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Danilo Lavieri

REPORTAGEM

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Uso da base aumenta e ajuda clubes em meio à crise financeira na pandemia

Crise da pandemia afetou caixa dos clubes em todo o mundo - Jarry S/Getty Images
Crise da pandemia afetou caixa dos clubes em todo o mundo Imagem: Jarry S/Getty Images

Colunista do UOL

26/06/2021 04h00

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Em meio à pandemia que tira boa parte das receitas dos clubes pelo mundo todo, umas das alternativas é valorizar cada vez mais as categorias de base e o departamento de análise de desempenho para contratações. Cada centavo tem muito mais importância em um momento onde os times não sabem quando o dinheiro voltará a entrar antes da crise.

Em 2020, já com a pandemia em curso, as equipes se reforçaram menos e passaram a preencher os plantéis com garotos da base, como mostra o relatório mais recente do Centro Internacional de Estudos Esportivos, o CIES, detalhando que as pratas da casa atuaram 25,8% mais em comparação a 2019.

Além de preencherem lacunas dentro de campo, eles servem como fonte de renda em uma temporada na qual não havia renda com bilheteria e sócio-torcedor. Em 2020, ainda segundo o CIES, o Brasil foi o país mais representado em gramados do exterior, com 1,2 mil atletas no total.

Times europeus que têm um olhar bastante atento para o mercado visando as finanças, como Lille, Porto, Shakhtar, se caracterizam por comprar jogadores no mercado brasileiro para depois conseguirem revendas expressivas.

É o que ressalta o gerente de futebol do Bahia, Júnior Chávare, um dos clubes que procura receita com a venda de jovens. "Na Europa você encontra clubes que são exímios revendedores, que possuem esse perfil de contratar um jogador que lhe entregue retorno técnico por um ou dois anos, que seja revendido e obtenha um retorno financeiro, enquanto tem os clubes que são apenas compradores, que compram para suprir as lacunas da equipe sem a intenção de revenda".

O gerente do Departamento de Inteligência das categorias de base Fortaleza, Erisson Matias, detalhou as dificuldades de se garimpar novos talentos, mesmo em um território fértil como o Brasil. "O maior desafio é a concorrência. Hoje, ao somar as quatro primeiras divisões do futebol brasileiro, 99% dos clubes possuem observadores que rodam o país inteiro em busca de novos talentos, além disso é preciso avaliar a questão financeira, pois manter um setor de observação gera custo, mesmo sendo um investimento, já que qualifica a matéria-prima para o clube. É complicado concorrer com equipes de maior poderio financeiro, pois elas conseguem viabilizar recursos para a contratação de garotos mais novos e um número maior de observadores espalhados pelo território nacional. Algumas possuem equipes com 20 profissionais somente nesse setor de observação".

O Leão do Pici, que já contou com Everton Cebolinha em suas categorias de base, tem investido mais em tecnologia no setor de inteligência para aprimorar a avaliação interna e de mercado.

"Cada um desses braços vai ter seus pilares. Vou citar alguns exemplos, na análise de desempenho temos análise de todos os processos de treino e jogos de adversários. É uma central de informações. Na parte de análise mercadológica, falamos do mercado mundial, não só do mercado local, lógico que temos um cuidado especial para cuidar do nosso quintal, na parte regional. Então, dentro da análise de desempenho, nós temos uma preocupação muito grande em saber como esse atleta chegou e ficar aferindo o tempo inteiro o desempenho dele, se há crescimento, se não há e o porquê", analisou.

"Isso é o gerenciamento dos processos. Falando um pouco da análise mercadológica, tentamos implantar algo relacionado à questão dos atletas para fazermos um estudo do micro e do macro ambiente para entendermos como está funcionando o nosso mercado interno. Assim, a análise de desempenho junto com a análise mercadológica vão nos passar o KPI's, que são as chaves de performance. Com esses indicadores, a nossa expectativa é que a margem de erro em relação a nossa questão de análise tanto interna quanto externa diminua", conclui Erisson.

Recentemente, o Internacional repatriou o atacante Taison, que disputou a última Copa do Mundo com o elenco da seleção brasileira. O dirigente Paulo Bracks, executivo de futebol do Inter, falou sobre a importância de ter na base soluções esportivas e financeiras.

"O Inter é um clube conhecido historicamente por revelar talentos para o Brasil. Nilmar, Alexandre Pato, Juan, Alisson, Taison são exemplos de atletas que passaram pela nossa base e construíram uma carreira sólida. Nosso foco é desenvolver ao máximo nossas estruturas, com o intuito de obter um equilíbrio entre resultados esportivos e econômicos. Nosso principal ponto de atenção é para que o atleta seja lapidado na base e faça uma transição adequada, porque no plantel profissional há menos tempo para trabalhos técnicos e táticos específicos. A intenção é ser protagonista na base, criando alternativas para o clube, dentro e fora de campo", declarou Bracks.

Até mesmo os times que acabaram de subir percebem essa diferença, como mostra o gerente das categorias amadores do Juventude, Lucio Rodrigues.

"Sabemos desta realidade e do quanto a competição com clubes de poderio financeiro é muito mais difícil, mas buscamos investir fortemente em tecnologia e em condições melhores nos departamentos considerados estratégicos, pois mesmo com uma estrutura enxuta, ainda temos na nossa marca o grande diferencial: somos conhecidos mundialmente por formar e oportunizar chances", afirmou.