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Eliana Alves Cruz

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pássaros que voam para as águas

Ingrid Oliveira disputa os saltos ornamentais no Pan de Lima 2019 -  Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br
Ingrid Oliveira disputa os saltos ornamentais no Pan de Lima 2019 Imagem: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br

06/05/2021 04h00

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"Voar voar, subir subir
ir por onde for
Descer até o céu cair ou mudar de cor..."
Sonho de Ícaro - Biafra

Nos tempos de despedidas em que estamos vivendo, algumas têm o dom de refazer filmes nas nossas cabeças. Refiz o meu com a partida recente da querida Silina Braga, ex-atleta de saltos ornamentais, que passou a técnica, árbitra e era conhecida por sua voz rouca nos comentários que fazia deste esporte na televisão em Jogos Pan-Americanos, Mundiais e Olimpíadas. Era impressionante, Silina não errava! "A nota vai ser 8.5", dizia. Pimba! Aparecia o placar: 8.5.

O Mundial de Saltos Ornamentais está mostrando ao mundo o belo parque aquático dos Jogos de Tóquio e também o tanto que um esporte pode se aproximar da poesia. É belíssimo e, se vamos acompanhar de alguma forma estes Jogos, a competição está dando uma prévia sobre os atuais "pássaros" que voam sobre e para as águas. A China é uma potência há muitas décadas nesta modalidade. Outras nações também se destacam, mas o grupo chinês é sempre o time a ser batido.

O salto ornamental é o esporte mais radical. Nenhum outro solta um corpo no ar sem paraquedas, sem asas artificiais, sem nada que o apoie na queda livre que a Lei da Gravidade impõe. É o corpo humano, o ar e a água...ou não. Vi em um Campeonato Mundial, uma atleta calcular mal, se desorientar e bater com a cabeça na plataforma. Sua descida foi respingando sangue no ar, que depois se mesclou ao azul da piscina. Com sorte, nada mais grave além de um corte, mas o incidente deixou a plateia com a respiração cortada. Quem entre os que acompanham Olimpíadas desde os anos 80, não se lembra do norte-americano Greg Louganis, em Seul 88, que saiu de um acidente semelhante para o ouro na mesma edição?

Não há quem veja Saltos Ornamentais sem ficar e perplexo com a coragem dos que se dispõem a voar daquela altura, afinal, são 10 metros na prova de plataforma e...25 metros no High Diving! Mas esta última não é disputada em Olimpíadas.

A passagem de Silina Braga me fez lembrar o meu coração apertado cada vez que via um/uma atleta se concentrando lá em cima e do encantamento que é ver o desenvolvimento das acrobacias no ar e o mergulho que, quando é bem executado, parece mágica, pois é como se as águas simplesmente se abrissem para a pessoa entrar de cabeça ou pelos pés. Humanos sugados para as profundezas, um fundo que vai dar do outro lado do mundo.

Qualquer esporte das águas deveria ser currículo em um país com o maior espelho d'água do mundo e onde uma das principais causas de morte na infância é afogamento. Sem contar a quantidade gigante de cachoeiras, quedas d´água etc...muitas colunas partidas seriam evitadas e vidas seriam poupadas se fôssemos ensinados a lidar minimamente com o meio líquido. No entanto, não resolvemos ainda o básico quando o tema é educação, quanto mais a inclusão de esportes como inteligência corporal. Subirão nos pódios do mundo os que além do básico, investiram também no necessário.