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Danilo Lavieri

REPORTAGEM

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Brasileirão na TV dos EUA vira oportunidade e grana extra para clubes

Moradores dos Estados Unidos agora poderão assistir a todas às partidas do Brasileirão -
Moradores dos Estados Unidos agora poderão assistir a todas às partidas do Brasileirão

Colunista do UOL

21/05/2021 04h00

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Nos últimos dias, foi anunciado que a Paramount+ vai transmitir os 380 jogos do Campeonato Brasileiro nos Estados Unidos com exclusividade até 2023. O acordo é fruto da união do clube e da venda coletiva dos direitos do Nacional para o exterior e significa entrada extra de dinheiro, além de ser oportunidade para expansão da marca.

Em agosto, os clubes fizeram um acordo com a Global Sports Rights Management (GRSM) para a venda dos direitos do Nacional para outros países. No acordo, ficou previsto que todos receberiam R$ 2 milhões como cota inicial e que o valor cresceria a cada acordo fechado pela produtora.

Na visão dos clubes, o acordo deve permitir novas oportunidades de negócios que envolvem reconhecimento internacional, produção de conteúdo diversificado e a possibilidade de marcas de fora se sentirem atraídas em investir no país.

"Além de possibilitar engajamento dos ativos em outro continente, agrega benefícios às marcas envolvidas e aos patrocinadores com comercialização e visibilidade. É um conjunto de fatores que reúnem valor ao 'produto' futebol e principalmente aos times. Temos que estar atentos a essas movimentações, para que no futuro possamos melhorar cada vez mais as receitas com esses novos ativos", apontou o presidente do Internacional, Alessandro Barcellos.

O Palmeiras foi outro entusiasta da ideia e teve participação ativa dos seus departamentos jurídico e de comunicação na confecção do acordo. O executivo de marketing, Roberto Trinas, foi outro a comemorar o acordo. "O Brasileirão está entre os melhores campeonatos de futebol do mundo. Vê-lo na grade de um grande grupo de mídia dos Estados Unidos, com transmissão de todos os jogos, narração em inglês, ampla cobertura jornalística e alcance para milhões de novos fãs, é motivo de orgulho e uma grande conquista para as nossas marcas no exterior".

O Cuiabá, time recém-promovido à elite, também é outro time que celebrou o acordo e já vê seu faturamento aumentar ainda mais em relação ao ano passado, quando estava na Série B.

"É muito importante para a valorização da competição internacionalmente. O Campeonato Brasileiro tem evoluído bastante em questão de organização e nível técnico, e até por isso creio que a edição deste ano será muito positiva nesses aspectos. Esse processo da venda dos direitos internacionais, que foi iniciada no ano passado e agora está em ampliação, pode trazer novas e boas receitas aos clubes brasileiros em breve", afirma o vice-presidente do Cuiabá, Cristiano Dresch.

O presidente do Fortaleza, Marcelo Paz, comemorou o acerto e diz que essa evolução é fundamental para que o país passe a ser conhecido também pelo seu campeonato e não só pela seleção brasileira e craques que foram exportados pelo mundo.

"Conhecida é a seleção brasileira, nossa camisa amarela e grandes craques como o Neymar. As marcas do futebol brasileiro não são conhecidas ao redor do mundo se comparado, por exemplo, com Real Madrid, Barcelona, Bayern de Munique, Manchester City, entre outros. Na medida que o nosso campeonato é transmitido para outros países, o mundo passa a conhecer o Fortaleza e todos os clubes que o disputam. Isso pode gerar um novo mercado consumidor para os times, como camisas, produtos licenciados, plataformas de streaming, redes sociais, entre outros. Atualmente o futebol brasileiro vende para fora o artista, que é o jogador, mas não vende o espetáculo que é o jogo, e uma iniciativa como essa faz com que começamos a vender o espetáculo", analisou.

Além da transmissão, o acordo prevê que o Brasileirão passa a fazer parte do noticiário na televisão, na internet e no aplicativo da rede CBS. Esse crescimento que representa novas oportunidades também vai exigir mudanças nos planejamentos dos clubes, como contaram especialistas ouvidos pelo blog.

"Não é mera disposição numa grande rede de grande alcance que vai tornar o produto brasileiro interessante. Isso é só o início de um trabalho, leva tempo, depende da estabilidade e clareza da qualidade do produto, e o futebol brasileiro ainda carece muito disso, ainda que seu formato já esteja bem entendido e consagrado", alerta Bruno Maia, especialista em inovação e novos negócios na indústria do esporte, sócio da 14, agência de conteúdo estratégico e autor do livro e o curso "Inovação é o Novo Marketing".

"É preciso entender que o campeonato é mais importante que os clubes para valorizar o produto, e com ele sendo bem visto lá fora, se escolhe um time para torcer e aproveitar esse produto. Por exemplo, como o produto NBA é atrativo, eu escolhi o San Antonio Spurs para acompanhar e me sentir mais inserido na emoção de acompanhar o campeonato como torcedor e não meramente como espectador. Essa é a grande dificuldade encontrada pelo futebol Brasileiro. Isso leva tempo, disciplina, percepção, promoção do produto. São alguns dos fatores que bem trabalhados podem gerar o interesse do pessoal lá de fora", completou.

A Paramount + atualmente apresenta mais de 1.400 jogos ao vivo a cada ano, nos Estados Unidos, por meio de um extenso portfólio de propriedades do futebol, incluindo competições de clubes da UEFA, NWSL (liga de futebol feminino nos EUA), competições de seleções nacionais da Concacaf (Eliminatórias para a Copa do Mundo Masculina, Eliminatórias para a Copa do Mundo Feminina, Liga das Nações Unidas e Liga das Nações Femininas), além da Série A da Itália, do Campeonato Argentino e, agora, do Brasileirão. Os jogos não poderão ser acessados pelo serviço de streaming no Brasil.

"Sempre existe o questionamento da ausência de marcas mundiais patrocinando clubes brasileiros. Temos que entender que as vendas são consultivas, e geralmente a marca que patrocina o clube brasileiro tem interesse no nosso território, pois até então nossos jogos não eram transmitidos para fora do país. Esperamos há décadas que isto acontecesse, pois a partir do momento que ultrapassamos essa barreira, chegam várias oportunidades de marcas que possuem interesse em outros países, o que potencializa demais a prospecção. Imaginem negociar um patrocínio da Premier League, que está em mais de 80 redes de televisão e 200 países?", questionou Renê Salviano, executivo com mais de 20 anos de mercado e dono da agência de marketing esportivo HeatMap.

"Basta conectar a uma marca que possui o interesse de ter a presença nestes países, lembrando que estamos falando de uma força gigante de reconhecimento de marca quando estampamos os patrocínios de clubes de futebol", finalizou.