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Craque Daniel

Inter de Abel e a estratégia do caos

Abel tentando lembrar o nome de algum atleta do internacional - Ettore Chiereguini/AGIF
Abel tentando lembrar o nome de algum atleta do internacional Imagem: Ettore Chiereguini/AGIF

14/12/2020 10h30

Com o Internacional fora da Copa do Brasil e da Libertadores num único embalo, o técnico Abel Braga conseguiu imprimir seu estilo no Colorado numa velocidade impressionante.

Difícil dizer como Abel impôs sua visão em tão pouco tempo. Talvez seja uma mistura de, segundo suas próprias palavras, desconhecer a maioria dos jogadores, jogar sem esquema nenhum ou variar tanto de esquema a ponto de confundir os adversários, os próprios atletas, a imprensa, a torcida, e a arbitragem, buscando no caos e na confusão mental o caminho das derrotas.

Mas é difícil perder para o Botafogo. Num jogo de gols estranhos no fim de semana, que já começou com um gol do Botafogo, o que por si só já é bem estranho, o Internacional virou num outro gol tão estranho que o árbitro não foi capaz de compreender o que tinha acontecido.

Na tentativa de ao menos compreender que esporte a defesa do Botafogo estava praticando, o lance foi revisado, estudado e apresentado pelo árbitro a uma banca de examinadores para que fosse finalmente interpretado e validado.

Uma pena, já que a partida caminhava para um empate que ajudaria o alvinegro carioca em sua luta contra o desmantelamento total, num esforço das demais equipes que tentam salvar o Glorioso através de empates. Mas o Botafogo, orgulhoso, segue entregando gols aos adversários - o Botafogo não aceita caridade de ninguém.

Isso tudo num ano atípico em que imaginávamos um campeonato sem torcida onde o clube de General Severiano já largaria na frente em termos de adaptação, se sentindo em casa nos estádios vazios em qualquer parte do Brasil.

Destaque da Semana: Paolo Rossi, um dos nomes mais doloridos do futebol

Paolo Rossi, da Itália, com Toninho Cerezo, do Brasil - Mark Leech/Offside/Getty Images - Mark Leech/Offside/Getty Images
Paolo Rossi rumo à destruição dos nossos sonhos
Imagem: Mark Leech/Offside/Getty Images

Enquanto isso, na Itália, o futebol perde um nome que desde 5 de julho de 1982 faz nossos ouvidos doerem. Entretanto, um nome que seguirá lembrado eternamente, especialmente pelos seus feitos nessa Copa, onde eliminar a Seleção Brasileira, aquela Seleção Brasileira, talvez tenha sido o maior deles.

Um nome que dói tanto quanto o uruguaio Alcides Ghiggia em 50 ou mais nomes alemães que conseguimos contabilizar em 2014. Enfim: um nome que compõe nossa extensa sinfonia de tragédias futebolísticas.

E há um motivo pelo qual a Seleção de 82, mesmo derrotada, é uma das mais lembradas e exaltadas, mais que a campeã de 94, por exemplo. O que interessa no futebol não é o simples fato de ganhar ou perder. Se fosse isso bastaria checar os resultados depois dos jogos. O jogo é popular porque é assistido, e é assistido porque é uma narrativa que se desenrola diante dos nossos olhos.

O que interessa, para além de ganhar ou perder, é como se ganha ou como se perde, e é aí que 82 cristalizou-se como um ano eterno. Aquele jogo da vida de Paolo Rossi, que nos destruiu, pode ser visto e revisto incontáveis vezes porque é uma história maravilhosamente contada por 22 atores inspirados - enquanto que a final de 94, contra a mesma Itália, ainda que o desfecho seja a taça na nossa mão e a estrela no nosso peito, é um filme que não sobrevive cinco minutos após seu final. Um filme evitado de tão enfadonho, um filme longo demais, um filme que não é mais que isso: uma taça dourada e uma estrela costurada, que no final das contas são apenas uma taça dourada e uma estrela costurada. Mas Paolo Rossi e 1982 são infinitos.

Essa coluna não reflete nem minhas próprias opiniões. Escrevo enquanto discordo veementemente de minhas próprias palavras.

Craque Daniel é apresentador do Falha de Cobertura, (supostamente) ex-jogador, empresário de atletas e inocentado de todas as acusações feitas contra ele.
(Personagem interpretado por Daniel Furlan, um dos criadores da TV Quase, que exibe na internet o Falha de Cobertura e Choque de Cultura.)