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Danilo Lavieri

REPORTAGEM

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Chile serve de reflexão para clubes brasileiros que querem virar SAF

Ronaldo discursa durante reunião extraordinária do Conselho do Cruzeiro para debater venda da SAF - Gustavo Aleixo/Cruzeiro
Ronaldo discursa durante reunião extraordinária do Conselho do Cruzeiro para debater venda da SAF Imagem: Gustavo Aleixo/Cruzeiro

Colunista do UOL

28/04/2022 04h00

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Os vários times do Brasil que já viraram e os que ainda pensam em se transformar em uma SAF (Sociedade Anônima do Futebol) podem usar o Chile como um caso para pensar. Por lá, uma lei mudou a gestão de todos os times do país, mas isso não se refletiu necessariamente em melhores resultados dentro de campo. Ou seja, virar uma empresa não é garantia de sucesso com a bola rolando.

A lei é de 2005 e fez todos os clubes que atuam nas duas divisões do campeonato chileno serem constituídos ou geridos por SADP, sigla para sociedade anônima esportiva profissional. Todos têm limites financeiros dentro da arrecadação, obrigações com pagamentos em dia e tudo isso sob risco de punição após uma avaliação independente.

Apesar da mudança fora de campo, não houve reflexo de melhora no aspecto esportivo. Desde então nenhuma equipe chegou nem mesmo à final da Libertadores. Na Sul-Americana, o Colo-Colo foi vice em 2006, e a Universidad do Chile foi campeã em 2011. Mas foi só.

Em uma semana em que os brasileiros encontram três vezes os chilenos com os jogos entre Antofagasta e Atlético-GO, Universidad Católica x Flamengo e Unión La Calera x Santos, a comparação vem à tona.

Especialista no tema, o advogado Eduardo Carlezzo é dono do escritório que assessora equipes como o Colo-Colo, a Universidad de Chile e Universidad Católica na transformação. Ele entende que apesar das questões dentro de campo, fora dele, os chilenos mostram como podem evoluir.

"Igualmente ao que vemos de forma bastante explícita em toda a América do Sul neste momento, no passado os clubes chilenos eram altamente endividados e geridos de forma pouco profissional. A conversão em sociedade anônima trouxe para dentro dos clubes a necessidade de cumprirem suas obrigações financeiras e gastarem dentro do planejado, sob pena de fiscalização externa", ponderou.

"Ainda que existam dificuldades e os clubes não nadem em um mar de rosas, pode-se dizer que hoje o futebol chileno é o mais solvente da América do Sul e percebe-se um maior grau de maturidade no gerenciamento das obrigações", completou.

Os três grandes clubes do país deram um passo além e abriram seu capital em bolsa de valores, obtendo forte capitalização a partir destas operações.

"São exemplos muito importantes para termos em consideração quando falamos no Brasil na discussão sobre a abertura de capital em bolsa, pois não é algo que ocorreu na Europa, mas sim na América do Sul. Os três clubes tiveram sucesso nestas operações e levantaram boas somas. Além disso, a flutuação das ações no mercado exigiu uma maior preparação e responsabilidade dos gestores, o que se reflete positivamente no dia a dia do clube", finalizou.

No Brasil, os exemplos recentes de times que aderiram à mudança são os de Cruzeiro, Vasco e Botafogo. Todos eles com dívidas que já chegavam perto da casa do R$ 1 bilhão. Eles ainda lutam para voltar a figurar entre as potências no país e engatinham na reorganização financeira.

Vale destacar que por aqui também há pouca - ou nenhuma - fiscalização em relação a obrigações financeiras. É comum times que tem dívidas ativas e gigantescas continuem vivendo a sua vida normalmente, inclusive com contratação de jogadores com altos salários para os padrões do país.

Não há um único caminho a ser seguido. A reestruturação financeira pode ser feita como no caso do Palmeiras e Flamengo, sem virar SAF. Mas é fato que o futebol brasileiro merecia uma política mais rígida que evitasse que times que se preocupam em manter seus pagamentos em dia concorressem com clubes que não têm essa mesma responsabilidade. É esse o verdadeiro fair play financeiro.

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