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Diego Garcia

REPORTAGEM

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Atual presidente assinou contrato do SPFC com namorada de Aidar em 2014

Julio Casares, atual presidente do São Paulo - Rubens Chiri/saopaulofc.net
Julio Casares, atual presidente do São Paulo Imagem: Rubens Chiri/saopaulofc.net

com Pedro Lopes e Thiago Braga

02/10/2021 04h00

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O atual presidente do São Paulo, Julio Casares, é um dos nomes que assina o contrato do clube com a TML Foco, empresa de Cinira Maturana, ex-namorada do ex-presidente Carlos Miguel Aidar. O documento, que previa comissão de 20% em qualquer intermediação de marketing feita pela empresa, é um dos focos de investigação do Ministério Público que virou denúncia na Justiça por corrupção no time tricolor durante a antiga gestão.

O contrato original é de 25 maio de 2014 e também traz as assinaturas de Aidar, do ex-diretor jurídico Leonardo Serafim —ex-diretor jurídico e homem-forte da atual gestão— e do ex-diretor financeiro Osvaldo Vieira de Abreu. Aidar e Serafim estão entre os denunciados na operação do MP por suspeitas de lavagem de dinheiro.

O presidente Julio Casares não está entre os indiciados e o documento com a TML não teria, segundo análise interna do clube na época, gerado prejuízo ao São Paulo —assim é dito no distrato assinado em 6 de janeiro de 2015, desfazendo o acordo original.

Casares não assina o distrato como dirigente. Um dia antes, em 5 de janeiro de 2015, ele havia sido promovido de vice de marketing a vice-presidente geral.

Por outro lado, registros de depósitos bancários em posse do MP mostram que a TML recebeu cerca de R$ 1 milhão da companhia de material esportivo Under Armour. Foram encontrados dois depósitos que condizem com a suspeita. Eles são de janeiro e julho de 2016, no valor de R$ 469.250,00 cada um.

Já em outubro de 2015, o ex-vice-presidente Ataíde Gil Guerreiro mostrou ao Conselho documentos que sugeriam que a TML teria recebido R$ 6 milhões, em parcelas semestrais de R$ 500 mil. Como a quebra de sigilo das empresas e contas de Cinira e Aidar feita pelo MP compreendeu 17 meses, poderia explicar a existência de duas parcelas semestrais.

A relação do clube com a empresa de Cinira durante a gestão Aidar é apontada pelo MP como um dos elos principais nas denúncias. O MP aponta que as contratações fraudadas eram feitas com o escritório do advogado José Roberto Cortez para inflar os valores embutidos e que seriam subtraídos para beneficiar a TML.

Cinira Maturana, namorada de Aidar na época, era a dona da empresa e está entre as indiciadas no caso. Ela se encarregaria do repasse a Aidar e a Serafim, o que ocorreu ao longo dos pagamentos feitos ao escritório de Cortez. O MP diz que pelo menos R$ 752,9 mil foram subtraídos mediante fraude e abuso de confiança.

O processo está em segredo de Justiça. O São Paulo não se manifesta sobre processos envolvendo o clube. Já o presidente Julio Casares afirmou que não vai comentar pelo segredo de Justiça

"Isso são fatos da gestão passada que não tenho nenhum tipo de envolvimento. Não comento nada sobre esse processo e outros que estão tramitando na esfera criminal que também citam fatos ocorridos em gestões anteriores, pois respeito a Justiça. Tem outros processos sobre o São Paulo, mas não comento para preservar as pessoas nele mencionados", afirmou Casares à coluna.

Em depoimento, Aidar disse que não houve tal dívida e disse não ser o responsável por esta operação. O advogado do cartola, José Luis Oliveira Lima, disse à coluna que "a acusação nada mais é do que uma peça de ficção criada pelo Ministério Público, que não é capaz de narrar um único fato criminoso em face do presidente Carlos Miguel Aidar. Depois de mais de cinco anos de investigação conduzida pelo MP, absolutamente nada foi demonstrado contra Aidar, que sempre pautou a sua vida pela correção e ética".

Serafim falou ao UOL que, "neste momento, o que eu posso falar é que não fui notificado oficialmente ainda. Por isso, não posso me manifestar. Quando o fizer, primeiro vou me manifestar no processo. Depois, se você quiser, darei a minha versão".

Cinira afirmou que não vai se manifestar sobre as acusações.

José Roberto Cortez, por sua vez, afirmou que há expressa manifestação do Ministério Público afirmando não haver nenhuma materialidade para envolver a ele ou sua filha.

"A afirmação de 'comissionamento embutido' nos honorários a serem recebidos pelo trabalho de advocacia não faz sentido, uma vez que o contrato de serviços previa pagamento apenas em caso de vitória judicial. Para recebê-los, tivemos que ajuizar uma ação de cobrança, que tramita há três anos, na qual o SPFC foi condenado por decisão unânime, transitada em julgado, em todas as instâncias, a nos pagar mais de R$ 5 milhões. A decisão está sendo executada e estamos buscando receber um saldo próximo de R$ 3 milhões, por meio de pedidos de penhoras em contas bancárias, como já autorizado pela Justiça.
Por essas razões e diante da falta de fundamento em eventual denúncia criminal, estamos preparando um pedido de Habeas Corpus".