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Rossi para, mas a diversão fica
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Bate um sentimento estranho quando uma lenda do esporte decide parar, quando alguém que acompanhamos há tanto tempo resolve sair de cena, pendurar o capacete.
Como assim? Quer dizer que ídolo e modalidade são indissociáveis? Podem viver longe um do outro? E o vazio que fica?
Como pode Valentino Rossi viver longe da MotoGP? Mas a pergunta principal é: como pode a MotoGP continuar sem Valentino Rossi?
Aos 42, "Il Dottore" anunciou nesta quinta-feira que esta será sua última temporada no Mundial. "É difícil, é um momento triste. É duro saber que não correrei de moto no ano que vem", disse o italiano, numa entrevista coletiva convocada de surpresa na Áustria, onde a MotoGP corre no domingo sua 10ª etapa. "Foi uma longa jornada, muito divertida."
São exatamente os pontos que calam fundo: longa jornada, muito divertida.
Rossi estreou no Mundial de 125cc em 1996, aos 17 anos. Na temporada seguinte, foi campeão. Estrou nas 250cc em 1998. Na temporada seguinte, foi campeão. Estreou na categoria principal, então 500cc, em 2000. Na temporada seguinte? Sim, venceu o primeiro de seus sete títulos, marca que só fica abaixo do octa de Giacomo Agostini, o maior de todos.
Somando as três principais categorias do automobilismo, foram 414 largadas e 115 vitórias, 89 delas na classe principal.
Nos últimos anos, é verdade, tornou-se um coadjuvante do campeonato. Seu último título veio em 2009. Na temporada passada, foi 15º e não teve o contrato renovado com a Yamaha. Neste ano, correndo com uma estrutura que montou ao seu redor, é apenas o 19º.
Mas seu maior legado já estava estabelecido havia tempos. Porque mesmo em baixa, Rossi não deixou de se divertir e de nos proporcionar diversão. A jornada foi longa, a carreira foi super vitoriosa, mas o grande feito do italiano foi ter mudado a cara da MotoGP.
O piloto de macacões brilhantes, capacetes com provocações e caricaturas, entrevistas hilárias e comemorações antes inconcebíveis tornou a categoria, e todo o motociclismo, muito mais populares, muito mais gostosos de acompanhar. Tornou-se a face mais visível das duas rodas. E, entre uma palhaçada e outra, cravava poles, ganhava corridas, acumulava títulos.
Citei as comemorações, hoje repetidas por outros pilotos do grid...
A lista de cenas antológicas protagonizadas por Rossi é enorme. Em Donington-05, depois de ganhar uma prova na chuva, ele cruzou a linha de chegada em pé, simulando tocar violino. Em Jerez-07, ele "jogou boliche" com torcedores fantasiados de pinos _tudo pré-combinado, claro. Em Brno-03, pegou uma picareta e fingiu quebrar pedras com um torcedor fantasiado de presidiário _era uma crítica à imprensa, que o "condenava" a sempre vencer.
Mas minha preferida foi em Jerez-99, ainda na 250cc. Ele parou a moto, entrou num banheiro químicos e só saiu após alguns bons segundos lá dentro. Foi real? Foi só teatrinho? Não importa, foi divertido demais.
É isso: Rossi injetou uma dose cavalar de entretenimento no esporte. E esta é uma obsessão, hoje, de 10 entre 10 promotores de eventos ao redor do mundo.
Não à toa foi o sonho de consumo da F-1 por anos, a ponto de ter sido convidado para testes com a Ferrari em 2004, 2006 e 2009. Não deu certo. Azar do automobilismo.
A MotoGP vai sobreviver sem Rossi, claro. Será, inclusive, mais divertida do que quando ele chegou.
Mas justamente porque, um dia, ele chegou.
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