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Danilo Lavieri

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

São Paulo paga o preço do "all in" que deu, e Crespo é o menos culpado

Hernán Crespo, técnico do São Paulo, ao lado do presidente Julio Casares - Divulgação/São Paulo FC
Hernán Crespo, técnico do São Paulo, ao lado do presidente Julio Casares Imagem: Divulgação/São Paulo FC

Colunista do UOL

14/07/2021 04h00

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Depois de conquistar o Paulista e empolgar o seu torcedor, o São Paulo enfrenta as consequências do "all in" que deu no primeiro semestre. E isso pode ser aplicado em diferentes aspectos como o físico, o emocional e o financeiro. Era bem previsível que a equipe que tratou o Estadual como Copa do Mundo e deixou algumas premissas de lado em nome da taça sofresse mais dia ou menos dias.

Antes de prosseguir, cabe uma breve explicação para os que não têm familiaridade com o termo all in. Essa é uma expressão em inglês usada majoritariamente para o poker, quando você aposta todas as suas fichas em uma só jogada: ou você ganha tudo ou acaba eliminado da mesa. Será que valia tudo isso para ganhar o campeonato regional?

No início de sua gestão, o presidente Julio Casares fez a sua jogada. Contratou jogadores com altos salários e com condições físicas questionáveis como Eder e Miranda. Os dois são excelentes jogadores, mostraram isso quando estiveram em forma, mas juntos, custam mais de R$ 1 milhão por mês. Esse custo-benefício sobe ainda mais à medida que eles ficam fora por lesões.

Não é novidade que atletas que vêm de passagem longa no futebol chinês sofrem por anos na readaptação. Essa é uma novela repetida que já fez o São Paulo como vítima, antes mesmo das recentes chegadas, com a situação de Hernanes e Alexandre Pato. Mas essa mesma questão também já puniu outros times como Palmeiras, Grêmio e Corinthians. Por enquanto, Hulk talvez seja a única grande exceção dessa janela.

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Em times que têm uma condição financeira melhor, esse prejuízo já é sentido, mas pode ser melhor administrado. Na equipe do Morumbi, onde as dívidas chegam na casa dos R$ 600 milhões e empréstimos acabaram de ser feitos para evitar punição da Fifa, como noticiou amplamente a imprensa, essa questão certamente é mais sentida.

Também houve a aposta em Benítez, atleta que não passou pela China, mas tem um longo histórico de lesões e já havia levantado certa antipatia dos vascaínos por suas ausências constantes. Quase R$ 14 milhões foram investidos também pela contratação de Orejuela, outro que não conseguiu se fixar.

No meio disso tudo, o São Paulo também ainda não conseguiu se acertar com Daniel Alves, em uma dívida que vem da gestão anterior, e ficou sem forças para brigar com a vontade do lateral de representar a seleção brasileira nas Olimpíadas.

A promessa era de primeiro contratar e em seguida conseguir diminuir os custos, como se fosse a coisa mais simples do mundo encontrar destino para atletas que ganham muito e pouco jogam, como Pablo e Vitor Bueno. A expectativa é que o novo patrocínio, que foi vendido como o maior da história, mas não é, como já mostrou o jornalista Rodrigo Capelo, amenize esses problemas, uma vez que ainda não houve redução na folha salarial e o prêmio pelo Estadual não paga nem um mês de gastos.

No meio disso tudo, há quem tente apontar o canhão para Hernán Crespo, que é o que tem menos culpa. O técnico fez um excelente trabalho ao conseguir melhorar a base que era apresentada por Fernando Diniz, mas não encontrou alternativas para solucionar os problemas que foram aparecendo no decorrer da temporada.

Claro que o argentino comete erros ao tentar promover mudanças técnicas e táticas, mas qual técnico não erraria com as condições de treinar uma equipe em meio a uma maratona como a das equipes brasileiras, com tantos desfalques por diferentes motivos e com a pressão de estar sempre brigando pelo título? Não há margem de erro. Que culpa tem o técnico, por exemplo, pelo gol perdido por Vitor Bueno que poderia fazer o 2 a 0 e encaminhar o triunfo ontem (13) no Morumbi diante do Racing?

Por fim, é bastante nítido que o Brasileirão que começou pessimamente, além de todas as questões físicas, tem também um ponto emocional. Depois de ouvirem tanto em treinos e em conversas com a comissão que o Paulista era Copa do Mundo, houve um relaxamento quase que natural dos atletas. Ainda há tempo de reagir, o rebaixamento não é uma questão, mas para voltar ao topo o time precisa do que parece uma improvável sequência de vitórias diante do panorama atual.