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Danilo Lavieri

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lavieri: Como Palmeiras do passado pode ser exemplo para São Paulo atual

Júlio Casares, presidente do São Paulo, durante o conselho técnico do Paulistão 2022 - Rodrigo Corsi/ Paulistão
Júlio Casares, presidente do São Paulo, durante o conselho técnico do Paulistão 2022 Imagem: Rodrigo Corsi/ Paulistão

Colunista do UOL

17/11/2021 04h00

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Palmeiras e São Paulo entram em campo hoje (17) com uma grande diferença não só na tabela do Brasileirão e no desempenho nas outras competições, mas, principalmente, no jeito de fazer política e administrar cada um dos clubes. Hoje lutando para não cair, a equipe do Morumbi tropeça nos bastidores como o Alviverde fez por anos até algumas mudanças chaves que só aconteceram depois da segunda queda na história do clube.

Isso não significa que o time de Palestra Itália é 100% de exemplo em como administrar um clube de futebol. Há um claro conflito de interesse, por exemplo, na sucessão da cadeira da presidência por Leila Pereira, mas o clube passou por algumas reformas na maneira de administrar e de fazer política que podem ajudar bastante o Tricolor a se reerguer.

A começar por diminuir o poder do Conselho Deliberativo nas decisões do futebol. É essencial que os conselheiros tomem decisões que dizem respeito à piscina, à bocha, ao tiro ao alvo, mas não interfiram no CT da Barra Funda. Entre 2012 e 2013, o Palmeiras aprovou as eleições diretas. É claro que o Conselho ainda tem influência no dia a dia, na aprovação de contas, mas aumentar o número de pessoas que têm direito ao voto ajuda no combate à velha política.

É com essa velha política, aliás, que Julio Casares conseguiu ser eleito, colocou Carlos Belmonte no comando do futebol e agora tenta mudar o estatuto para conseguir ser reeleito. Pior do que isso, a nova proposta tenta diminuir o número para 200 conselheiros, sendo 120 vitalícios. Ou seja, se você conseguir emparelhar o clube, não importa o que fizer, o grupo no poder vai ser sempre o mesmo.

Para piorar, uma chapa que quiser concorrer à eleição precisaria de 55 votos desses conselheiros vitalícios. No Palmeiras, o modelo também prevê um filtro, mas que não depende dos vitalícios, mas de todo o Conselho. Não é o ideal, mas é menos restritivo e mais democrático.

Nada disso impede que um grupo tome conta do clube, mas são elementos que dificultam que pequenos grupos definam o rumo de uma instituição que tem milhões de torcedores.

No âmbito administrativo, o Palmeiras decidiu no início da gestão de Paulo Nobre parar de gastar o que não tinha para poder colocar a casa em ordem. A ideia do então presidente era colocar as contas em dia, acabar com as dívidas mais caras e com juros altos e aí "fazer a roda voltar a girar depois disso", nas palavras do próprio. O preço disso foi quase cair no ano do centenário.

Em 2014, o Alviverde quase não contratou, apostou nas categorias de base e começou a mudar a sua política só em 2015. É verdade que o time do Palestra Itália contou com a injeção de muito dinheiro de Nobre para colocar a casa em ordem e, depois, ainda teve a entrada da Crefisa com o maior patrocínio do continente. Mas, mesmo que não tenha dinheiro, é fundamental que o São Paulo pare de gastar mais do que pode e comprometa o futuro.

Ao contratar nomes como Eder e Miranda, que já estão no fim de carreira e têm alto custos para os cofres, Orejuela, que custou mais de R$ 13 milhões e não tinha tido sucesso que justificasse esse investimento até então, ou até apostar nas chegadas de Benítez ou Willian, com longo histórico de problemas médicos, o time impede que a reestruturação financeira seja completa. A dívida só cresce e a saída é adiantar receitas do futuro para o presente, o que só compromete os próximos anos. O título do Paulista, por exemplo, rendeu menos de R$ 4 milhões, o que não paga nem um mês de folha salarial. Valeu a pena todo esse esforço pelo Estadual?

Mais uma vez: isso não significa que o Palmeiras só teve acertos nas contratações recentes. Os tiros errados em nomes como Borja e Guerra provam isso. Mas em um time com a administração em ordem, há mais margem para errar e tentar reverter os reforços que não deram certo. Em um time com as contas em dia, há margem até para que os salários não fiquem atrasados nem durante uma pandemia e que funcionários não sejam cortados para que as contas fiquem no azul.

O mais importante é que a reestruturação do início da década passada deixou ensinamentos até hoje. Não à toa, em 2020, após um 2019 em que os gastos não tiveram retorno, o Alviverde quase não foi ao mercado e se reforçou de maneira pontual. É fundamental a visão da atual diretoria de que precisava tirar o pé do acelerador para não voltar a colocar as contas em situação crítica de novo. Coisa que a diretoria do São Paulo prometeu e não cumpriu para esta temporada e agora volta a prometer para o ano que vem.

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