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Craque Daniel

Cafu e mais dez

Getty Images
Imagem: Getty Images

21/12/2020 12h32

Quem precisa de mais uma lista? Aparentemente nós. Durante a semana fomos convidados pela Fifa a acreditar que Lewandowski é o melhor jogador do mundo (de futebol!) e a desvendar mais uma tradicional lista da France Football, dessa vez da escalação dos melhores de todos os tempos de cada posição + Cafu.

Na lista de Melhor do Mundo, Neymar, atuando fora do Instagram, posição que não está acostumado, acabou não sendo lembrado. Já na escalação de todos os tempos da France Football, uma crítica: essas escalações normalmente vêm com equipes recheadas de meias criativos e sem ninguém para marcar, de modo que até o esporte que seria praticado por essas equipes fica difícil de identificar. Falta um Márcio Araújo ali na proteção à zaga para dar equilíbrio e liberdade aos duzentos meias de criação, ou pelo menos um Joel Santana no comando técnico.

De qualquer forma, diante da dificuldade em desvendar os critérios arbitrários dessa seleção (o único critério claro foi a presença obrigatória do Cafu), proponho um critério arbitrário próprio dessa coluna, uma escalação composta apenas por atletas capixabas + Cafu (aqui deslocado para o meio e obrigatoriamente com o sufixo "Capixaba"). Um time extremamente ofensivo, jogando solto, que entraria em campo com: Carlos Germano, Marquinhos Capixaba, Fabiano Eller, Fontana e Maxuel; Cafu Capixaba e Geovani; Richarlison, Bujica, Super Ézio e Sávio.

Uma escalação tão polêmica que só não serei agredido na rua graças às recomendações de distanciamento social, podendo apenas receber pessoas na porta de casa para me ofender verbalmente, desde que com uso de máscara.

Mas digo mais e vou além no exercício dessa provocação: será que uma seleção composta apenas por atletas do seu estado (+ Cafu) faria frente a esse esquadrão? Acho pouco provável. Tive dificuldade inclusive para escalar mentalmente aqui rapidamente uma seleção nascida em São Paulo, por exemplo (lembrar de não esquecer que Pelé é de Três Corações/MG e Sócrates de Belém/PA).

A insanidade do jogo longo: até quando?

Libertadores é paixão. Como você explicaria torcedores negligenciando suas famílias, empregos, saúde e higiene pessoal para acompanhar todos os momentos do time de coração? Isso mesmo, paixão. Talvez algumas outras coisas menos nobres também, mas certamente há alguma dose de paixão envolvida.

E se a semana já foi das paixões do ódio e da impotência para os amantes das listas, imagine para o torcedor do Grêmio, que viu sua equipe mais uma vez eliminada da Libertadores de forma acachapante, seguido do já tradicional stand-up do técnico Renato Gaúcho na coletiva de imprensa (e mesmo para os padrões do nosso stand-up, esperava-se mais do repertório de Renato).

Renato Gaúcho durante Santos 4 x 1 Grêmio pela Copa Libertadores - Lucas Uebel/Grêmio FBPA - Lucas Uebel/Grêmio FBPA
Calça jeans que já vem rasgada de fábrica: declaração de rebeldia e insatisfação
Imagem: Lucas Uebel/Grêmio FBPA

É verdade que o Tricolor Gaúcho entrou em campo com dificuldades. Além do desfalque de Everton, que abriu mão de ficar no Departamento Médico no São Paulo para ficar no Departamento Médico no Grêmio, o clube tem Diego Souza na eterna busca por reencontrar seu futebol, mas com imensa dificuldade, já que ninguém nunca viu esse futebol e assim fica difícil informar onde ele pode ter sido deixado.

O problema do Grêmio é o da maioria das equipes, e eu já venho denunciando há algum tempo aqui: os jogos são muito longos, esse é o verdadeiro problema do calendário do futebol. Não haveria desgaste nenhum num calendário com todas as partidas necessárias desde que elas durassem cerca de cinco minutos, ou menos. Mas mesmo um pensamento tão razoável parece fora do raio de alcance da mente dos cartolas.

O Grêmio, apenas mais uma vítima da crueldade dos jogos longos, se mostrou muito bem postado durante os doze segundos iniciais do jogo, equilibrando bem as ações, para só depois disso se ver totalmente subjugado pelo Santos. Injusto esperar que Renato fizesse milagres.

A pura sorte de Abel x A pura loucura de Cuca

Melhor para o Santos de um técnico Cuca em sua melhor forma: ensandecido e psicologicamente perturbado, talvez o único técnico do nosso futebol a correr risco de se contundir durante uma partida, ou de sofrer um colapso mental.

No outro chaveamento, temos um clube brasileiro sofrendo menos que o derrotado conformado Renato, e certamente bem menos que o vitorioso alucinado Cuca. O Palmeiras de Abel Ferreira vem pegando pelo caminho adversários como as equipes brasileiras gostam: que saem para jogar oferecendo contra-ataques e perdem alegremente sem bater. Em resumo, times que levam muitos gols com imensa tranquilidade. Em breve saberemos qual dessas estratégias tipicamente brasileiras, a pura sorte ou a pura loucura, irá mais longe na Libertadores.

Essa coluna não reflete nem minhas próprias opiniões. Escrevo enquanto discordo veementemente de minhas próprias palavras.

Craque Daniel é apresentador do Falha de Cobertura, (supostamente) ex-jogador, empresário de atletas e inocentado de todas as acusações feitas contra ele.
(Personagem interpretado por Daniel Furlan, um dos criadores da TV Quase, que exibe na internet o Falha de Cobertura e Choque de Cultura.)