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Diego Garcia

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Garcia: o que aconteceria com o filho de Tite se não fosse o filho de Tite?

Colunista do UOL

31/10/2021 04h00

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Até quando a CBF vai passar a mão na cabeça de Tite e seu filho? Nada contra o Matheus, me parecia uma boa pessoa até outro dia, antes de sabermos dos conteúdos abomináveis pelos quais simpatiza quando está sozinho diante do celular. Mas chega a ser ridícula essa postura de fazer vista grossa e fingir que nada aconteceu.

Na internet, Matheus não curtiu só um conteúdo intolerante. Foram vários. Ele gosta de mensagens com teor machista, antifeminista, homofóbico e transfóbico, ironias à atividade da imprensa, ao Supremo Tribunal Federal e à violência contra a mulher. A ponto de aprovar até postagem com o texto "ela recorreu e levou pau de novo", sobre a absolvição do homem branco e rico acusado de estuprar Mariana Ferrer.

"Likes" dignos de Bolsonaro e seus asseclas, gente da pior espécie da qual o tal jogador de vôlei homofóbico parece ter orgulho de fazer parte. Diante do que curte Matheus, seu "homem de confiança", não há como não questionar: seria Tite da mesma laia? Existe um bolsominion enrustido no simpático e competente técnico da seleção brasileira?

A presença de Matheus já é questionada desde que Tite chegou à CBF. Com 31 anos de idade, é auxiliar do pai desde 2015, ainda no Corinthians. Estudou nos Estados Unidos, fez estágio no Caxias - time onde o técnico começou - e em seguida já estava em um dos maiores clubes do país. Pouco depois, no ponto máximo do futebol, a seleção brasileira.

Matheus tem currículo para fazer parte da comissão técnica de um país pentacampeão mundial? Para Tite, sim. O treinador passou por cima até do Código de Ética da CBF, que vetava a colocação de parentes de funcionários, mas estamos no Brasil, sempre há uma solução, bastou um jeitinho no documento para abrir essa exceção.

Tite é um sujeito boa praça, diga-se de passagem, querido por todos que o cercam, e que como bem disse a colunista Milly Lacombe "parece sempre passear do lado certo da história, ainda que ultimamente tenha sido visto sobre muitos muros". Mas os discursos de Tite, por sinal, andam na contramão do que gosta seu filho quando está conectado.

Tite já decepcionou quando acertou com a CBF mesmo após ter assinado um manifesto contra o então presidente Marco Polo Del Nero. A justificativa foi a de que estaria focado no futebol. Depois, contratou o próprio filho sem constrangimento. E, agora, faz vista grossa quando o mesmo escancara esse comportamento intolerante? Mais uma vez, decepcionante!

Fica a dúvida: qual será o verdadeiro Tite? O que prega bons valores, honestidade e condena preconceito? Ou o que tem feito de tudo para encaixar seus discursos morais somente onde lhe convém? Veremos.