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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

É hora de a Red Bull esfriar a cabeça

Christian Horner, chefe da Red Bull, concede entrevista - Duda Bairros/AGIF
Christian Horner, chefe da Red Bull, concede entrevista Imagem: Duda Bairros/AGIF

Colunista do UOL

21/07/2021 11h02

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Verstappen ainda estava na ambulância quando a Red Bull começou a reagir publicamente ao acidente na Copse.

Primeiro foi Horner, em comunicação com o diretor da FIA Michael Masi, exposta ao vivo pela transmissão do GP.

"Hey, Michael, veja... Ele não estava nem perto de ficar lado a lado naquela curva. Nenhum piloto tenta ultrapassar por dentro da Copse. Foi um acidente enorme, a curva era 100% do Max. A culpa foi toda do Hamilton, ele jamais deveria estar ali. Graças a Deus que o Max está ok. Espero que vocês tomem uma atitude apropriada", disse o chefe da Red Bull.

Na sequência, ainda na bandeira vermelha, veio Marko, conselheiro do dono da equipe e mais famosa eminência parda da F-1 atual. "Se um competidor acerta com violência nossa roda traseira na curva mais veloz de um circuito, não dá para chamar de 'acidente de corrida'. É um comportamento perigoso. Uma atitude assim tem que ser punida com uma suspensão ou algo parecido", lançou em entrevista à TV alemã.

batidasilv - Reprodução/F1 - Reprodução/F1
Verstappen leva a pior em toque com Hamilton no GP da Inglaterra
Imagem: Reprodução/F1

Ok, todos estavam de cabeça quente, é compreensível. Mas não ficou por aí.

Depois da corrida, ainda em Silverstone, Horner seguiu batendo duro. "Hamilton é oito vezes campeão mundial". Oito? Ops, ato falho. "Ele não deveria fazer manobras como aquela. É inaceitável. Estou desapontado de ver um alguém do calibre dele pilotando de forma tão perigosa. O que ele conquistou aqui foi uma vitória vazia."

Ainda na tarde de domingo Verstappen publicou seu já famoso post nas redes, dizendo que se sentiu desrespeitado por ver Hamilton celebrando com os fãs enquanto ainda estava no hospital. E Horner e Marko mantiveram as metralhadoras acionadas segunda e terça-feiras.

Horner disse que chefes de equipes não deveria fazer lobby com comissários. Marko declarou que "mortais comuns" não sobreviveriam a acidente tão forte, relevou que advogados da equipe estão estudando uma forma de pedir punição maior a Hamilton e terminou com um muxoxo dos tempos de colégio, dizendo que a Red Bull não vai se rebaixar ao nível da Mercedes na luta pelo título mundial.

É pra tanto? Verstappen, afinal, continua líder do Mundial de Pilotos. A Red Bull permanece na ponta nos Construtores e, até onde sei, segue tendo o melhor carro do grid.

Ambos, piloto e equipe, são favoritos aos títulos desta temporada. Em condições normais de temperatura e pressão, conseguirão recuperar em poucos GPs o prejuízo de Silverstone.

É aí que mora o problema. No favoritismo, na pressão que essa situação traz.

A reação da Red Bull revela um medo enorme de fracassar. Depois de sete temporadas sendo espancados pela Mercedes, relegados à segunda prateleira da F-1, Horner e Marko sabem que têm neste ano a melhor chance de ir à forra. Não querem perdê-la de jeito nenhum.

Os planos seguiam em águas tranquilas até Verstappen e Hamilton chegarem juntos à Copse. Uma onda mais forte chacoalhou tudo. Os capitães do navio, em vez de passarem tranquilidade à tripulação, se desesperaram.

Faltam nove dias para o início dos treinos em Budapeste. É tempo suficiente para esfriarem a cabeça, refletirem, lembrarem que têm na garagem um carro que é um rojão. E é fundamental para a Red Bull que eles transmitam isso a Verstappen, piloto tão elogiado neste ano por ter atingido a maturidade. Do alto de seus 78 anos, Marko deveria dar o exemplo.

Entender que problemas acontecem é parte fundamental de saber ganhar. Imaginar que uma temporada inteira seguiria por águas calmas é ingenuidade ou prepotência.

(Até onde sei, na F-1 o primeiro item está em extinção há décadas.)