Um dia que passará à história do esporte nacional

Hoje, 6 de outubro de 2020, às 18h, aconteceria o julgamento de Carol Soldberg no STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), pelo protesto político contra o atual presidente da República em entrevista pós jogo, em 20 de setembro. Foi adiado, no entanto, seja ele qual for, este dia passará à história nacional.

Apenas 24 horas após a comemoração dos 31 anos da Constituição de 1988, a "Carta Cidadã", vemos a democracia acuada num canto de ringue ou, para usar uma metáfora com o esporte de Carol, num "match point". O que muitos dentro e fora do país se perguntam é: afinal, que democracia é esta a do Brasil, que permite manifestações a favor e nenhuma contrária? Esta nação vive um Estado Democrático de Direito, assim, com letras maiúsculas ou um estado de exceção, com as minúsculas que um sistema opressor e parcial merece?

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A nossa balzaquiana Carta Magna tem suas falhas, como toda a legislação humana, mas é pioneira e avançadíssima em muitos pontos. Justamente por significar passos à frente do passado em que o Brasil dos senhores de engenho, escravocratas raiz e déspotas religiosos gosta de se assentar, a CF de 1988 é reiteradamente atacada e desrespeitada, inclusive, e principalmente, por muitos dos que deveriam defendê-la e mais, juraram publicamente ao assumirem seus cargos a fazer isto.

Caso leiamos no futuro que Carol Solberg saiu do julgamento do STJD punida, o episódio será lembrado como um dia amargo de retrocesso aos tempos ditatoriais, aos momentos de silenciamento das ideias e nenhum debate acerca do futuro. Caso Carol saia do encontro virtual como entrou, ou seja, sem sanções, o julgamento será lembrado como um momento bizarro, mas vencido pelo direito à opinião, pelo engajamento dos atletas, pela civilidade e pela jovem, valente e aguerrida democracia brasileira. E isto é muita coisa! Equivale não apenas à conquista de uma etapa, mas de todo o campeonato.