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O dia em que a F-1 correu nas Olimpíadas
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"Ah, mas automobilismo nem é esporte."
Vira e mexe alguém lança essa para provocar. Normalmente respondo falando sobre a condição física necessária para segurar um carro numa curva de alta velocidade, sobre o preparo mental para aguentar duas horas de GP, sobre o desgaste de trabalhar num cockpit em que a temperatura supera os 50°C. Não por acaso boa parte dos pilotos hoje pratica triatlo.
Em tempos de Tóquio-2020, talvez seja ilustrativo falar também sobre Olimpíadas. Sim, há vários pontos em comum com a F-1. O mais emblemático aconteceu há 65 anos.
Imagine Hamilton e Verstappen circulando entre os atletas em Tóquio e correndo no domingo. Aconteceu algo parecido nos Jogos de Melbourne em 1956, o "GP Olímpico".
Foi uma prova extracampeonato realizada em meio aos Jogos, com alguns dos maiores nomes do automobilismo. E que foi possível graças a uma particularidade australiana.
À época, os domingos eram "dias de descanso" inegociáveis, e isso afetou a programação dos Jogos. Os eventos da 16ª Olimpíada da era moderna foram espalhados por três semanas, sem nada previsto aos domingos. E a F-1 viu aí uma oportunidade de visibilidade.
Em parceria com o comitê organizador dos Jogos, a categoria organizou uma corrida no Albert Park, no coração de Melbourne, para entreter os torcedores e atletas que estavam na Austrália. Havia também um festival de música.
A prova foi batizada de "GP Olímpico" e teve mais sucesso. Os números são muito divergentes e indicam de 100 mil a 200 mil espectadores na corrida, naquele 2 de dezembro. Embora tenha ocorrido no mesmo parque que até hoje abriga a F-1, o circuito era outro: mais curto, em sentido anti-horário.
A vitória ficou com Stirling Moss, uma lenda da F-1, ao volante de uma Maserati. Foi seguido por seu companheiro de equipe, o francês Jean Behra, com o inglês Peter Whitehead em terceiro, com uma Ferrari.
E não, eles não levaram medalhas para casa, mas troféus comuns. Faltou alguém bom de marketing na ocasião...
Mas houve outros cruzamentos entre automobilismo e Olimpíadas ao longo dos tempos. Alguns bizarros, outros gloriosos.
A segunda edição dos Jogos da era moderna, Paris-1900, aconteceu como parte da Feira Mundial. Houve 14 eventos automobilísticos junto com os Jogos _até uma corrida de táxis.
Quase um século depois, em Barcelona-1992, uma corrida de F-1 foi rotulada informalmente de "GP Olímpico". A prova aconteceu três meses antes dos Jogos, quando a cidade já respirava Olimpíada, e foi vencida por Nigel Mansell, com a Williams.
Pelo menos sete pilotos de F-1 viveram experiências olímpicas.
O mais bem sucedido deles é o grande herói deste blog: Alessandro Zanardi, que perdeu as pernas num acidente na Indy e, como paratleta, se tornou o maior campeão olímpico do paraciclismo. Soma seis medalhas, sendo quatro de ouro, em duas edições dos Jogos.
Hoje, o italiano se recupera de um acidente que sofreu numa competição na Itália, há pouco mais de um ano. Segundo a família revelou no mês passado, Zanardi está em "estado estável, ainda sem falar, mas passando por treinamentos para o cérebro e para o corpo".
Alfonso de Portago, Príncipe Bira, Robert Mieres, Bob Said, Robin Widdows e Divina Galica completam a lista de ex-pilotos de F-1 que disputaram Jogos de Verão e de Inverno.
Quem passou mais perto de uma medalha foi De Portago, quarto colocado no bobsled nos Jogos de Inverno de Cortina D'Ampezzo, também em 1956.
Sim, ele correu de F-1 e competia de bobsled. Milionário que ostentava título de marquês, o espanhol gostava do perigo. No ano seguinte, morreu quando corria a Mille Miglia e um pneu de sua Ferrari explodiu.
Em 2011, a FIA passou a ser uma entidade esportiva integrante do COI.
Outro GP Olímpico à vista? Quem sabe...
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