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Eliana Alves Cruz

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Sem gol balançando as redes (sociais)

Thierry Henry, lenda do Arsenal e da seleção francesa e técnico do Montreal Impact, se ajoelha em apoio ao movimento Black Lives Matter - Michael Reaves/Getty Images
Thierry Henry, lenda do Arsenal e da seleção francesa e técnico do Montreal Impact, se ajoelha em apoio ao movimento Black Lives Matter Imagem: Michael Reaves/Getty Images

30/03/2021 14h44

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"Bola na trave não altera o placar
Bola na área sem ninguém pra cabecear
Bola na rede pra fazer o gol
Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?"
É uma partida de futebol - Skank

Quem em 2021 não sonhou em ter o poder de um ídolo do futebol? A fama é poder. O dinheiro é poder. A voz amplificada pela mídia do mundo inteiro é poder...pois o francês Thierry Henry (43), ex-jogador e atualmente treinador, abriu mão de parte disto tudo. Esta semana ele decidiu sair das redes sociais onde tinha milhões de seguidores (10 milhões no facebook, 2,7 no twitter e 2,3 no Instagram).

A notícia meio que "passou batida" em meio ao turbilhão de péssimas notícias da nossa realidade nacional, mas ela significa, pois Henry deixou estas plataformas como protesto pela falta de ação dos administradores em combater um racismo crescente e assustador. Em sua conta no twitter, o ex atacante informou na última sexta-feira: "Oi pessoal, a partir de amanhã de manhã (sábado), irei me retirar das redes sociais até que as pessoas no poder sejam capazes de regular suas plataformas com o mesmo vigor e ferocidade com que fazem atualmente quando você infringe direitos autorais".

A declaração de Therry, autor do gol que eliminou o Brasil da Copa do Mundo da Alemanha em 2006, contém uma acusação. Ela diz com ironia que propriedade é mais importante que gente. O racismo que mata e faz sofrer seus iguais ao redor do planeta é menos importante que a propriedade que precisa ser preservada com "vigor e ferocidade".

Alguns analistas consideram o protesto de Thierry uma "vitória do racismo", afinal, ele abriu mão do poder de influenciar os milhões que conquistou ao longo de sua carreira de atleta. No entanto, talvez não considerem que o ex-atleta não queira este poder. Talvez, sair deste mundo de exposição, ação e reação eterna seja uma libertação. Talvez não tenham considerado que ao fazer com que muitos percebam que estar nestes ambientes não é tão importante assim, ele ameace o grande reino da hiper conectividade.

Ele disse ainda: "O grande volume de racismo, intimidação e consequente tortura mental para os indivíduos é muito tóxico para ser ignorado. Tem que haver alguma responsabilidade. É muito fácil criar uma conta, usá-la para intimidar e assediar sem sofrer consequências e ainda permanecer anônimo. Até que isso mude, desabilitarei minhas contas em todas as plataformas sociais. Espero que isso aconteça em breve (mudanças nas redes sociais)".

E, finalmente, ao decidir tirar o foco do virtual para a vida real talvez leve alguns dos seus milhões de admiradores a pensar que a vida não se dá atrás de uma tela. Talvez, para além do protesto, Thierry esteja com o foco nele mesmo, em sua sanidade mental e em aproveitar sua vida sem presenciar tanto desamor e violência em palavras.

"Quem não sonhou em ser jogador de futebol?". Há quem dispense este mundo. Há quem não queira mais.