mugello estão fora.

Por quê? Dinheiro é a única explicação, o fato de decisão. Do ponto de vista técnico, é uma lástima. Os dois primeiros, principalmente, são muito melhores do que vários circuitos confirmados, como Sochi, Abu Dhabi e Barcelona.

Outras duas corridas que chegaram a aparecer nos últimos calendários também dançaram: Vietnã e China.

No primeiro caso, dirigentes se envolveram em escândalos políticos e a prova nunca mais foi cogitada. O mundo ganha, assim, mais um elefante branco para fazer companhia aos autódromos da Índia, da Coreia do Sul, da Malásia... No segundo, o problema ainda é a situação da pandemia.

O Brasil receberá a 22ª e penúltima etapa, em 13 de novembro, e o calendário será fechado uma semana depois, em Abu Dhabi. Um deslocamento e tanto, que com certeza vai gerar críticas pesadas das equipes, principalmente por acontecer ao fim de uma temporada tão longa.

Há um motivo para a pressa: no dia seguinte ao encerramento do Mundial de F-1, começa a Copa do Mundo do Qatar. A categoria não quis correr o risco de decidir o título em meio ao maior evento do futebol.

maximola - Miguel MEDINA / AFP - Miguel MEDINA / AFP
Max Verstappen, que venceu a corrida de Ímola nesta temporada
Imagem: Miguel MEDINA / AFP

Por este mesmo motivo, a Copa do Mundo, o Qatar não terá corrida em 2022. Mas retornará em 2023. Ou seja, um desses circuitos deve rodar. Imagino que será Ímola.

O Mundial de 2022 terá apenas uma novidade: o GP de Miami, quinta etapa, em maio. Que, ao que tudo indica, não arrancará suspiros de ninguém. O alguém enxerga grandes qualidades num circuito montado no estacionamento de um estádio?

Não gosto de um campeonato com tantas corridas, acho que banaliza o espetáculo e torna sacrificante demais a vida de quem trabalha com a categoria.

"Ah, mas a NASCAR tem corrida todo fim de semana." Sim, meu filho. Uma coisa é colocar o carro no caminhão e viajar do Texas para a Carolina do Norte. Outra, bem diferente, é viajar o mundo carregando estruturas muito mais complexas e batalhões enormes de funcionários.

As equipes vão chiar? Vão. Já estão chiando, aliás. Vai adiantar? Nada. E se mais algum país aparecer com uma fortuna para queimar, os próximos Mundiais serão ainda mais inchados.

O dinheiro manda, assim é a F-1 desde os anos 80. Fica o aviso para quem está chegando agora: uma vez por ano, os dirigentes nos lembram disso.