Danilo Lavieri

Danilo Lavieri

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
ReportagemEsporte

Ancelotti não vai precisar fazer esforço para se acostumar com zona da CBF

Carlo Ancelotti se apresenta amanhã à seleção brasileira e sempre levanta o debate: como vai ser a relação dele com a bagunça que é a CBF? Durante sua carreira, ele lidou muito bem com diferentes estilos de liderança e mostrou que não vai precisar mudar tanto o seu estilo para se acostumar com casos como o de Ednaldo Rodrigues, Samir Xaud e companhia.

Ele construiu uma das carreiras mais vitoriosas do futebol mundial, com conquistas em praticamente todos os clubes que comandou. No entanto, além dos títulos e do respeito no vestiário, a trajetória do treinador italiano também é marcada por sua habilidade — e, às vezes, dificuldades — em lidar com os bastidores do poder: presidentes, dirigentes e donos de clubes.

Desde os tempos iniciais no Parma e na Juventus, Ancelotti mostrou um perfil mais conciliador do que confrontador. Em Turim, apesar de não conquistar títulos expressivos, teve uma relação relativamente tranquila com os dirigentes, mas acabou demitido por não atender às expectativas de um clube acostumado com vitórias. Foi o primeiro exemplo de que, mesmo com competência, a pressão dos gabinetes pode pesar mais do que o trabalho no campo. Na sua biografia, inclusive, ele revela que se inspira em Poderoso Chefão.

No Milan, viveu o período mais longo e emblemático da carreira. Sob a liderança de Silvio Berlusconi e Adriano Galliani, Ancelotti demonstrou habilidade política ao manter um relacionamento sólido com ambos. Mesmo nos momentos de crise, teve apoio suficiente para reformular a equipe, conduzindo o clube a dois títulos da Liga dos Campeões. A relação com Berlusconi, embora respeitosa, por vezes era marcada por exigências táticas do presidente, como a insistência no uso de dois atacantes — algo que Ancelotti nem sempre acatava, mas geria com diplomacia.

No Chelsea, enfrentou Roman Abramovich, um dos donos mais exigentes do futebol. Apesar de conquistar a Premier League e a FA Cup logo na primeira temporada, Ancelotti foi demitido após a segunda, num episódio que refletiu a impaciência da gestão russa, mesmo diante de um currículo vencedor. Ainda assim, manteve postura serena, evitando críticas públicas.

No PSG, seu relacionamento com a nova cúpula qatari também foi complexo, com a liderança de Nasser Al-Khelaïfi. Embora tenha ajudado a colocar o projeto parisiense nos trilhos, a interferência da diretoria no futebol e a falta de autonomia o incomodaram, levando à sua saída. Por lá, inclusive, ele brigou com Leonardo, ex-jogador da seleção que era dirigente do PSG na época, por dizer que ele seria demitido em caso de derrota. Situação semelhante viveu no Bayern de Munique, onde desavenças com dirigentes e a falta de apoio diante de críticas de jogadores acabaram abreviando sua passagem.

Já no Real Madrid, viveu dois mandatos distintos. No primeiro, conquistou a tão esperada décima Liga dos Campeões, mas foi demitido após uma temporada sem títulos — uma decisão criticada por jogadores e torcida e que escancarou a exigência quase desumana do presidente Florentino Pérez. Em sua segunda passagem, entretanto, soube se adaptar ao ambiente político do clube e reconquistou espaço, demonstrando maturidade e inteligência emocional, embora tenha tido questões sobre a atuação da diretoria no mercado.

Carlo Ancelotti é, acima de tudo, um técnico de gestão humana — dentro e fora das quatro linhas. Se nem sempre escapou de choques com o poder, sua carreira mostra que, mesmo em um ambiente movido a vaidades e resultados imediatos, a elegância e o equilíbrio ainda têm lugar no futebol.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.