A pane do VAR e a pane da alma

O Internacional chegou em São Januário abalado por uma inexplicável derrota para o Sport. Thiago Neves, que com tanta competência rebaixou o Cruzeiro em 2019, esse ano parece não conseguir repetir o projeto em Recife. Já o Vasco, veio com a alma abalada, esfacelada, numa pane generalizada que não coincidentemente contagiaria os organismos dos atletas e até as máquinas envolvidas na partida.

Pois bem: o Inter venceu com dois gols graças a panes: a primeira no VAR, e a segunda uma curiosa pane no sistema nervoso do atleta vascaíno Leo Gil, que simplesmente ficou paralisado olhando o ataque adversário. A paralisia no sistema nervoso central muitas vezes tem causas desconhecidas, mas me parece óbvio que seja uma pane originária da alma.

Foi-se o tempo em que as marmeladas em São Januário beneficiavam o Vasco. Nem isso mais resta ao Gigante da Colina. Colorado 2 x 0, ainda líder isolado.

Entretanto, o problema que os cruzmaltinos já têm que começar a pensar é que uma Série B se configurando com os recém rebaixados Botafogo, Coritiba e possivelmente Bahia - além do Cruzeiro - talvez seja uma competição com cara de Série A demais para o clube, e o Vasco tenha que cair direto para a C, ou permanecer numa espécie de limbo sem divisão. Uma pausa no futebol faria bem à sua imensa torcida.

Goiás x Botafogo: já é Série B no Japão

Já o Botafogo, comandado por uma criança contra o Goiás, jogou matematicamente rebaixado, para a emoção apenas dos torcedores que não acreditam em matemática. Mas o fato é que rebaixado, situação em que se sente mais confortável, o time jogou leve e solto, e confortavelmente saiu com a derrota, resultado onde se sente mais confortável ainda.

Destaque para Fernandão, autor do segundo gol dos goianos, que comemorou mostrando uma tatuagem do filho, aparentemente uma imagem rupestre feita pelo próprio garoto. E no fim, o juiz ainda foi generoso dando sete minutos de acréscimo, para que o Alvinegro pudesse curtir um pouquinho mais a Série A - e quem sabe levar mais gols.

Entretanto, independentemente da derrota do fim de semana, a reflexão que fica em General Severiano é a seguinte: talvez o atleta Honda, por ter vindo do Japão, que fica no futuro, onde o Botafogo já está na Série B há muito mais tempo, tenha vindo não livrar o clube do rebaixamento, mas numa missão muito mais elevada: a de com sua sabedoria oriental ajudar o Alvinegro a aceitar e entender seu próprio destino. Só o tempo dirá se o clube compreendeu sua mensagem. Mas provavelmente não.

O São-Paulino só quer paz

Por outro lado, outro torcedor ferido pelo cruel hobby que é o futebol conseguiu um alento no final de semana. O São Paulo, comandado por um treinador misterioso (ao que tudo indica Daniel Alves, talvez por isso ele quase não toque mais na bola) venceu o Grêmio de virada. Destaque para o belo gol de Tchê Tchê, finalmente livre dos abusos emocionais do antigo comandante, e que comemorou ficando muito triste.

Vivendo uma crise que parece interminável, o São Paulo curiosamente vem buscando se reforçar se livrando de profissionais, em vez de trazê-los, até o dia em que não sobrará mais ninguém no clube e enfim seu torcedor terá a paz que tanto merece.

Foi assim com Fernando Diniz, foi assim com Raí, foi assim com Brenner e, lembrem-se, foi assim com Alexandre Pato - sem falar no algoz do domingo Diego Souza, deixado em frente aos portões do Botafogo na calada da noite na temporada passada.

E agora, apesar da vitória, o alvo parece ser, injustamente, o goleiro Tiago Volpi, que contra o Ceará entregou um gol que encheria Diniz de orgulho. Uma tentativa de sacudir a equipe que deu certo, já que logo depois o Tricolor marcou.

Que falta faz uma zaga do Fortaleza

Vontade por parte do Palmeiras de perder para o Bayern no Mundial Interclubes não faltou, mas infelizmente o time parou nas semifinais e voltou para curar a ressaca ontem contra o Fortaleza. E o Palestra não perdoou: 3 x 0 só no primeiro tempo. Quando o Alviverde encontrar o Fortaleza pelo Mundial, o título vem.

O único problema de uma vitória maiúscula assim é que acaba com a narrativa do time cansado. Nesse sentido, uma derrota contra o Tricolor de Aço talvez trouxesse mais conforto aos corações palmeirenses.

Essa coluna não reflete nem minhas próprias opiniões. Escrevo enquanto discordo veementemente de minhas próprias palavras.

Questionamento do Professor Cerginho

Craque Daniel é apresentador do Falha de Cobertura, (supostamente) ex-jogador, empresário de atletas e inocentado de todas as acusações feitas contra ele. (Personagem interpretado por Daniel Furlan, um dos criadores da TV Quase, que exibe na internet o Falha de Cobertura e Choque de Cultura.)