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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O blog está de volta

A quatro dias dos primeiros treinos livres da temporada 2021, o blog dá a largada - Mario Renzi - Formula 1/via Getty Images
A quatro dias dos primeiros treinos livres da temporada 2021, o blog dá a largada Imagem: Mario Renzi - Formula 1/via Getty Images

Colunista do UOL

22/03/2021 10h00

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Lembro da ansiedade e das incertezas quando escrevi o primeiro post do meu primeiro blog. Foi há quase 15 anos, em setembro de 2006, na sala de imprensa de Monza.

A ideia naquele momento era usar o espaço como um repositório de assuntos que não cabiam nas páginas do jornal. Notas de bastidores, impressões, observações, palpites, curiosidades...

Não, eu não imaginava o que viria pela frente. Foram cerca de 3.000 posts no blog da Folha, mais uns 1.200 no blog do SporTV. Foram índices grandiosos de acesso, marcas que deixaram muitas pessoas surpresas, gente que passou a entender ali a força do esporte a motor e de seus fãs.

Mas não são os números que me comovem. Ou que me movem.

O que mexe comigo, e que foi fundamental na decisão de voltar, é o espírito que se criou em torno do blog e que espero retomar agora.

Um espírito de comunidade, de camaradagem, de colaboração. No blog, fiz amigos, leitores com quem continuei cruzando nos últimos anos nas ruas, no Twitter ou no Instagram. Por causa do blog, tenho há tempos a convicção de que o automobilismo é o segundo esporte na preferência dos brasileiros. É uma massa silenciosa, que não sai às ruas com a camisa do time nem grita "gol" na janela. Mas é uma multidão que acompanha todos os GPs e que consome conteúdo e interage cada vez mais.

Amei contar no antigo blog o nascimento da Julia e a primeira vez dela num estádio de futebol. Hoje ela tem 13 anos, assiste aos GPs comigo e viu até alguns episódios de "Drive To Survive". Nesses anos ela também ganhou um irmão. Pedro, juro que não influenciei, é louco por tudo o que tem motor. A ponto de parar de brincar e correr para a varanda quando escuta o ronco de uma moto. A F-1 ainda não o encantou. Seus favoritos são os ônibus. Quando a maldita pandemia passar, prometo, vou levá-lo para uma volta sem destino certo.

Muita coisa também mudou na F-1 nesses últimos anos. E a maior mudança acontece no seu comando. A categoria vive hoje o início de sua segunda grande revolução de gestão.

A primeira ocorreu quando Ecclestone e Mosley tomaram as rédeas do campeonato e o transformaram em um ambiente muito mais profissional. Estamos falando da virada dos anos 70 para os 80. Ao longo das décadas seguintes, a F-1 cresceu, ganhou o mundo, ficou mais rica, mas também mais hostil. Tornou-se quase impenetrável _tanto para novos times e pilotos como para os fãs em geral.

Mas tudo passa. Os dirigentes envelhecem. Os métodos ficam obsoletos. A chegada da Liberty, há pouco mais de quatro anos, foi o oxigênio de que a F-1 precisava. Não é fácil mudar uma cultura organizacional, mas pouco a pouco os americanos vão alcançando seus objetivos. Já citei aqui o "Drive To Survive". Alguém imagina uma série como aquela na Era Ecclestone? (Bom, eu já fui expulso dos boxes da Sauber pelo próprio Peter Sauber quando tudo o que eu fazia, como repórter numa transmissão ao vivo, era observar os tempos de volta num monitor.) As redes sociais são outro exemplo. Antes desprezadas, hoje são protagonistas na missão de tornar a F-1 um ambiente mais simpático.

A categoria pode ser um produto tão legal quanto a NBA e a NFL, quanto a Premier League, quanto a MotoGP. O caminho é longo, mas os primeiros passos já foram dados.

Os personagens também mudaram. Quando entrevistei Hamilton pela primeira vez, em 1999, ele já carregava uma autoconfiança enorme. "Sempre fui bom", disse na ocasião. Aquele "sempre" dele tinha então 14 anos. Hoje o cara é heptacampeão mundial e neste ano deve alcançar um olimpo antes inimaginável: transformar alguns recordes em marcas com três dígitos. Lewis Carl Davidson Hamilton soma hoje 95 vitórias e 98 poles.

Não sei até que ponto isso é influência do bom trabalho de comunicação da Liberty, mas o grid do Mundial que começa na sexta-feira está repleto de outras figuras interessantes.

Max Verstappen é o garoto arrojado que tenta levar sua equipe de volta aos bons tempos. Sergio Pérez quer ser a pedra na sua sapatilha. Charles Leclerc é o menino de ouro da Ferrari. Carlos Sainz é o jovem determinado a buscar seu espaço. Sebastian Vettel e Fernando Alonso são os veteranos ex-campeões que tentam provar que ainda têm gás para vencer corridas. Daniel Ricciardo é o boa-praça de quem todo mundo gostaria de ser amigo. Pierre Gasly é o indignado em busca da redenção. Mick Schumacher é o novo centro das atenções, mesmo no fundo do grid. Nikita Mazepin é o bad boy. George Russell é o queridinho da pátria-mãe da categoria, a Inglaterra. E Kimi Raikkonen... Bem, ele é o Kimi Raikkonen.

Mas como será este campeonato? A FIA e a Liberty conseguirão realizar o sonho de organizar 23 etapas? A pandemia vai deixar? Acho improvável e coloco o GP Brasil no topo da lista de incertezas. Não consigo ver as equipes aceitando viajar para o país que se tornou o antiexemplo mundial no combate à Covid-19.

Vamos acompanhar todas essas histórias por aqui, diariamente. Para quem perguntou, sim, as seções antigas vão voltar: "F1 sem mimimi", "O país da F-1", "Programe-se" e as "Pílulas do Dia Seguinte". E vem mais novidade por aí. É preciso acompanhar a revolução.

Outras categorias também terão espaço, claro. A Fórmula-E está crescendo a cada ano e é tema obrigatório quando se pensa no futuro do esporte. A Indy é parte do nosso DNA de automobilismo, e três brasileiros correrão neste ano por lá. Há ainda uma safra boa de pilotos brasileiros na F-2. E os campeonatos nacionais serão destacados sempre que houver algum assunto relevante.

Hora de baixar a viseira. Luzes vermelhas apagadas. O blog está de volta.